terça-feira, 10 de julho de 2018

CRITICIDADE E RELAÇÃO CONTEÚDO-REALIDADE





Manuela Vitória Sacramento Martins

         Na Constituição Federal de 1988, temos no artigo 205 que a educação, enquanto um direito de todos, visa o “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” No artigo 207, que diz respeito exclusivamente às universidades, é estabelecido que estas devem obedecer “ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.” Sendo extensão a função social da universidade, ela se estabelece como a articulação do conhecimento científico advindo do ensino e pesquisa com as necessidades da comunidade na qual a instituição se insere, visando transformar a realidade e promover o desenvolvimento social. Esses dois artigos nos levam à conclusão de que a principal função da educação, tendo como as duas instituições principais a escola e a universidade, está relacionada fundamentalmente ao desenvolvimento crítico dos indivíduos em relação à sua realidade, visando transformá-la.
         Isso nos leva a refletir se esse objetivo da educação tem sido alcançado no Brasil de maneira satisfatória, e de acordo com todas as discussões e estudos realizados em sala, chegamos à uma resposta negativa. Vimos, baseados em leituras críticas e debates, que a educação, principalmente nas escolas, tem se tornado cada vez mais uma importante peça do quebra-cabeça neoliberal, atendendo às demandas do mercado e não auxiliando os alunos a tornarem-se críticos em relação a seu contexto, sua vivência e a si mesmo, e sim uma educação conteudista que visa resultados em vestibular ou oferecer mão de obra para o mercado de trabalho. Assim, torna-se, nos termos de Paulo Freire, uma “educação bancária”, na qual os professores depositam o conteúdo em seus alunos e depois de um tempo resgatam esse “conhecimento” através de uma avaliação, podendo ser provas da escola ou o resultado dos vestibulares/Enem. Além disso, esse autor vai afirmar que a prática educativa, ao treinar e adaptar o educando a uma realidade que não pode ser mudada, obedece à uma ideologia fatalista que anima o discurso neoliberal (FREIRE, 1996).
       Porém, para alcançar o que nos diz a Constituição sobre o desenvolvimento da pessoa e seu preparo para exercer a cidadania e superar o modelo de educação que temos majoritariamente no Brasil hoje, uma das principais mudanças que deve ocorrer é a adaptação dos conteúdos à realidade dos alunos. Dessa forma, as relações feitas entre os conteúdos científicos e sua vivência no mundo tornaria os estudantes cada vez mais críticos. O que se apresenta neste texto como uma proposta para alcançarmos a educação que queremos tem base legal, por exemplo, na LDB, que “prevê flexibilidade no que se refere às formas de organização escolar, permitindo que se atenda às peculiaridades regionais e locais, às diferentes clientelas e necessidades do processo de aprendizagem (art. 23).” (PENIN; VIEIRA, 2002, p. 21)
       Entretanto, uma aplicação efetiva dessa conexão se faz necessária, uma vez que, nos anos 90, Paulo Freire, patrono da educação brasileira e grande teórico da área, já nos alertava para a importância do respeito aos saberes dos alunos e da relação com seu contexto.
Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Por que não estabelecer uma necessária “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? Por que não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? A ética de classe embutida neste descaso? Porque, dirá um educador reacionariamente pragmático, a escola não tem nada que ver com isso. A escola não é partido. Ela tem que ensinar os conteúdos, transferi-los aos alunos. Aprendidos, estes operam por si mesmos. (FREIRE, 1996, p. 15)
 
          A escola deve, usando termos e ideias concebidos pela UNESCO nos anos 90, ser um espaço onde aprende-se a conhecer (domínio dos instrumentos de conhecimento, aprender a aprender), aprende-se a fazer (além da qualificação profissional, envolve aquisição de competências para as diferentes experiências sociais), aprender a conviver (descoberta e respeito ao outro e participação de projetos comuns) e aprender a ser (contribuição para o desenvolvimento total da pessoa, envolvendo criticidade e aspectos subjetivos do ser humano) (PENIN; VIEIRA, 2002, p. 27 e 28). Essa educação, então, se volta para o pleno desenvolvimento da pessoa do qual trata a Constituição, dando ênfase às duas últimas aprendizagens, e isso se constrói através, principalmente, da inserção dos conteúdos e da escola em si num contexto, relacionando-os diretamente à realidade.
      Dessa forma, nenhum currículo pode ser consolidado por muito tempo, se fazendo necessário “um repensar constante sobre sua contemporaneidade, ou seja, sua atualidade e sua adequação ao que está acontecendo no mundo real. Os alunos precisam de conhecimentos que lhe sirvam para melhor entender a sociedade global e melhor conviver e agir em sua comunidade e no seu trabalho.” (PENIN; VIEIRA, 2002, p. 29).

