sexta-feira, 2 de novembro de 2018


A UNIVERSIDADE PÚBLICA COMO ESPAÇOS DA ELITE


Ingrid Pinheiro
        
        O ensino público, gratuito e de qualidade é um direito de todos os brasileiros previsto na constituição, tanto no ensino básico quanto no ensino superior. Apesar disto, as universidades públicas atuais não conseguem atender a demanda de alunos, e em virtude disto elaboram provas de conhecimentos como uma forma de filtrar quem irá conseguir uma vaga, garantindo que o futuro aluno tenha um mínimo de conhecimentos básicos para poder concluir a graduação. Este sistema, porém, alimenta uma problemática latente: majoritariamente são os ricos e os de classe média que tem acesso a esta modalidade de ensino, enquanto a classe mais pobre é mais uma vez marginalizada.
         Esta definitivamente não é uma problemática recente, conforme apontado do texto de Antônio Martins em 2002, o qual menciona uma luta do movimento estudantil por uma universidade de caráter menos elitista desde 1945. Com o advento das universidades particulares que pipocaram a partir do começo do século XX, parte da demanda que não conseguiu ingressar no ensino superior público acaba optando pelo ensino privado. Ainda assim, ao contrário do senso comum, não são os menos favorecidos que ocupam estas vagas também.
         É necessário pontuar que o principal fator para esta desigualdade de oportunidades de acesso à universidade pública, além da falta de infraestrutura para atender a demanda, é a má qualidade do ensino básico brasileiro. Devido à falta de investimento no governo na educação básica, esta encontra-se em um triste quadro de abandono, onde há problemas desde a infraestrutura dos estabelecimentos até aos profissionais de ensino, que devido as péssimas condições de trabalho e a desvalorização profissional, quando não largam a profissão, trabalham completamente desmotivados. Com estas condições, não é de se estranhar que os alunos egressos deste sistema tenham dificuldade em competir pelas vagas nas universidades públicas.
         Por outro lado, as escolas de ensino básico privadas estão na direção contrária. Como as vagas no ensino superior público são escassas perante a demanda, “ganha” o colégio que obtém o maior número de alunos aprovados, que posteriormente aumentará seu lucro a partir das novas matrículas feitas por pais que querem ver o nome de seus filhos entre estes aprovados. Desse modo, as escolas particulares investem pesado na aprovação de seus alunos desde a infância. Não somente os alunos são atolados de conteúdos que podem cair na prova como também são treinados a como fazer as provas desde o fundamental I. Além do ensino básico particular, estes pais costumam investir muito em cursinhos preparatórios, intensivos e simulados, na tentativa de garantir a aprovação de seus filhos.
         Analisando os dois lados desta moeda, como podemos esperar que o egresso do sistema público, que muitas vezes passou meses sem o professor de uma ou mais matérias, possa competir de forma igualitária com o aluno que passou anos a fio sendo treinado para esta prova? Não podemos. E o resultado disto é o que vemos hoje: 7,2% dos estudantes de universidades públicas provém da classe mais pobre, enquanto 38% estão na classe mais abastada e os demais na classe média (dados do SIS – Síntese de Índices Sociais de 2014). Não há igualdade de oportunidades no sistema atual e com toda certeza não há igualdade de acesso.
         A pergunta mais importante que fica de toda esta discussão é: como podemos mudar isso? A solução não é simples e nem existe uma fórmula mágica. É necessário reestruturar e desenvolver o ensino básico público de qualidade, tornando-o equiparável ao ensino particular. Além desta medida a longo prazo, também é necessário filtrar melhor o acesso ao ensino público, de modo que haja um ingresso prioritário daqueles alunos de baixa renda. Neste ponto, podemos ver uma pequena luz no fim do túnel a partir da instituição de cotas de acesso as universidades, que desde sua regulamentação através de lei em 2012 vem aumentando o ingresso e permanência da classe menos abastada nesta modalidade de ensino. Não é simples e não é fácil, mas continuaremos na luta por uma universidade menos elitista hoje e por todo o nosso futuro.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

A CULTURA NA EDUCAÇÃO: CONSTRUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE                                                                    ...