sexta-feira, 2 de novembro de 2018

A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA PARA A EDUCAÇÃO



 Diego Wenceslau

         O objetivo desse artigo é explicitar a importância da filosofia na educação. Isto se faz necessário, pois com a reforma da educação brasileira matérias importantes como a filosofia foram “flexibilizadas” e de certa maneira perderam parte de sua importância e relevância nas escolas.
        De certa forma a filosofia ocidental, como a conhecemos, foi inaugurada por filósofos gregos como Sócrates, Aristóteles, Platão e outros. Estes pensadores acreditavam que é preciso encontrar a explicação da realidade do mundo nele mesmo e não na religião ou na mitologia e questionavam a validade do pensamento mítico, para eles o primeiro compromisso imposto pelo exercício do conhecimento é com a verdade. A filosofia grega buscava superação racional da mítica afirmando a condição do homem como fundada numa essência imutável e eterna, perfeita em si mesma, mas comprometida com seu vínculo com a matéria. A filosofia tinha como esforço buscar conhecer todos os objetos do mundo e, além disso, conhecer também a natureza humana pois era em função do conhecimento da natureza humana é podíamos avaliar a procedência do comportamento humano.
       Deste modo, a filosofia surgida como tentativa de explicar racionalmente todos os aspectos da realidade nasce simultaneamente como proposta de educação dos homens, pois o filósofo sente a necessidade de compartilhar suas descobertas, reflexões ou críticas. Assim, a filosofia nasce intimamente articulada com a pedagogia, deste modo ela é uma Paidéia, ou seja, é uma proposta de acordo com a qual nós deveríamos estar usando nossa capacidade de convencimento para a educação do indivíduo ao longo da sua existência.
       Os predecessores de Sócrates, conhecidos como pré-socráticos, são os primeiros a questionar a validade do pensamento mítico. Assim, com os poucos recursos científicos que eles dispunham naquele momento, eles conseguem unificar a experiência humana atribuindo a um determinado elemento físico a responsabilidade pela natureza de todos os objetos. Todos os seres e objetos têm uma arché, ou seja, o elemento constitutivo básico do qual a totalidade do universo seria constituída, sendo assim um princípio originário seja a água, o fogo, o ar ou a terra, mas o importante mesmo é o princípio ordenador da multiplicidade da experiência. Entre os pré-socráticos estavam os sofistas, este grupo de filósofos teve o mérito de reconhecer a importância dos sujeitos humanos, pois para eles o homem é a medida de todas as coisas, mas enviesaram esse princípio ao defenderem que isso legitimaria o homem a buscar apenas seus interesses particulares, Sócrates em oposição a esta visão acreditava que é necessário que se leve em consideração o interesse comum de todos e as referências universais que são dadas pelo conhecimento, ele defende que o nosso compromisso deve ser com a verdade e não com a mera utilidade pragmática, para ele devemos conhecer o bem e a verdade e com base nela agir de forma justa.
     Nesse sentido, Sócrates enxerga nos sofistas um pragmatismo exacerbado e a busca de um conhecimento calculista para as finalidades políticas daquela época e vai propor o uso do conhecimento compromissado exclusivamente com a busca da verdade, assim, com Sócrates, a filosofia torna-se literalmente uma pedagogia na formação da juventude, na formação dos espíritos para o exercício do conhecimento, a posição de Sócrates é conhecida como sendo a de um intelectualismo moral, ou seja, com base no conhecimento racional e sistemático é que podemos encontrar as diretrizes para o comportamento humano, ético, político... Nesse sentido, Sócrates desenvolve uma pedagogia da inteligência partindo da ideia que todos os indivíduos, até os mais simples, trazem dentro de si todo o potencial desse conhecimento, faz uma proposta de uma maiêutica, ou seja, da arte em que o educador na medida em que vai interrogando de maneira adequada o seu discípulo, seu discípulo vai conseguindo encontrar em si mesmo as razões, as explicações e as verdades. Por este motivo Sócrates foi condenado pela sociedade ateniense exatamente por estar propondo uma educação revolucionária da juventude que ia contra as propostas e as ideologias vigentes que decorriam da mentalidade mítica que ainda resistia ao avanço da cultura grega naquele momento.
     Dessa maneira, é certo que atualmente não pensamos mais em termos de essência, mas o papel da filosofia continua sendo o mesmo que é de questionar e procurar seu significado e significados. Sé é verdade que não mais explicamos as coisas e o homem pela perspectiva grega, continuamos enfrentando os mesmos problemas enfrentados por esses primeiros filósofos, continuamos buscando respostas para eles até os dias atuais, por exemplo: somos mesmo capazes de conhecer a verdade? Como organizar a sociedade para que possamos viver dignamente? Quais são os nossos principais problemas? Qual é o sentido da vida? As respostas filosóficas formuladas pelo homem ao decorrer da história mudam bastante, mas as questões  que as fizeram surgir permanecem. Por fim, a educação continua com o mesmo desafio que é levar o homem, a partir da sua experiência, a encontrar os caminhos mais adequados da sua existência, de forma que possa ter uma existência melhor se realizando e se tornando mais feliz.