REFERÊNCIAS
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Artigos sobre educação. Disponível em: <http://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/10/docs/constituicao_federal_de_1988_-_da_educacao.pdf>.
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA. Disponível em: <http://www.proex.ufes.br/o-que-%C3%A9-extens%C3%A3o-universit%C3%A1ria>.
FREIRE, P. (1996) Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25ª ed., São Paulo: Paz e Terra (Coleção Leitura).
PENIN, Sonia T. Sousa; VIEIRA, Sofia Lerche. Refletindo sobre a função social da escola. In: VIEIRA, Sofia Lerche (org.) Gestão da Escola. Desafios a enfrentar. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. (Biblioteca ANPAE).


TENHO TANTAS IDEIAS, SOU TÃO CRIATIVO...MAS DE QUE ADIANTA? ESTOU NA ESCOLA



Igor Passos Pires

Ao escolher minha profissão, decidi que gostaria, acima de qualquer coisa, plantar sementes; sementes que gerassem pequenas fissuras na estrutura, sementes essas que possibilitassem novas maneiras de enxergar e produzir o mundo. Entretanto, ao ter contato com o terreno, percebi que havia mais concreto que terra fecunda – a escola se mostrou um lugar enrijecido, estratificado. Partindo do princípio de que a escola é uma instituição disciplinadora, Foucault afirma que o exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo jogo do olhar; um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a efeitos de poder, e onde, em troca, os meios de coerção tornem claramente visíveis aqueles sobre quem se aplicam. (FOUCAULT, M., 1987, p.143). Logo no primeiro contato com o ambiente escolar, percebi que haveria uma grande batalha pela frente.
        De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases, a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (1988). Mas como assegurar o pleno desenvolvimento do indivíduo, sendo que na maior parte do tempo o que é evidenciado no ambiente escolar é uma estrutura conteudista? Além da infraestrutura, que mais aprisiona do que possibilita que os alunos exerçam a liberdade. Uma difícil estrada, portanto, se abre, estrada essa cheia de pedregulhos. Mas não ignorar as dificuldades é essencial.
         No primeiro semestre de 2018, ministrei uma oficina de iniciação teatral no Centro Educacional 11, em Ceilândia. O maior impacto que tive foi a respeito da relação dos estudantes com a escola. Havia uma falta de brilho nos olhos, uma falta de crença na efetividade daquela educação. Deparei-me com alunos que possuíam o desejo de criação, com grande potencial inventivo, mas que, ao se depararem com o ambiente escolar, acreditavam não serem bons. Foi preciso portanto trabalhar com, desvendar, redescobrir, encontrar potência no que aparentemente não possui. Construir junto aos alunos um ambiente possível de produção de cidadania, de conhecimento, de convivências, mostrar a eles que os conhecimentos e as potencialidades ultrapassam o concreto das paredes e da rigidez conteudista de muitos professores. E é a partir de questões como as citadas acima que precisamos nos atentar a determinadas propostas atuais, como a reforma do ensino médio e a escola sem partido, que, em sua essência, limitam e enrijecem mais ainda a estrutura escolar , oferecendo, em suma, uma estrutura de mundo – ideais, éticas e morais – já prontas, distanciando os indivíduos de sua inventividade – de identidades, de mundos, de si próprios – distanciando assim, ainda, do senso crítico a respeito do que acontece dentro e além dos muros da escola. Nessas situações, como se executa a finalidade da educação? Existe uma educação plena dos educandos, ou é priorizado uma formação monocular desta? Como afirma Sônia T. Sousa Penin e Sofia Lerche Vieira, a escola deve ter uma função voltada para a totalidade do ser humano e não para partes fragmentadas que interessam o movimento da engrenagem do capital:

A educação, assim sendo concebida, indica uma função da escola voltada para a realização plena do ser humano. [...] Tal realização plena do ser humano – crianças, jovens ou adultos, é alcançada por meio da convivência e da ação concreta, qualificadas pelo conhecimento. (PENIN, Sonia T. Sousa; VIEIRA, Sofia Lerche. 2002, p.28).

