sábado, 27 de outubro de 2018

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL - PAPEL DE UM ORIENTADOR E SUA ATUAÇÃO NAS ESCOLAS BRASILEIRAS 
                                        

              Mariane C. S. Costa

O conceito de orientação significa “o que guia a ação de alguém; direção, rumo, destino”. Dentro da Pedagogia, a orientação é uma questão tão importante que se configura como uma área específica, denominada de “Orientação Educacional”. Mas o conceito de Orientação Educacional, diferentemente do conceito de orientação já exposto acima, se modificou ao longo do percurso histórico da educação brasileira.
O contexto que permitiu o surgimento da Orientação Educacional retoma ao período em que se desencadeou a revolução industrial, como explica o documento “Orientação Pedagógica – Serviço de Orientação Educacional”, elaborado pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal em 2010:
A partir da Revolução Industrial, o contexto social mudou em atendimento às necessidades da indústria, desencadeando mudança de comportamentos, de hábitos e de valores na sociedade como um todo, além de alterações concretas nas formas de trabalho; transformações essas que passaram a ser consideradas no ambiente escolar.

No Brasil, o contexto em que surgiu o Serviço de Orientação Educacional é similar, como explica Farias (1990):
Portanto, com o novo estágio de desenvolvimento do sistema capitalista, em nosso país, os problemas relacionados às necessidades de formação de mão-de-obra e à aceleração do processo de urbanização tornaram necessária a criação de um sistema de educação elementar capaz de atender às novas exigências que diziam respeito à formação de mão-de-obra e capaz de incorporar os novos grupos ao projeto das classes dominantes. (p. 81).

 No Brasil, diante todas essas mudanças, políticos e educadores recomendaram uma revisão no sistema educacional, a fim de adequá-lo às demandas que o novo modelo de sociedade impunha. Foi recomendado pelos educadores liberais que o ensino deveria se tornar democrático, por entenderem que o mesmo era um direito inalienável de todo cidadão, já que o ensino se configura como um instrumento indispensável à realização humana e à construção de uma sociedade democrática (FARIAS, 1990, p. 80).
Desde o início do século XX as empresas ferroviárias do país mantinham suas próprias escolas destinadas à formação dos seus trabalhadores para desempenhar certas atividades dentro da empresa. Porém as práticas de ensino eram assistemáticas, o que significa que os operários aprendiam imitando uma ação que o instrutor demonstrava (CUNHA, 2000, p. 96). A mudança nesse cenário da educação profissional é explicada por Cunha (2000):
A iniciativa pioneira de aprendizagem sistemática teve início em 1924, com a criação da Escola Profissional Mecânica no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. O ensino de ofícios visado pelo acordo apresentava duas inovações que vieram a ser difundidas posteriormente: a utilização das séries metódicas e a aplicação de testes psicotécnicos para seleção e orientação dos candidatos aos diversos cursos. (p. 96-97)

Foi por meio do professor e engenheiro Roberto Mange, que participou da criação da Escola Profissional Mecânica, que apareceram os primeiros sinais da Orientação Educacional no Brasil, ainda na forma de Orientação Profissional. Nesse cenário, Farias (1990) explana sobre o papel importante da OE na tarefa de cumprir, reforçar, a proposta ingênua de distribuição dos homens na sociedade, segundo seus dons inatos, adequados a outros países industrializados, em sociedades capitalistas avançadas e do instrumento que a educação poderia servir para tais.

A Orientação Educacional foi inserida no sistema escolar Brasileiro da forma como Maia & Garcia (1984) disseram:
[...] apoiada num referencial basicamente psicológico, reforçaria a ideologia das aptidões naturais: a cada um o seu lugar, de acordo com suas capacidades, seu esforço e sua responsabilidade. A escola, espaço neutro na sociedade, ofereceria oportunidades iguais para todos. O papel do Orientador Educacional, ‘profissional da neutralidade’, seria o desvelamento das aptidões que o indivíduo possui naturalmente, independente de sua condição de classe. (p. 14)

De acordo com Grinspun (2006, p. 21) “[...] em educare temos o guiar, nortear, orientar os indivíduos; e em educere, o buscar as potencialidades do indivíduo, no sentido de fazê-las vir de ‘ dentro para fora’. Identifica-se dessa forma uma estreita relação da Orientação com a educação trazendo à tona a visão de que a orientação tinha um cunho vocacional de acordo com os vocábulos latinos.
Apesar da concepção inicial de Orientação no Brasil ser de cunho psicológico, terapêutico e corretivo, essa profissão nasceu principalmente de acordo instabilidade econômica que o país passava, o que influenciou diretamente no campo educacional e o Orientador passou a ser visto como um conselheiro, de acordo com a influência da orientação americana onde havia um serviço de Orientação dita Vocacional, porque a proposta era orientar alunos para a área que o mesmo escolheria para a inserção no mercado de  trabalho, ou seja, a preocupação não era o desenvolvimento do aluno mas sim sua formação profissional; anos mais tarde, no Brasil, as Leis Orgânicas de ensino foram criadas, também, para dar definição a cada área de ensino e suas diversas atribuições.