A UNIVERSIDADE PÚBLICA COMO ESPAÇOS DA ELITE


Ingrid Pinheiro
        
        O ensino público, gratuito e de qualidade é um direito de todos os brasileiros previsto na constituição, tanto no ensino básico quanto no ensino superior. Apesar disto, as universidades públicas atuais não conseguem atender a demanda de alunos, e em virtude disto elaboram provas de conhecimentos como uma forma de filtrar quem irá conseguir uma vaga, garantindo que o futuro aluno tenha um mínimo de conhecimentos básicos para poder concluir a graduação. Este sistema, porém, alimenta uma problemática latente: majoritariamente são os ricos e os de classe média que tem acesso a esta modalidade de ensino, enquanto a classe mais pobre é mais uma vez marginalizada.
         Esta definitivamente não é uma problemática recente, conforme apontado do texto de Antônio Martins em 2002, o qual menciona uma luta do movimento estudantil por uma universidade de caráter menos elitista desde 1945. Com o advento das universidades particulares que pipocaram a partir do começo do século XX, parte da demanda que não conseguiu ingressar no ensino superior público acaba optando pelo ensino privado. Ainda assim, ao contrário do senso comum, não são os menos favorecidos que ocupam estas vagas também.
         É necessário pontuar que o principal fator para esta desigualdade de oportunidades de acesso à universidade pública, além da falta de infraestrutura para atender a demanda, é a má qualidade do ensino básico brasileiro. Devido à falta de investimento no governo na educação básica, esta encontra-se em um triste quadro de abandono, onde há problemas desde a infraestrutura dos estabelecimentos até aos profissionais de ensino, que devido as péssimas condições de trabalho e a desvalorização profissional, quando não largam a profissão, trabalham completamente desmotivados. Com estas condições, não é de se estranhar que os alunos egressos deste sistema tenham dificuldade em competir pelas vagas nas universidades públicas.
         Por outro lado, as escolas de ensino básico privadas estão na direção contrária. Como as vagas no ensino superior público são escassas perante a demanda, “ganha” o colégio que obtém o maior número de alunos aprovados, que posteriormente aumentará seu lucro a partir das novas matrículas feitas por pais que querem ver o nome de seus filhos entre estes aprovados. Desse modo, as escolas particulares investem pesado na aprovação de seus alunos desde a infância. Não somente os alunos são atolados de conteúdos que podem cair na prova como também são treinados a como fazer as provas desde o fundamental I. Além do ensino básico particular, estes pais costumam investir muito em cursinhos preparatórios, intensivos e simulados, na tentativa de garantir a aprovação de seus filhos.
         Analisando os dois lados desta moeda, como podemos esperar que o egresso do sistema público, que muitas vezes passou meses sem o professor de uma ou mais matérias, possa competir de forma igualitária com o aluno que passou anos a fio sendo treinado para esta prova? Não podemos. E o resultado disto é o que vemos hoje: 7,2% dos estudantes de universidades públicas provém da classe mais pobre, enquanto 38% estão na classe mais abastada e os demais na classe média (dados do SIS – Síntese de Índices Sociais de 2014). Não há igualdade de oportunidades no sistema atual e com toda certeza não há igualdade de acesso.
         A pergunta mais importante que fica de toda esta discussão é: como podemos mudar isso? A solução não é simples e nem existe uma fórmula mágica. É necessário reestruturar e desenvolver o ensino básico público de qualidade, tornando-o equiparável ao ensino particular. Além desta medida a longo prazo, também é necessário filtrar melhor o acesso ao ensino público, de modo que haja um ingresso prioritário daqueles alunos de baixa renda. Neste ponto, podemos ver uma pequena luz no fim do túnel a partir da instituição de cotas de acesso as universidades, que desde sua regulamentação através de lei em 2012 vem aumentando o ingresso e permanência da classe menos abastada nesta modalidade de ensino. Não é simples e não é fácil, mas continuaremos na luta por uma universidade menos elitista hoje e por todo o nosso futuro.



DIFICULDADE DE ACESSO À INFORMAÇÕES DENTRO DE ESPAÇOS PÚBLICOS  


                                                                Crislane Kelly Dos Santos Pinheiro

O acesso à informação é um direito fundamental em uma sociedade democrática. Em um ambiente universitário não poderia ser diferente. Mesmo assim, é possível ver situações nas quais os alunos universitários, principalmente os recém-chegados e chamados calouros, ficam a padecer sem conhecimentos primordiais para este novo ambiente. A ideia do pleno direito à informação é a de desconstruir a lógica que vigorou por tanto tempo, como durante o regime militar no Brasil. Ou seja, buscar atuar na ideia de que tudo deve ser público e publicizado, até que se diga o contrário. Com o intuito de fortalecer essa ideia, foi criada em 2012 a Lei de Acesso à Informação.
Dentro das universidades os centros acadêmicos são instrumentos essenciais de convivência cultural entre os alunos e desempenha papéis importantes para a vida e formação dos universitários. Dos papéis desempenhados pelos centros acadêmicos, um deles é oferecer o acesso dos estudantes às informações relacionadas ao ambiente universitário, não só oferecer sociais e festinhas.
Por isso, deve ser cobrado de seus centros acadêmicos e das Secretarias de Administração Acadêmica divulgação sobre o meio acadêmico. Um pequeno exemplo que posso dar é o meu. Sou estudante do curso de Letras e não sabia que deveria me encaminhar ao SAA (Secretaria de Administração Acadêmica) para fazer a opção entre licenciatura ou bacharelado. Por sorte, consegui fazer a escolha a tempo, soube por um boato aqui e outro ali. Nenhuma informação foi dada a mim. Outro grande exemplo é a formação da grade de matrícula nas disciplinas no Matrícula Web, conhecimento pouco divulgado sobre como funciona. É normal sentir-se perdido no início do curso, mas continuar sentir-se desta maneira passando mais da metade dele continua sendo normal?
Muito tem se falado de uma Universidade mais humanizada, mas o que de fato elas fazem para que esse universo de TCC, artigos e seminários torne um espaço mais humano e agradável para viver uns quatro anos ou mais? O acesso à informação é ,de fato, um dos principais antídotos contra a corrupção, e já se mostrou útil. O direito de acesso provém da ideia básica de que estamos em uma democracia e é dever do Estado facilitar o acesso à estas informações. É obrigação da Universidade ser mais humana, ser mais compreensível, ser mais acessível.
Na própria estrutura administrativa e acadêmica da Universidade de Brasília possui nos princípios da gestão, inciso X, o seguinte: “compromisso com a democratização da educação no que concerne à gestão, à igualdade de oportunidade de acesso, e com a socialização de seus benefícios”. Democratizar é torná-la acessível e transparente. O acesso à informação gera democracia.
 O direito à informação está inscrito no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Organização das Nações Unidas (ONU). uma lei de acesso à informação pública tem como consequência maior efetividade e eficácia das políticas públicas e, consequentemente, da educação pública. O público não é tão público assim, mas deveria ser. O transparente continua um pouco opaco. Mas com ações promovidas pelas próprias Universidades é possível ver a diferença em pouco tempo.
A Universidade de Brasília tem se aprimorado no site boasvindas.unb.br que, dentre tantas informações, auxiliam os alunos oferecendo passo a passo o realizar de atividades como matrícula nas disciplinas, registro acadêmico, auxilio estudantil e outros. Pouco a pouco a educação se adapta ao mundo de acesso à informação e assim, teremos mias democracia.


