COMPETITIVIDADE COMO PRINCÍPIO
EDUCACIONAL
Lucas
da Conceição Silva
É necessário um recorte histórico para a compreensão do tema
aqui proposto, isto é, da competitividade como princípio educacional. Desde
meados dos anos 60, a educação na sociedade brasileira era uma ferramenta para
a ascensão social, servia para dar um certo “status”. Esse instrumento de
mobilidade social servia principalmente às classes médias. É nesse período que
se tem a substituição das importações para a produção própria, e assim se
constituiu uma sociedade em industrialização (SOBRAL, 2000). Logo, era esperado
que a mobilidade social fosse facilitada. Dos anos 60 aos 70, foram feitos
estudos econômicos que visavam a educação, e essa perspectiva levou a sociedade
a focar no crescimento econômico e os indivíduos, por sua vez, a buscarem uma
melhoria de renda, por meio de maior qualificação para o mercado de trabalho.
Em 1968, há o que se pode chamar de “milagre econômico
brasileiro” (SOBRAL, 2000), e nesse contexto desenvolve-se uma política
educacional preocupada com a rentabilidade do capital investido na educação.
Como efeitos dessa política, foram estabelecidas a Reforma Universitária de
1968 e a Lei de Profissionalização do Ensino Médio de 1971. Tanto a Reforma
quanto a Lei tinham por objetivo atender às demandas do mercado e às mudanças
econômicas que estavam acontecendo. A Reforma teve por objetivo racionalizar a
administração da universidade, nos que diz respeito à gestão financeira e às
atividades, criando assim os departamentos, o sistema de créditos, o ciclo
básico. A universidade passou a se organizar estruturalmente relacionando o
centro (estrutura gerencial da reitoria) com a base (departamentos e coordenação
dos cursos). Já a Lei tinha por objetivo a profissionalização dos alunos de
Ensino Médio, para a rápida inserção no mercado de trabalho, visto que diante
da acelerada industrialização em que o país se encontrava no milagre econômico,
havia a necessidade de mão-de-obra. Diante
desses efeitos, há a mudança de uma educação que possibilitava ascensão social
para uma educação, nas décadas de 60 e 70, com base econômica, a favor do
desenvolvimento. Assim, deu-se importância mais ao crescimento econômico do que
à fluidez da sociedade.
Já na década de 90, a educação passou a ser vista como
fomentadora da competitividade, visto que era a partir dela que o indivíduo
iria ter um maior grau de empregabilidade. O mundo estava marcado pela
globalização e pela maior intervenção do estado na economia, o que estimulava a
competitividade entre os países e as empresas. A globalização exigia a formação
de pessoas qualificadas para que se pudesse aumentar a nossa competitividade
internacional, seja com pesquisadores altamente qualificados pelas
universidades ou seja pela modernização tecnológica das empresas. Para isso,
elas precisariam de pesquisa de ponta, que por sua vez seriam produzidas pelos
pesquisadores altamente qualificados, e da educação básica e profissional de
sua mão-de-obra. A prioridade era a formação de indivíduos com maior
empregabilidade e empresas mais competitivas, e isso revela o caráter econômico
que era dado à educação. Verifica-se que, atualmente, esse mesmo caráter
permanece.
Saindo agora da perspectiva macro da competitividade
educacional para a economia, parte-se para o ambiente escolar, especificamente
à sala de aula. A disputa que há nas diversas esferas da sociedade, sobretudo
no mercado de trabalho, produz efeitos no comportamento dos agentes escolares.
Professores que criam um ambiente de competição entre os alunos, que estimulam
a busca pela “maior nota”, prestigiando o aluno que a tirou com diversas formas
de recompensa, seja com pontuação extra, seja com algo material, ou
simplesmente por dar uma maior “visibilidade” àquele aluno, tornando-o o seu
favorito. Até dizem ao aluno que atingiu tal nota a não aceitar que outro o
tire esse “troféu”. Os discentes, de colegas ou amigos, passam a ser ver como
rivais. “Preciso tirar uma nota maior que ele (a)”, “preciso ser o melhor”,
“tenho de tirar a maior nota da sala esse bimestre/semestre”, “não aceito que
ninguém tenha uma nota maior que a minha”, pensamentos como esses tomam o lugar
da busca pela auto superação, pela auto formação como incentivadores dos
estudos. Estudam agora para serem “o melhor da sala”. De um lugar cooperativo,
em que há a construção do conhecimento, essa construção sendo feita por
professor e aluno, onde o professor deixa de ser o “detentor de todo o
conhecimento” e passa a ser mediador dele, e se permite aprender, para um
ambiente competitivo. A sala de aula se torna, portanto, como um mercado de
trabalho. A nota é vista como termômetro do quanto o aluno sabe da matéria, sem
nem querer saber como se chegou a tão menção.
À guisa de conclusão, assevera-se que a educação para a
competitividade econômica, que tem por base um novo paradigma produtivo, a
dominação de conhecimento, tem a sua importância. Contudo, sustenta-se também
que a função essencial da educação de diminuir as desigualdades sociais, de
formar para a cidadania, de possibilitar a emancipação não deve ser diminuída, pois
uma educação submissa às necessidades do mercado a torna uma mera mercadoria. A
função utilitária não deve substituir a humanitária.
REFERÊNCIAS
SOBRAL,
Fernanda A. da Fonseca. Educação para a competitividade ou para a cidadania
social? São Paulo em Perspectiva, São
Paulo, v. 14, n. 1, sem paginação, jan/mar. 2000.
MENEZES,
Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete Reforma Universitária de
68. Dicionário Interativo da
Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001.
Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/reforma-universitaria-de-68/>.
Acesso em: 04 de jul. 2018.
BELTRÃO,
Tatiana. Reforma tornou ensino profissional obrigatório em 1971. Senado Notícias. 2017. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/03/reforma-do-ensino-medio-fracassou-na-ditadura>.
Acesso em: 04 de jul. 2018.
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