Na conclusão de O que é a Filosofia, intitulada Do caos ao cérebro, Deleuze e Guattari dissertam um pouco sobre a figura do artista, o caos e, de certo modo, a produção:
Num texto violentamente poético, Lawrence descreve o que a poesia faz: os homens não deixam de fabricar um guarda-sol que os abriga, por baixo do qual traçam um firmamento e escrevem suas convenções, suas opiniões; mas o poeta, o artista, abre uma fenda no guarda-sol para fazer passar um pouco do caos livre e tempestuoso e enquadrar numa luz brusca, uma visão que aparece através da fenda. [...] Será preciso sempre outros artistas para fazer outras fendas, operar as necessárias destruições, talvez cada vez maiores, e restituir assim, a seus predecessores, a incomunicável novidade que não mais se podia ver (DELEUZE, G. GUATTARI, F., 1992, p.237-238).

 Hoje, percebo que minha vontade de plantar sementes vai ao encontro com o abrir fendas no guarda-sol. É necessário produzir deslocamentos, fissuras na estrutura hegemônica. É necessário estar aberto a produzir encontros e sustentar as fendas abertas. A escola é um lugar de produção – de indivíduos, de mundos, de pensamento, de conhecimento – assim sendo, eu enquanto professor, devo percorrer caminhos que possibilitem esses outros lugares. Percorrer caminhos em que a realidade e as potências de meus alunos sejam levadas em conta, levadas em conta para a criação, para que o que se ensina entre em contato com questões que os atravessam.
Além disso, é necessário se fazer um questionamento: como minha matéria pode interferir na vida dos alunos? Ou ainda: como a realidade dos alunos interfere no modo como proponho minha aula? Como sou afetado por esses corpos? É preciso lembrar sempre que a educação é produção e não aplicação de mundos pré-existentes. Para isso, vejo que é necessária uma ética da educação; no campo das artes, uma ética-estética. Uma ética-estética que vise o trabalho com o que tange não apenas o racional, mas também o sensível. Construir um espaço em que não haja uma hierarquia professor-aluno, mas que as duas partes possam exercer seu senso crítico e sua potência criativa, visando sempre a produção de um mundo melhor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei nº9.394 de 20/12/1996 e atualizações. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm >
DELEUZE, G. GUATTARI, G. Conclusão – do caos ao cérebro in O que é a filosofia?, Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
FOUCAULT, Michel. Os corpos dóceis. In Vigiar e Punir. Ed. Vozes. Petrópolis. 1987
PENIN, Sonia T. Sousa; VIEIRA, Sofia Lerche. Refletindo sobre a função social da escola. In: VIEIRA, Sofia Lerche (org.) Gestão da Escola. Desafios a enfrentar. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. P. (Biblioteca ANPAE). P.13-45



AÇÃO PROPOSITIVA DE MUDANÇA – EDUCAÇÃO QUE TEMOS X EDUCAÇÃO QUE QUEREMOS


Geovanna Calazans Nogueira 

Não é novidade que a educação brasileira se encontra sucateada, em todos os aspectos visíveis. Seja por sua estrutura física vista nas escolas, ou por sua estrutura administrativa, que mal consegue colocar em prática tudo aquilo que propõe.
A mudança começa na educação. Parece ser uma frase genérica, mas ao analisar por outro ponto de vista, se mostra total sentido. A educação informativa é primordial para que passemos da educação que temos para a educação que queremos.
Uma parte muito pequena da sociedade se informa a respeito dos seus direitos, no que tange a educação mal sabem onde procurar por informação, que dirá consumi-la. PNE, Lei De Diretrizes e Bases, tudo isso passa despercebido pela sociedade, e isso custa caro para todos. Todos perecem por falta de conhecimento. Tudo começa em saber, em estudar seus direitos e deveres, tanto dentro quanto fora da educação.
É visível que todos querem uma educação eficiente, justa e universal, onde ninguém fique para trás e ninguém seja privilegiado, ou melhor, que todos sejam privilegiados, seja na rede pública ou privada. Uma escola que ensina, que educa e instrui, que transforma o aluno não somente em uma máquina de marcar respostas em um gabarito, mas em alguém com pensamento crítico, e com plena capacidade de exercer sua cidadania. O que vemos hoje é exatamente o contrário e mudar esse quadro não é fácil, a raiz do problema é profunda, mas é possível.
Tendo se informado de tudo que o Estado deve fornecer à educação, se pode cobrar do mesmo, se pode passar tais informações adiante e usar a própria voz para ver a educação se tornar exemplar, se tornar um verdadeiro pilar firme da sociedade, e não um pilar todo rachado e prestes a cair de tão descuidado e esquecido como é hoje. Os governantes se esqueceram da educação, seja ou não proposital, mas esqueceram. E que nas urnas o povo não se esqueça disso, que haja a esperança de algo novo vindo do Planalto Central para o resto do país, a educação clama por socorro, as crianças e adolescentes clamam por livros, por merenda e por uma cadeira decente para estudar, para mudar os rumos da própria vida. Sabe-se que a função social que a escola tem é imensurável, ela pode e deve mudar a vida do aluno, mas para o bem, não para o mal como tem acontecido.
Uma estrutura feita com tijolos e cimentos, com uma placa escrito “escola” na frente é o local onde passa-se 12 anos da vida, no mínimo 5 horas por dia, fora a universidade, não deveria ser esse o local onde se constrói o próprio caminho? Os sonhos, os amigos, as melhores experiências de vida deviam ser construídas nesse local, é assim que queremos a educação e a escola. Mas será que é isso que temos? Ou temos uma escola caindo aos pedaços, onde se explodem conflitos familiares, onde o aluno se sente completamente incapaz, onde o mesmo não aguenta ficar em sala de aula por ter uma aula tão entediante e nada identificativa? Não podemos cobrar por um direito que não se sabe que tem, por isso a educação que queremos começa na informação da educação que podemos ter, para a partir de então, lutar pela educação que se pode ser.
Muitos idosos dizem: “a educação é tudo” e arrisco dizer que é uma fala verdadeira. Um povo bem-educado não é enganado. Um povo bem-educado não é pisoteado. Um povo bem-educado não é alienado.