sábado, 27 de outubro de 2018

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL - PAPEL DE UM ORIENTADOR E SUA ATUAÇÃO NAS ESCOLAS BRASILEIRAS 
                                        

              Mariane C. S. Costa

O conceito de orientação significa “o que guia a ação de alguém; direção, rumo, destino”. Dentro da Pedagogia, a orientação é uma questão tão importante que se configura como uma área específica, denominada de “Orientação Educacional”. Mas o conceito de Orientação Educacional, diferentemente do conceito de orientação já exposto acima, se modificou ao longo do percurso histórico da educação brasileira.
O contexto que permitiu o surgimento da Orientação Educacional retoma ao período em que se desencadeou a revolução industrial, como explica o documento “Orientação Pedagógica – Serviço de Orientação Educacional”, elaborado pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal em 2010:
A partir da Revolução Industrial, o contexto social mudou em atendimento às necessidades da indústria, desencadeando mudança de comportamentos, de hábitos e de valores na sociedade como um todo, além de alterações concretas nas formas de trabalho; transformações essas que passaram a ser consideradas no ambiente escolar.

No Brasil, o contexto em que surgiu o Serviço de Orientação Educacional é similar, como explica Farias (1990):
Portanto, com o novo estágio de desenvolvimento do sistema capitalista, em nosso país, os problemas relacionados às necessidades de formação de mão-de-obra e à aceleração do processo de urbanização tornaram necessária a criação de um sistema de educação elementar capaz de atender às novas exigências que diziam respeito à formação de mão-de-obra e capaz de incorporar os novos grupos ao projeto das classes dominantes. (p. 81).

 No Brasil, diante todas essas mudanças, políticos e educadores recomendaram uma revisão no sistema educacional, a fim de adequá-lo às demandas que o novo modelo de sociedade impunha. Foi recomendado pelos educadores liberais que o ensino deveria se tornar democrático, por entenderem que o mesmo era um direito inalienável de todo cidadão, já que o ensino se configura como um instrumento indispensável à realização humana e à construção de uma sociedade democrática (FARIAS, 1990, p. 80).
Desde o início do século XX as empresas ferroviárias do país mantinham suas próprias escolas destinadas à formação dos seus trabalhadores para desempenhar certas atividades dentro da empresa. Porém as práticas de ensino eram assistemáticas, o que significa que os operários aprendiam imitando uma ação que o instrutor demonstrava (CUNHA, 2000, p. 96). A mudança nesse cenário da educação profissional é explicada por Cunha (2000):
A iniciativa pioneira de aprendizagem sistemática teve início em 1924, com a criação da Escola Profissional Mecânica no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. O ensino de ofícios visado pelo acordo apresentava duas inovações que vieram a ser difundidas posteriormente: a utilização das séries metódicas e a aplicação de testes psicotécnicos para seleção e orientação dos candidatos aos diversos cursos. (p. 96-97)

Foi por meio do professor e engenheiro Roberto Mange, que participou da criação da Escola Profissional Mecânica, que apareceram os primeiros sinais da Orientação Educacional no Brasil, ainda na forma de Orientação Profissional. Nesse cenário, Farias (1990) explana sobre o papel importante da OE na tarefa de cumprir, reforçar, a proposta ingênua de distribuição dos homens na sociedade, segundo seus dons inatos, adequados a outros países industrializados, em sociedades capitalistas avançadas e do instrumento que a educação poderia servir para tais.

