A UNIVERSIDADE PÚBLICA COMO ESPAÇOS DA ELITE
Ingrid Pinheiro
O
ensino público, gratuito e de qualidade é um direito de todos os brasileiros
previsto na constituição, tanto no ensino básico quanto no ensino superior.
Apesar disto, as universidades públicas atuais não conseguem atender a demanda
de alunos, e em virtude disto elaboram provas de conhecimentos como uma forma
de filtrar quem irá conseguir uma vaga, garantindo que o futuro aluno tenha um
mínimo de conhecimentos básicos para poder concluir a graduação. Este sistema,
porém, alimenta uma problemática latente: majoritariamente são os ricos e os de
classe média que tem acesso a esta modalidade de ensino, enquanto a classe mais
pobre é mais uma vez marginalizada.
Esta definitivamente não é uma
problemática recente, conforme apontado do texto de Antônio Martins em 2002, o
qual menciona uma luta do movimento estudantil por uma universidade de caráter
menos elitista desde 1945. Com o advento das universidades particulares que
pipocaram a partir do começo do século XX, parte da demanda que não conseguiu
ingressar no ensino superior público acaba optando pelo ensino privado. Ainda
assim, ao contrário do senso comum, não são os menos favorecidos que ocupam
estas vagas também.
É necessário pontuar que o principal
fator para esta desigualdade de oportunidades de acesso à universidade pública,
além da falta de infraestrutura para atender a demanda, é a má qualidade do
ensino básico brasileiro. Devido à falta de investimento no governo na educação
básica, esta encontra-se em um triste quadro de abandono, onde há problemas desde
a infraestrutura dos estabelecimentos até aos profissionais de ensino, que
devido as péssimas condições de trabalho e a desvalorização profissional,
quando não largam a profissão, trabalham completamente desmotivados. Com estas
condições, não é de se estranhar que os alunos egressos deste sistema tenham
dificuldade em competir pelas vagas nas universidades públicas.
Por outro lado, as escolas de ensino
básico privadas estão na direção contrária. Como as vagas no ensino superior
público são escassas perante a demanda, “ganha” o colégio que obtém o maior
número de alunos aprovados, que posteriormente aumentará seu lucro a partir das
novas matrículas feitas por pais que querem ver o nome de seus filhos entre
estes aprovados. Desse modo, as escolas particulares investem pesado na
aprovação de seus alunos desde a infância. Não somente os alunos são atolados
de conteúdos que podem cair na prova como também são treinados a como fazer as
provas desde o fundamental I. Além do ensino básico particular, estes pais costumam
investir muito em cursinhos preparatórios, intensivos e simulados, na tentativa
de garantir a aprovação de seus filhos.
Analisando os dois lados desta moeda,
como podemos esperar que o egresso do sistema público, que muitas vezes passou
meses sem o professor de uma ou mais matérias, possa competir de forma
igualitária com o aluno que passou anos a fio sendo treinado para esta prova?
Não podemos. E o resultado disto é o que vemos hoje: 7,2% dos estudantes de
universidades públicas provém da classe mais pobre, enquanto 38% estão na
classe mais abastada e os demais na classe média (dados do SIS – Síntese de
Índices Sociais de 2014). Não há igualdade de oportunidades no sistema atual e
com toda certeza não há igualdade de acesso.
A pergunta mais importante que fica de
toda esta discussão é: como podemos mudar isso? A solução não é simples e nem
existe uma fórmula mágica. É necessário reestruturar e desenvolver o ensino
básico público de qualidade, tornando-o equiparável ao ensino particular. Além
desta medida a longo prazo, também é necessário filtrar melhor o acesso ao
ensino público, de modo que haja um ingresso prioritário daqueles alunos de
baixa renda. Neste ponto, podemos ver uma pequena luz no fim do túnel a partir
da instituição de cotas de acesso as universidades, que desde sua
regulamentação através de lei em 2012 vem aumentando o ingresso e permanência
da classe menos abastada nesta modalidade de ensino. Não é simples e não é
fácil, mas continuaremos na luta por uma universidade menos elitista hoje e por
todo o nosso futuro.
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