sábado, 13 de outubro de 2018


COMPETITIVIDADE COMO PRINCÍPIO 

EDUCACIONAL


Lucas da Conceição Silva

É necessário um recorte histórico para a compreensão do tema aqui proposto, isto é, da competitividade como princípio educacional. Desde meados dos anos 60, a educação na sociedade brasileira era uma ferramenta para a ascensão social, servia para dar um certo “status”. Esse instrumento de mobilidade social servia principalmente às classes médias. É nesse período que se tem a substituição das importações para a produção própria, e assim se constituiu uma sociedade em industrialização (SOBRAL, 2000). Logo, era esperado que a mobilidade social fosse facilitada. Dos anos 60 aos 70, foram feitos estudos econômicos que visavam a educação, e essa perspectiva levou a sociedade a focar no crescimento econômico e os indivíduos, por sua vez, a buscarem uma melhoria de renda, por meio de maior qualificação para o mercado de trabalho.
Em 1968, há o que se pode chamar de “milagre econômico brasileiro” (SOBRAL, 2000), e nesse contexto desenvolve-se uma política educacional preocupada com a rentabilidade do capital investido na educação. Como efeitos dessa política, foram estabelecidas a Reforma Universitária de 1968 e a Lei de Profissionalização do Ensino Médio de 1971. Tanto a Reforma quanto a Lei tinham por objetivo atender às demandas do mercado e às mudanças econômicas que estavam acontecendo. A Reforma teve por objetivo racionalizar a administração da universidade, nos que diz respeito à gestão financeira e às atividades, criando assim os departamentos, o sistema de créditos, o ciclo básico. A universidade passou a se organizar estruturalmente relacionando o centro (estrutura gerencial da reitoria) com a base (departamentos e coordenação dos cursos). Já a Lei tinha por objetivo a profissionalização dos alunos de Ensino Médio, para a rápida inserção no mercado de trabalho, visto que diante da acelerada industrialização em que o país se encontrava no milagre econômico, havia a necessidade de mão-de-obra.  Diante desses efeitos, há a mudança de uma educação que possibilitava ascensão social para uma educação, nas décadas de 60 e 70, com base econômica, a favor do desenvolvimento. Assim, deu-se importância mais ao crescimento econômico do que à fluidez da sociedade.
Já na década de 90, a educação passou a ser vista como fomentadora da competitividade, visto que era a partir dela que o indivíduo iria ter um maior grau de empregabilidade. O mundo estava marcado pela globalização e pela maior intervenção do estado na economia, o que estimulava a competitividade entre os países e as empresas. A globalização exigia a formação de pessoas qualificadas para que se pudesse aumentar a nossa competitividade internacional, seja com pesquisadores altamente qualificados pelas universidades ou seja pela modernização tecnológica das empresas. Para isso, elas precisariam de pesquisa de ponta, que por sua vez seriam produzidas pelos pesquisadores altamente qualificados, e da educação básica e profissional de sua mão-de-obra. A prioridade era a formação de indivíduos com maior empregabilidade e empresas mais competitivas, e isso revela o caráter econômico que era dado à educação. Verifica-se que, atualmente, esse mesmo caráter permanece.
Saindo agora da perspectiva macro da competitividade educacional para a economia, parte-se para o ambiente escolar, especificamente à sala de aula. A disputa que há nas diversas esferas da sociedade, sobretudo no mercado de trabalho, produz efeitos no comportamento dos agentes escolares. Professores que criam um ambiente de competição entre os alunos, que estimulam a busca pela “maior nota”, prestigiando o aluno que a tirou com diversas formas de recompensa, seja com pontuação extra, seja com algo material, ou simplesmente por dar uma maior “visibilidade” àquele aluno, tornando-o o seu favorito. Até dizem ao aluno que atingiu tal nota a não aceitar que outro o tire esse “troféu”. Os discentes, de colegas ou amigos, passam a ser ver como rivais. “Preciso tirar uma nota maior que ele (a)”, “preciso ser o melhor”, “tenho de tirar a maior nota da sala esse bimestre/semestre”, “não aceito que ninguém tenha uma nota maior que a minha”, pensamentos como esses tomam o lugar da busca pela auto superação, pela auto formação como incentivadores dos estudos. Estudam agora para serem “o melhor da sala”. De um lugar cooperativo, em que há a construção do conhecimento, essa construção sendo feita por professor e aluno, onde o professor deixa de ser o “detentor de todo o conhecimento” e passa a ser mediador dele, e se permite aprender, para um ambiente competitivo. A sala de aula se torna, portanto, como um mercado de trabalho. A nota é vista como termômetro do quanto o aluno sabe da matéria, sem nem querer saber como se chegou a tão menção.
À guisa de conclusão, assevera-se que a educação para a competitividade econômica, que tem por base um novo paradigma produtivo, a dominação de conhecimento, tem a sua importância. Contudo, sustenta-se também que a função essencial da educação de diminuir as desigualdades sociais, de formar para a cidadania, de possibilitar a emancipação não deve ser diminuída, pois uma educação submissa às necessidades do mercado a torna uma mera mercadoria. A função utilitária não deve substituir a humanitária.

REFERÊNCIAS
SOBRAL, Fernanda A. da Fonseca. Educação para a competitividade ou para a cidadania social? São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 14, n. 1, sem paginação, jan/mar. 2000.   
MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete Reforma Universitária de 68. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/reforma-universitaria-de-68/>. Acesso em: 04 de jul. 2018. 
BELTRÃO, Tatiana. Reforma tornou ensino profissional obrigatório em 1971. Senado Notícias. 2017. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/03/reforma-do-ensino-medio-fracassou-na-ditadura>. Acesso em: 04 de jul. 2018. 

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