A Orientação Educacional foi inserida no sistema escolar Brasileiro da forma como Maia & Garcia (1984) disseram:
[...] apoiada num referencial basicamente psicológico, reforçaria a ideologia das aptidões naturais: a cada um o seu lugar, de acordo com suas capacidades, seu esforço e sua responsabilidade. A escola, espaço neutro na sociedade, ofereceria oportunidades iguais para todos. O papel do Orientador Educacional, ‘profissional da neutralidade’, seria o desvelamento das aptidões que o indivíduo possui naturalmente, independente de sua condição de classe. (p. 14)

De acordo com Grinspun (2006, p. 21) “[...] em educare temos o guiar, nortear, orientar os indivíduos; e em educere, o buscar as potencialidades do indivíduo, no sentido de fazê-las vir de ‘ dentro para fora’. Identifica-se dessa forma uma estreita relação da Orientação com a educação trazendo à tona a visão de que a orientação tinha um cunho vocacional de acordo com os vocábulos latinos.
Apesar da concepção inicial de Orientação no Brasil ser de cunho psicológico, terapêutico e corretivo, essa profissão nasceu principalmente de acordo instabilidade econômica que o país passava, o que influenciou diretamente no campo educacional e o Orientador passou a ser visto como um conselheiro, de acordo com a influência da orientação americana onde havia um serviço de Orientação dita Vocacional, porque a proposta era orientar alunos para a área que o mesmo escolheria para a inserção no mercado de  trabalho, ou seja, a preocupação não era o desenvolvimento do aluno mas sim sua formação profissional; anos mais tarde, no Brasil, as Leis Orgânicas de ensino foram criadas, também, para dar definição a cada área de ensino e suas diversas atribuições.

Dentro de uma escola as diferenças socioculturais são nítidas de acordo com a realidade pessoal de cada um dos estudantes e é necessário que a instituição não valorize apenas um padrão cultural, transformando a diferença em deficiência. O fracasso escolar está ligado ao acesso (ou não) à escola, repetência, aquisição insuficiente do conhecimento proposto pelo(a) professor(a), o acompanhamento familiar na vida escolar do educando, a realidade familiar (emocional, econômica e estrutural) no que diz respeito à composição familiar e comunidade onde o indivíduo reside.
De acordo com PASCOAL et al. (2008, p. 109) “Como partícipe da equipe de gestão, a orientação educacional pode se desenvolver em cinco áreas: o aluno, a escola, a família, a comunidade e a sociedade. ” Portanto, cabe ao serviço de Orientação Educacional, juntamente com professores, coordenação e direção, estruturar esses agentes em torno de um espaço adequado onde o conhecimento seja proposto e adquirido pelo educando, e qualquer vulnerabilidade seja transposta para que o mesmo tenha êxito em suas metas.
         O orientador é uma peça importante em todas as etapas e modalidades, desde a educação infantil até escolas de ensino especial. Então é fundamental que aconteça uma ação de reconhecimento do meio onde este atuará. A função principal do orientador é perceber as dificuldades do estudante e atuar de forma a favorecer o melhor desempenho dele na escola, levando em consideração como é o estudante em sala, a rotina dele, relação com a família, entre outros aspectos e assim achar a melhor solução para cada aluno individualmente. O número de estudantes também é um fator decisivo para que o orientador faça um bom trabalho. Dependendo da quantidade de alunos, uma escola pode precisar de mais de um orientador para que ele não fique sobrecarregado, mas essa é uma exigência que nem sempre é cumprida e o profissional acaba trabalhando apenas para "apagar incêndios" (resolvendo problemas urgentes).
Estratégias para que esse profissional possua uma atuação de qualidade é essencial, pois a sua atuação influencia nas dimensões sociais, culturais, políticas e econômicas de forma geral, da instituição de ensino que esse trabalha, na vida dos educandos, fatalmente na família do aluno, principalmente quando, muitas vezes, quando o ambiente escolar é tido, pelos alunos e familiares, como um abrigo, como um serviço de acolhimento. É necessário definir ações a serem desenvolvidas na escola pelo orientador educacional, juntamente com o corpo docente, para que o mesmo não fique sobrecarregado, para que talvez adaptações ou qualquer tipo de ajuda seja provida afim de auxiliar da melhor forma os alunos que necessitarem de ajuda. O principal papel da orientação é ajudar na formação da cidadania do educando, e o da escola é a organização e a realização de seu projeto político pedagógico, mas não se restringe apenas a essas atividades.

REFERÊNCIAS

CUNHA, Luiz Antonio. O ensino industrial-manufatureiro no Brasil In: Revista Brasileira de Educação. Mai/Jun/Jul/Ago 2000 Nº 14. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-24782000000200006&script=sci_abstract&tlng=pt
DISTRITO FEDERAL. Secretaria de Estado de Educação. Orientação Pedagógica – Serviço de Orientação Educacional. Distrito Federal, 2010. 38 p.
FARIAS, Itamar Mazza. A Orientação Educacional, seus pressupostos e sua evolução no sistema escolar Brasileiro. In: Educação e Filosofia. v. 5, n. 9, p. 79-95, 1990. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/1231.
GRINSPUN, Mírian P.S.Z. A Orientação Educacional: conflito de paradigmas e alternativas para a escola. São Paulo: Cortez, 2006
PASCOAL, M.; HONORATO, E. C.; ALBUQUERQUE, F. A. O Orientador Educacional no Brasil. In: Educação em Revista. n. 47, p. 101-120, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982008000100006

domingo, 14 de outubro de 2018


A DESVALORIZAÇÃO DOS PROFESSORES NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES NA LICENCIATURA


                                                                                  Isabela Giovana Gomes

Historicamente o Brasil sempre teve dificuldades para desenvolver seu sistema educacional, isso se deve a fatores políticos, sociais e de gestão. Em uma entrevista à rádio novo tempo, quando questionado à respeito da desvalorização da educação brasileira o ex-ministro da educação Cristovam Buarque apontou como motivo dessa desvalorização a questão cultural, onde uma pessoa é respeitada não por ser culta e sim por seus bens materiais.