Dentro de uma escola as diferenças socioculturais são nítidas de acordo com a realidade pessoal de cada um dos estudantes e é necessário que a instituição não valorize apenas um padrão cultural, transformando a diferença em deficiência. O fracasso escolar está ligado ao acesso (ou não) à escola, repetência, aquisição insuficiente do conhecimento proposto pelo(a) professor(a), o acompanhamento familiar na vida escolar do educando, a realidade familiar (emocional, econômica e estrutural) no que diz respeito à composição familiar e comunidade onde o indivíduo reside.
De acordo com PASCOAL et al. (2008, p. 109) “Como partícipe da equipe de gestão, a orientação educacional pode se desenvolver em cinco áreas: o aluno, a escola, a família, a comunidade e a sociedade. ” Portanto, cabe ao serviço de Orientação Educacional, juntamente com professores, coordenação e direção, estruturar esses agentes em torno de um espaço adequado onde o conhecimento seja proposto e adquirido pelo educando, e qualquer vulnerabilidade seja transposta para que o mesmo tenha êxito em suas metas.
         O orientador é uma peça importante em todas as etapas e modalidades, desde a educação infantil até escolas de ensino especial. Então é fundamental que aconteça uma ação de reconhecimento do meio onde este atuará. A função principal do orientador é perceber as dificuldades do estudante e atuar de forma a favorecer o melhor desempenho dele na escola, levando em consideração como é o estudante em sala, a rotina dele, relação com a família, entre outros aspectos e assim achar a melhor solução para cada aluno individualmente. O número de estudantes também é um fator decisivo para que o orientador faça um bom trabalho. Dependendo da quantidade de alunos, uma escola pode precisar de mais de um orientador para que ele não fique sobrecarregado, mas essa é uma exigência que nem sempre é cumprida e o profissional acaba trabalhando apenas para "apagar incêndios" (resolvendo problemas urgentes).
Estratégias para que esse profissional possua uma atuação de qualidade é essencial, pois a sua atuação influencia nas dimensões sociais, culturais, políticas e econômicas de forma geral, da instituição de ensino que esse trabalha, na vida dos educandos, fatalmente na família do aluno, principalmente quando, muitas vezes, quando o ambiente escolar é tido, pelos alunos e familiares, como um abrigo, como um serviço de acolhimento. É necessário definir ações a serem desenvolvidas na escola pelo orientador educacional, juntamente com o corpo docente, para que o mesmo não fique sobrecarregado, para que talvez adaptações ou qualquer tipo de ajuda seja provida afim de auxiliar da melhor forma os alunos que necessitarem de ajuda. O principal papel da orientação é ajudar na formação da cidadania do educando, e o da escola é a organização e a realização de seu projeto político pedagógico, mas não se restringe apenas a essas atividades.

REFERÊNCIAS

CUNHA, Luiz Antonio. O ensino industrial-manufatureiro no Brasil In: Revista Brasileira de Educação. Mai/Jun/Jul/Ago 2000 Nº 14. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-24782000000200006&script=sci_abstract&tlng=pt
DISTRITO FEDERAL. Secretaria de Estado de Educação. Orientação Pedagógica – Serviço de Orientação Educacional. Distrito Federal, 2010. 38 p.
FARIAS, Itamar Mazza. A Orientação Educacional, seus pressupostos e sua evolução no sistema escolar Brasileiro. In: Educação e Filosofia. v. 5, n. 9, p. 79-95, 1990. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/1231.
GRINSPUN, Mírian P.S.Z. A Orientação Educacional: conflito de paradigmas e alternativas para a escola. São Paulo: Cortez, 2006
PASCOAL, M.; HONORATO, E. C.; ALBUQUERQUE, F. A. O Orientador Educacional no Brasil. In: Educação em Revista. n. 47, p. 101-120, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982008000100006

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