sábado, 13 de outubro de 2018


AS DIFICULDADES DE SER ALUNA E MÃE NO CONTEXTO ACADÊMICO


Maria Clara Nascimento

         Nota-se na sociedade contemporânea que, entre as cobranças sociais que moldam o comportamento e as ambições da mulher, encontra-se se tornar-se mãe. De diferentes maneiras é reforçado que ser mãe é quase que uma necessidade natural e biológica do sexo feminino e, junto com essas pré-determinações, encontram-se outras, de cunho social, que empreendem uma espécie de manual de instruções a ser seguido. Padroniza-se o estado civil, a idade, a situação financeira e o grau de escolaridade em que as mulheres devem começar a reproduzir, o que desencadeia em uma série de dificuldades estruturais e de logística para aquelas mulheres que fogem os padrões, principalmente as alunas universitárias mães, devido ao despreparo das instituições de ensino superior em relação às necessidades específicas da maternidade.
         Dados do Censo 2000, realizado pelo IBGE (2000), apresentam que 8,81% das mulheres cursando o ensino superior, com idade entre 19 e 29 anos têm filhos na faixa etária de 0 a 4 anos e, devido à isso, podem vir a demandar políticas públicas que lhes permitam permanecer no ambiente acadêmico e concluir seus estudos de maneira proveitosa. Dito isso, cabe ressaltar que, entre as dificuldades apresentadas por alunas mães dentro do ambiente acadêmico está a a falta de tempo para realizar todas as atividades de mãe, e seguir normalmente a vida acadêmica com todas as suas exigências.
         As universidades brasileiras apresentam um caráter negligente e descuidado para com as mulheres mães. A ausência de programas em prol da permanência e rendimento favorável dessas estudantes geram um grande índice de evasão acadêmica. Portanto, as políticas que funcionam como ações facilitadoras da permanência dos estudantes, não podem deixar de reconhecer e incluir as mulheres na condição de mães como grupo social em desvantagem de permanência ou desempenho. Entre as demandas deste grupo específico, encontra-se: a melhoria da qualidade das creches universitárias assim como a criação de creches nos campus que ainda não a possuem, o incentivo aos processos de retomada dos estudos após o nascimento de seus filhos, a possibilidade de negociação de horários mais flexíveis, além da possibilidade da jovem com gravidez de risco finalizar o semestre com atividades domiciliares, mesmo não sendo os três últimos meses da gravidez, evitando o trancamento do semestre ou o abandono do curso.
         Neste sentido, valida-se a a importância dos debates acadêmicos de cunho conscientizador, com a finalidade de alcançar ambientes mais saudáveis, igualitários, flexíveis e empoderadores para todas aquelas que usufruem do sistema de educação brasileiro, ressaltando a necessidade de abertura de espaços concretos de aprendizagem, respeito e acolhimento para todas as mulheres mães universitárias, independentemente dos contextos sociais em que elas estejam inseridas, a fim de firma-las nas universidades e, acima de tudo, assegurar a permanência das mesmas.
         Portanto, a militância do Movimento Estudantil precisa estar em sintonia com as expressões dos demais movimentos sociais da sociedade e coletivos universitários, como os coletivos feministas, a fim de problematizar o espaço social das mulheres mães nas instituições de ensino superior e garantir uma maior visibilidade à este grupo estudantil.

 REFERÊNCIAS 

SAMPAIO, S.; URPIA, A. M.  Mães e universitárias: transitando para a vida adulta. Disponível em: http://books.scielo.org/id/n656x/pdf/sampaio-9788523212117-09.pdf
 AQUINO, Estela M. L. Gênero e Ciência no Brasil: contribuições para
pensar a ação política na busca da equidade. In. Pensando Gênero e Ciência.
Encontro Nacional de Núcleos e Grupos de Pesquisas – 2005-2006. Brasília,
2006, PP. 11-18.
 BRASIL, Secretaria Especial de Política para as mulheres. Plano Nacional de Políticas
para as Mulheres 2013-2015. Brasília, 2010.

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