"Nós somos um país dividido em dois e resolvemos serviços dos ricos; transporte, saúde, moradia e educação também. A gente cuida da educação da parcela rica, por isso que as universidades são federais e as escolas de base não." (BUARQUE, 2012, Rádio novo tempo). 

Essa política elitista é muito presenciada até os anos 50, que tem como característica um modelo escolar voltado para a reflexão e formação de novos pensadores, papel cumprido atualmente por poucas escolas, que na maioria das vezes é pertencente à iniciativa privada. Atualmente, com o avanço do desenvolvimento tecnológico a função da escola vem sendo modificada, atrela-se a essa nova função a formação de novos profissionais para o mercado de trabalho para que seja suprida a necessidade deste setor.

"Eu chamo de escola fábrica de pessoas para o mercado e escola fábrica porque também é uma escola que produz com muita rapidez numa linha de montagem esse conhecimento que ela quer administrar" (MOSÉ, 2015, Café filosófico).  

Diante dessa conjuntura o professor é quem mais sofre desvalorização, a profissão que tem como papel passar adiante o conhecimento e despertar curiosidade nos alunos não recebe o enaltecimento merecido, uma carreira que possui circunstâncias cuja precariedade se sobrepõe. As condições de trabalho são adversas, falta material, estrutura e investimento, o professor recebe relativamente pouco para os padrões de vida de seus respectivos estados, enfrenta problemas socias da comunidade onde trabalha e muitas vezes é submetido a situações de risco. Nos últimos anos a procura por cursos de licenciatura nas universidades vem diminuindo de forma alarmante por conta do desprestigio com a profissão.
Alunos que procuram seguir carreira docente costumam alegar que mesmo existindo problemas na educação, a vocação para ensinar é uma das motivações para continuar na licenciatura. "Não tem como atrair os melhores jovens de um país para serem professores sem um bom salário. Não basta um bom salário para ter um bom professor.” (BUARQUE, 2012, Rádio novo tempo). Para Cristovam Buarque a solução se dá com um critério de seleção que leva em conta a vocação do candidato. Para discentes que querem ser professores entrar nessa área possibilita mesmo que remotamente mudar esse modelo escolar, contribuir para o despertar do pensamento crítico e do anseio por conhecimento em crianças, jovens e adultos para que a educação se torne menos reprodutivista.

Referências
Por que a educação brasileira é desvalorizada?. Rádio novo tempo, 2012.
MOSÉ, V. Os problemas da educação brasileira. Café filosófico, 2015.
LIBÂNEO, J.C e PIMENTA, S.G. Formação de profissionais da educação: visão crítica e perspectiva de mudança, 1999.


OS IMPACTOS DAS DIFERENÇAS DE CAPITAL CULTURAL ENTRE ESTUDANTES


                                                                               Larissa Alves de Almeida

            Em consonância com os diálogos durante a realização da disciplina de Organização da Educação Brasileira – OEB, ofertada pela Faculdade de Educação, na Universidade de Brasília, bem como com os diálogos e intervenções dos alunos junto à professora Andrea Vieira, chegou-se à conclusão de que o tema referido seria oportuno. Depoimentos dos colegas incentivaram e propiciaram as discussões e reflexões sobre temas que hoje são problemáticos em face da educação brasileira.
       Após inúmeros debates e reflexões a respeito da educação brasileira e seus problemas (em maior quantidade que suas qualidades), principalmente em relação a mazelas políticas e legais, após seminários em que grupos foram divididos e oportunizada a reflexão, por fim, reunidos percebeu-se que era interessante a reflexão sobre o tema referente às desigualdades sociais entre os estudantes. Isso se dá, principalmente, em relação aos alunos de escolas públicas, uma vez que são diretamente vinculados às ações e políticas estatais, sofrendo com decisões de cunho estratégico social que parte dos governantes. Estudantes de escolas particulares, por sua vez, são reflexo da economia privada e empresarial, que predomina nas economias neoliberais, por exemplo. Empresas ditam regras e coordenam o país, pois se considera o Capital Mundial, maior determinante das decisões políticas hoje.
          A diferença social entre estudantes de escolas públicas e privadas é mais expressiva quando um e outro ingressam na Universidade Pública, hoje ainda reconhecida e cobiçada por seus alunos, pela altíssima qualidade de seus professores e ampla alternativa de disciplinas, conhecimento e possibilidade de desenvolvimento. Durante os debates na disciplina, houve diversos depoimentos de colegas, uns vindos de escolas públicas, outros de escolas privadas. Notou-se o abismo entre o ensino e as dificuldades encontradas na Universidade Pública – no caso, na Universidade de Brasília.
        É notório que o choque social, principalmente no que diz respeito ao capital cultural, atinge todos os estudantes ao ingressarem na Universidade. Os provenientes de escolas públicas sofrem enfrentamento e dificuldades de inserção. Em certa ocasião, ouviu-se durante a aula a frase: “Quando entrei, encontrei colegas que sabiam falar inglês, francês, alemão, enquanto eu mal sabia o português”. Alunos que conseguem acesso à Universidade Pública, advindos de escolas públicas, estudam e cursam disciplinas juntamente a estudantes de classes sociais mais altas, percebendo claramente a diferença na educação e no conhecimento. Tudo isso em razão do que chamamos oportunidade.
          Libâneo (2012, p. 17) bem destaca o impasse entre a educação pública e a privada. Entende ser um conhecimento para os ricos, e acolhimento para os pobres. Defende que não se deve manter uma escola assentada no conhecimento, domínio dos conteúdos, mas sim uma escola que valorizará formas de organização das relações humanas, em que prevaleçam a integração social, convivência, compartilhamento, solidariedade.
       O autor (2012, p. 21) entende, também, que “[...] o insucesso da escola pública deve-se ao fato de ela ser tradicional, estar baseada no conteúdo, ser autoritária e, com isso, constituir-se como uma escola que reprova, exclui os mal-sucedidos, discrimina os pobres [...]”, além de levar ao abandono da escola, provocando violenta resistência dos alunos. É o retrato da escola que sobrou aos pobres, com missões acolhedoras e assistenciais, precipuamente, transformada na caricatura de inclusão social, prejudicando, por sua vez, a qualidade do ensino (Idem, p. 23).
       É preciso refletir e contestar os modelos educacionais tradicionais do Brasil, que tanto prejudicam e afastam os jovens, degradando o modelo de educação. O investimento é precário e suas políticas são defasadas, objetivando apenas suprir faltas na educação pública, sem refletir e repensar o modelo de aprendizagem. A marginalidade e a violência crescem, ocasionando um afastamento do indivíduo da escola. Como podemos notar em Penin e Vieira (p. 28), é necessário aprender a ser, contribuindo para o desenvolvimento total da pessoa em sua inteligência, sensibilidade, responsabilidade pessoal, espiritualidade. Isso deve ser para todos os estudantes, todos os alunos, em todas as camadas sociais.

