A DEMOCRATIZAÇÃO DO ESINO SUPERIOR E A LUTA POR UMA EDUCAÇÃO MAIS
IGUALITÁRIA
Carlos Diego dos Anjos da Silva
A desigualdade na educação é um dos aspectos que permeia a
sociedade brasileira. Questões como financiamento, gestão e distribuição de
vagas de ensino primário refletem, obviamente, no ensino superior. As
Universidades públicas, que deveriam ser um espaço de oportunidades para a
parcela menos favorecida em termos econômicos, continua ainda a ser um lugar em
que predominam as elites e grupos homogêneos. Tem-se, neste trabalho, a
percepção de que há toda uma estrutura que dificulta e até mesmo impossibilita
a democratização e a pluralização dos espaços acadêmicos superiores. Pode-se
perceber na própria Constituição Federal, o fortalecimento e a predisposição do
Estado brasileiro de se omitir e dificultar o acesso de uma grande parcela da
sociedade ao Ensino Superior gratuito. Pois a própria Constituição defende, no
artigo 208, que a meritocracia seria o necessário para conseguir o acesso ao
ensino superior (BRASIL, 1988).
No entanto, adotamos aqui a postura de que o acesso ao
ensino superior não deveria ser tratado como uma questão de meritocracia, pois
compreende-se que muitas vezes não há equidade entre ricos e pobres, uma vez
que aqueles, por seu prestígio social, cultural e financeiro possuem uma
infinidade maior de chances de chegarem mais bem preparados para disputar uma
vaga de ensino superior, enquanto a parcela mais pobre da população, que
depende prioritariamente de um investimento por parte do estado nos níveis iniciais
de educação, não encontram tal apoio e tal aparato. Não devemos falar em
meritocracia se sabemos que as desigualdades sociais apontam para a dificuldade
dos estudantes se inserirem no Ensino superior gratuito, pois há uma série de
fatores, como aponta François Dubet (2005) em seu artigo sobre a democratização
do ensino, que interferem na entrada da parcela mais pobre da sociedade nas
instituições de ensino superior público:
De fato, o acesso ao ensino superior é condicionado pelo
sucesso acadêmico dos alunos no ensino primário e secundário e todos os
sociólogos sabem que esse sucesso depende do capital econômico das famílias. Na
verdade, até mesmo nos países onde o peso das desigualdades econômicas foi
reduzido, as desigualdades dos capitais culturais determinam muito mais as
desigualdades escolares. (DUBET, 2005, pg. 257)
Compreende-se também neste artigo que
não só a entrada, mas também a manutenção da parcela menos favorecida no ensino
superior é algo de extrema relevância mas algo pouco discutido ainda. Visto que
muitos estudantes não têm como se manter em universidades por terem que
trabalhar e ajudar ou até mesmo sustentar seus lares, como bem observam Vargas
e Costa de Paula (2012):
Entre a intenção de um estudante que pretende ingressar na
educação superior e seu efetivo ingresso, encontramos um importante obstáculo a
transpor, relacionado à situação de trabalho. Por vezes o trabalho dificulta a
escolarização, por vezes a ausência de trabalho impede a escolarização. Essa
situação, em verdade, traduz a evidência das incompatibilidades entre estudo e
trabalho, ou seja, a possibilidade ou não de uma escolaridade longa, segundo a
relação do estudante com o trabalho. (VARGAS; COSTA de PAULA, 2012, pg. 465)
Acreditamos
que mesmo diante de tal quadro de desigualdade há ainda passos a serem dados e
decisões que podem ser tomadas para melhorar o quadro atual de desigualdade de
acessos às universidades públicas. Um desses passos é a união das classes
sociais na reivindicação do cumprimento das leis destinadas à educação básica,
que prepara para o ensino superior, pois compreendemos que, historicamente,
movimentos de união social sempre geraram grandes impactos. Outro fator que
consideramos de suma importância é a manutenção dos sistemas de cotas, pois
esse sistema visa implementar a igualdade e favorecer a parcela menos
enaltecida pelas políticas públicas. Os processos de implementação de cotas
ainda são recentes e causam muitas polêmicas, a Universidade de Brasília, por
exemplo, foi a pioneira a adotar cotas para negros e índios, apenas em 2004.
No entanto, defendemos a ideia de que, ainda que a
implementação do sistema de cotas seja recente, não deve ser negado o seu
valor. É o que afirmam, por exemplo, Lima, Neves e Silva (2014). Sendo assim,
por mais que haja toda uma estrutura e um cenário construído que desfavorece a
maior parte da população algumas medidas, como as citadas anteriormente,
norteiam a luta e o processo por uma educação equânime e democrática.
REFERÊNCIAS
DUBET, François. Qual democratização do ensino superior?. Caderno CRH, Salvador, v.28, n. 74, p.
255-265, maio/ago. 2015.
LIMA, Marcus Eugenio Oliveira; NEVES, Paulo Sérgio da Costa;
SILVA, Paula Bacellar. A implementação de cotas na Universidade: paternalismo e
ameaça a posição dos grupos dominantes. Revista
brasileira de educação, v. 19, n. 56, p. 141-163, jan-mar. 2014.
VARGAS, Hustana Maria; PAULA, Maria de Fátima Costa de. A
inclusão do estudante-trabalhador e do trabalhador-estudante na educação
superior: desafio público a ser enfrentado. Avaliação, Campinas, v. 18, n. 2, p. 459-485, jul. 2013.
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