REFERÊNCIAS
LIBÂNEO, José Carlos. O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social para os pobres. São Paulo: Educação e Pesquisa, v. 38, n. 1, p. 13-28, 2012.
PENIN, Sonia T. Sousa e VIEIRA, Sofia Lerche. Refletindo sobre a função social da escola. S/d.








A DEMOCRATIZAÇÃO DO ESINO SUPERIOR E A LUTA POR UMA EDUCAÇÃO MAIS IGUALITÁRIA


                                                                 Carlos Diego dos Anjos da Silva

A desigualdade na educação é um dos aspectos que permeia a sociedade brasileira. Questões como financiamento, gestão e distribuição de vagas de ensino primário refletem, obviamente, no ensino superior. As Universidades públicas, que deveriam ser um espaço de oportunidades para a parcela menos favorecida em termos econômicos, continua ainda a ser um lugar em que predominam as elites e grupos homogêneos. Tem-se, neste trabalho, a percepção de que há toda uma estrutura que dificulta e até mesmo impossibilita a democratização e a pluralização dos espaços acadêmicos superiores. Pode-se perceber na própria Constituição Federal, o fortalecimento e a predisposição do Estado brasileiro de se omitir e dificultar o acesso de uma grande parcela da sociedade ao Ensino Superior gratuito. Pois a própria Constituição defende, no artigo 208, que a meritocracia seria o necessário para conseguir o acesso ao ensino superior (BRASIL, 1988).
No entanto, adotamos aqui a postura de que o acesso ao ensino superior não deveria ser tratado como uma questão de meritocracia, pois compreende-se que muitas vezes não há equidade entre ricos e pobres, uma vez que aqueles, por seu prestígio social, cultural e financeiro possuem uma infinidade maior de chances de chegarem mais bem preparados para disputar uma vaga de ensino superior, enquanto a parcela mais pobre da população, que depende prioritariamente de um investimento por parte do estado nos níveis iniciais de educação, não encontram tal apoio e tal aparato. Não devemos falar em meritocracia se sabemos que as desigualdades sociais apontam para a dificuldade dos estudantes se inserirem no Ensino superior gratuito, pois há uma série de fatores, como aponta François Dubet (2005) em seu artigo sobre a democratização do ensino, que interferem na entrada da parcela mais pobre da sociedade nas instituições de ensino superior público:
De fato, o acesso ao ensino superior é condicionado pelo sucesso acadêmico dos alunos no ensino primário e secundário e todos os sociólogos sabem que esse sucesso depende do capital econômico das famílias. Na verdade, até mesmo nos países onde o peso das desigualdades econômicas foi reduzido, as desigualdades dos capitais culturais determinam muito mais as desigualdades escolares. (DUBET, 2005, pg. 257)

Compreende-se também neste artigo que não só a entrada, mas também a manutenção da parcela menos favorecida no ensino superior é algo de extrema relevância mas algo pouco discutido ainda. Visto que muitos estudantes não têm como se manter em universidades por terem que trabalhar e ajudar ou até mesmo sustentar seus lares, como bem observam Vargas e Costa de Paula (2012):
Entre a intenção de um estudante que pretende ingressar na educação superior e seu efetivo ingresso, encontramos um importante obstáculo a transpor, relacionado à situação de trabalho. Por vezes o trabalho dificulta a escolarização, por vezes a ausência de trabalho impede a escolarização. Essa situação, em verdade, traduz a evidência das incompatibilidades entre estudo e trabalho, ou seja, a possibilidade ou não de uma escolaridade longa, segundo a relação do estudante com o trabalho. (VARGAS; COSTA de PAULA, 2012, pg. 465)
Acreditamos que mesmo diante de tal quadro de desigualdade há ainda passos a serem dados e decisões que podem ser tomadas para melhorar o quadro atual de desigualdade de acessos às universidades públicas. Um desses passos é a união das classes sociais na reivindicação do cumprimento das leis destinadas à educação básica, que prepara para o ensino superior, pois compreendemos que, historicamente, movimentos de união social sempre geraram grandes impactos. Outro fator que consideramos de suma importância é a manutenção dos sistemas de cotas, pois esse sistema visa implementar a igualdade e favorecer a parcela menos enaltecida pelas políticas públicas. Os processos de implementação de cotas ainda são recentes e causam muitas polêmicas, a Universidade de Brasília, por exemplo, foi a pioneira a adotar cotas para negros e índios, apenas em 2004.
No entanto, defendemos a ideia de que, ainda que a implementação do sistema de cotas seja recente, não deve ser negado o seu valor. É o que afirmam, por exemplo, Lima, Neves e Silva (2014). Sendo assim, por mais que haja toda uma estrutura e um cenário construído que desfavorece a maior parte da população algumas medidas, como as citadas anteriormente, norteiam a luta e o processo por uma educação equânime e democrática.

REFERÊNCIAS
DUBET, François. Qual democratização do ensino superior?. Caderno CRH, Salvador, v.28, n. 74, p. 255-265, maio/ago. 2015.
LIMA, Marcus Eugenio Oliveira; NEVES, Paulo Sérgio da Costa; SILVA, Paula Bacellar. A implementação de cotas na Universidade: paternalismo e ameaça a posição dos grupos dominantes. Revista brasileira de educação, v. 19, n. 56, p. 141-163, jan-mar. 2014.
VARGAS, Hustana Maria; PAULA, Maria de Fátima Costa de. A inclusão do estudante-trabalhador e do trabalhador-estudante na educação superior: desafio público a ser enfrentado. Avaliação, Campinas, v. 18, n. 2, p. 459-485, jul. 2013. 

sábado, 13 de outubro de 2018


COMPETITIVIDADE COMO PRINCÍPIO 

EDUCACIONAL


Lucas da Conceição Silva

É necessário um recorte histórico para a compreensão do tema aqui proposto, isto é, da competitividade como princípio educacional. Desde meados dos anos 60, a educação na sociedade brasileira era uma ferramenta para a ascensão social, servia para dar um certo “status”. Esse instrumento de mobilidade social servia principalmente às classes médias. É nesse período que se tem a substituição das importações para a produção própria, e assim se constituiu uma sociedade em industrialização (SOBRAL, 2000). Logo, era esperado que a mobilidade social fosse facilitada. Dos anos 60 aos 70, foram feitos estudos econômicos que visavam a educação, e essa perspectiva levou a sociedade a focar no crescimento econômico e os indivíduos, por sua vez, a buscarem uma melhoria de renda, por meio de maior qualificação para o mercado de trabalho.
Em 1968, há o que se pode chamar de “milagre econômico brasileiro” (SOBRAL, 2000), e nesse contexto desenvolve-se uma política educacional preocupada com a rentabilidade do capital investido na educação. Como efeitos dessa política, foram estabelecidas a Reforma Universitária de 1968 e a Lei de Profissionalização do Ensino Médio de 1971. Tanto a Reforma quanto a Lei tinham por objetivo atender às demandas do mercado e às mudanças econômicas que estavam acontecendo. A Reforma teve por objetivo racionalizar a administração da universidade, nos que diz respeito à gestão financeira e às atividades, criando assim os departamentos, o sistema de créditos, o ciclo básico. A universidade passou a se organizar estruturalmente relacionando o centro (estrutura gerencial da reitoria) com a base (departamentos e coordenação dos cursos). Já a Lei tinha por objetivo a profissionalização dos alunos de Ensino Médio, para a rápida inserção no mercado de trabalho, visto que diante da acelerada industrialização em que o país se encontrava no milagre econômico, havia a necessidade de mão-de-obra.  Diante desses efeitos, há a mudança de uma educação que possibilitava ascensão social para uma educação, nas décadas de 60 e 70, com base econômica, a favor do desenvolvimento. Assim, deu-se importância mais ao crescimento econômico do que à fluidez da sociedade.
Já na década de 90, a educação passou a ser vista como fomentadora da competitividade, visto que era a partir dela que o indivíduo iria ter um maior grau de empregabilidade. O mundo estava marcado pela globalização e pela maior intervenção do estado na economia, o que estimulava a competitividade entre os países e as empresas. A globalização exigia a formação de pessoas qualificadas para que se pudesse aumentar a nossa competitividade internacional, seja com pesquisadores altamente qualificados pelas universidades ou seja pela modernização tecnológica das empresas. Para isso, elas precisariam de pesquisa de ponta, que por sua vez seriam produzidas pelos pesquisadores altamente qualificados, e da educação básica e profissional de sua mão-de-obra. A prioridade era a formação de indivíduos com maior empregabilidade e empresas mais competitivas, e isso revela o caráter econômico que era dado à educação. Verifica-se que, atualmente, esse mesmo caráter permanece.
Saindo agora da perspectiva macro da competitividade educacional para a economia, parte-se para o ambiente escolar, especificamente à sala de aula. A disputa que há nas diversas esferas da sociedade, sobretudo no mercado de trabalho, produz efeitos no comportamento dos agentes escolares. Professores que criam um ambiente de competição entre os alunos, que estimulam a busca pela “maior nota”, prestigiando o aluno que a tirou com diversas formas de recompensa, seja com pontuação extra, seja com algo material, ou simplesmente por dar uma maior “visibilidade” àquele aluno, tornando-o o seu favorito. Até dizem ao aluno que atingiu tal nota a não aceitar que outro o tire esse “troféu”. Os discentes, de colegas ou amigos, passam a ser ver como rivais. “Preciso tirar uma nota maior que ele (a)”, “preciso ser o melhor”, “tenho de tirar a maior nota da sala esse bimestre/semestre”, “não aceito que ninguém tenha uma nota maior que a minha”, pensamentos como esses tomam o lugar da busca pela auto superação, pela auto formação como incentivadores dos estudos. Estudam agora para serem “o melhor da sala”. De um lugar cooperativo, em que há a construção do conhecimento, essa construção sendo feita por professor e aluno, onde o professor deixa de ser o “detentor de todo o conhecimento” e passa a ser mediador dele, e se permite aprender, para um ambiente competitivo. A sala de aula se torna, portanto, como um mercado de trabalho. A nota é vista como termômetro do quanto o aluno sabe da matéria, sem nem querer saber como se chegou a tão menção.
À guisa de conclusão, assevera-se que a educação para a competitividade econômica, que tem por base um novo paradigma produtivo, a dominação de conhecimento, tem a sua importância. Contudo, sustenta-se também que a função essencial da educação de diminuir as desigualdades sociais, de formar para a cidadania, de possibilitar a emancipação não deve ser diminuída, pois uma educação submissa às necessidades do mercado a torna uma mera mercadoria. A função utilitária não deve substituir a humanitária.

REFERÊNCIAS
SOBRAL, Fernanda A. da Fonseca. Educação para a competitividade ou para a cidadania social? São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 14, n. 1, sem paginação, jan/mar. 2000.   
MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete Reforma Universitária de 68. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/reforma-universitaria-de-68/>. Acesso em: 04 de jul. 2018. 
BELTRÃO, Tatiana. Reforma tornou ensino profissional obrigatório em 1971. Senado Notícias. 2017. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/03/reforma-do-ensino-medio-fracassou-na-ditadura>. Acesso em: 04 de jul. 2018. 


AS DIFICULDADES DE SER ALUNA E MÃE NO CONTEXTO ACADÊMICO


Maria Clara Nascimento

         Nota-se na sociedade contemporânea que, entre as cobranças sociais que moldam o comportamento e as ambições da mulher, encontra-se se tornar-se mãe. De diferentes maneiras é reforçado que ser mãe é quase que uma necessidade natural e biológica do sexo feminino e, junto com essas pré-determinações, encontram-se outras, de cunho social, que empreendem uma espécie de manual de instruções a ser seguido. Padroniza-se o estado civil, a idade, a situação financeira e o grau de escolaridade em que as mulheres devem começar a reproduzir, o que desencadeia em uma série de dificuldades estruturais e de logística para aquelas mulheres que fogem os padrões, principalmente as alunas universitárias mães, devido ao despreparo das instituições de ensino superior em relação às necessidades específicas da maternidade.
         Dados do Censo 2000, realizado pelo IBGE (2000), apresentam que 8,81% das mulheres cursando o ensino superior, com idade entre 19 e 29 anos têm filhos na faixa etária de 0 a 4 anos e, devido à isso, podem vir a demandar políticas públicas que lhes permitam permanecer no ambiente acadêmico e concluir seus estudos de maneira proveitosa. Dito isso, cabe ressaltar que, entre as dificuldades apresentadas por alunas mães dentro do ambiente acadêmico está a a falta de tempo para realizar todas as atividades de mãe, e seguir normalmente a vida acadêmica com todas as suas exigências.
         As universidades brasileiras apresentam um caráter negligente e descuidado para com as mulheres mães. A ausência de programas em prol da permanência e rendimento favorável dessas estudantes geram um grande índice de evasão acadêmica. Portanto, as políticas que funcionam como ações facilitadoras da permanência dos estudantes, não podem deixar de reconhecer e incluir as mulheres na condição de mães como grupo social em desvantagem de permanência ou desempenho. Entre as demandas deste grupo específico, encontra-se: a melhoria da qualidade das creches universitárias assim como a criação de creches nos campus que ainda não a possuem, o incentivo aos processos de retomada dos estudos após o nascimento de seus filhos, a possibilidade de negociação de horários mais flexíveis, além da possibilidade da jovem com gravidez de risco finalizar o semestre com atividades domiciliares, mesmo não sendo os três últimos meses da gravidez, evitando o trancamento do semestre ou o abandono do curso.
         Neste sentido, valida-se a a importância dos debates acadêmicos de cunho conscientizador, com a finalidade de alcançar ambientes mais saudáveis, igualitários, flexíveis e empoderadores para todas aquelas que usufruem do sistema de educação brasileiro, ressaltando a necessidade de abertura de espaços concretos de aprendizagem, respeito e acolhimento para todas as mulheres mães universitárias, independentemente dos contextos sociais em que elas estejam inseridas, a fim de firma-las nas universidades e, acima de tudo, assegurar a permanência das mesmas.
         Portanto, a militância do Movimento Estudantil precisa estar em sintonia com as expressões dos demais movimentos sociais da sociedade e coletivos universitários, como os coletivos feministas, a fim de problematizar o espaço social das mulheres mães nas instituições de ensino superior e garantir uma maior visibilidade à este grupo estudantil.

 REFERÊNCIAS 

SAMPAIO, S.; URPIA, A. M.  Mães e universitárias: transitando para a vida adulta. Disponível em: http://books.scielo.org/id/n656x/pdf/sampaio-9788523212117-09.pdf
 AQUINO, Estela M. L. Gênero e Ciência no Brasil: contribuições para
pensar a ação política na busca da equidade. In. Pensando Gênero e Ciência.
Encontro Nacional de Núcleos e Grupos de Pesquisas – 2005-2006. Brasília,
2006, PP. 11-18.
 BRASIL, Secretaria Especial de Política para as mulheres. Plano Nacional de Políticas
para as Mulheres 2013-2015. Brasília, 2010.

A CULTURA NA EDUCAÇÃO: CONSTRUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE                                                                    ...