ENTRE A EDUCAÇÃO GLOBAL E LOCAL





Ana Claudia Knihs de Camargo 

               A modernidade advinda das transformações históricas que ocorreram no mundo a partir do século XX com todo o aparato da revolução tecnológica, de informação e de comunicação colocou a sociedade e todas as suas relações sociais, políticas e econômicas em um novo ritmo, agora muito mais interligado, instantâneo e individualizado. Tudo que é solido desmancha no ar, o leque de categorias mercantilizáveis só se expande e a educação, que antes era tida como um direito social garantido pelo Estado, é cada vez mais atacada pela ideologia de consumo. Segundo Baumann em Vidas para Consumo, o projeto total de globalização envolve fazer com que todas as relações sociais se tornem mercadoria, inclusive o indivíduo: ele faz de si seu próprio currículo, precisando agregar valor à sua própria imagem - com cursos de francês, de capacitação, projetos de pesquisa para colocar no lattes - para conseguir se colocar em uma posição social de maior prestígio ou, ao menos, manter-se ativo nessa sociedade de consumo. 
      Dessa forma, a educação também se torna uma mercadoria, a venda do ensino se torna possível e o aluno se torna um mero consumidor. Há corporações brasileiras donas de grande parte do ensino superior privado no Brasil que lucram com a venda desse serviço, além de um extenso grupo de donos de escolas de nível infantil e médio. É, também, a resposta do projeto neoliberal cada vez mais presente no Brasil, que sucateia e precariza todos os bens públicos - inclusive a educação - para depois privatizá-los.
       O problema da educação nesse molde é que a torna uma mercadoria como qualquer outra - sujeita a oscilações de mercado, da redução da qualidade para maximizar o lucro, enfim, a coloca numa ética de concorrência que não condiz com o que o projeto da educação deveria ser - crítico, autônomo, independente, baseado em troca de idéias e na livre circulação de pensamentos. Esse problema se encontra em todos os níveis de ensino: do infantil ao superior - mesmo que acontecendo de maneiras diferentes. A militarização das escolas, o projeto de escola sem partido e o sucateamento financeiro das universidades públicas são exemplos de estratégias políticas que pretendem acabar com toda a capacidade de ensino crítico e questionador que essas instituições deveriam ter.
         Se, para Marx,“as idéias da classe dominante são as idéias dominantes”, a ideologia de ensino globalizada sempre traz o ensino a partir da perspectiva do Norte Global, apagando toda a identidade, as subjetividades e reduzindo à mínimo o ensino da história dos países de periferia. Na escola ensinam muito sobre a os países de lá, aprendemos inglês e só muito recentemente incorporaram o espanhol como obrigatório no ensino público, nosso currículo é composto por muito da história dos países que nos coloniza(ra)m, mas extremamente pouco da nossa própria história, das nossas guerras e revoluções, dos nossos heróis, dos nossos folclores e tradições, da história dos nossos países vizinhos, etc. É a colonialidade do saber atrelada ao projeto de ensino neoliberal.
         Dessa forma, é muito importante que a nossa luta e as nossas críticas aos cortes na educação não se façam de maneira estritamente econômica: não são só verbas que estão sendo cortadas, mas também a liberdade de pensamento e de circulação de ideias. É uma tendência mundial que segue em vigor e principalmente nós, enquanto um país situado no Sul Global, devemos lutar contra se quisermos defender um ensino público nacional que crie pessoas questionadoras e críticas.

O PROFESSOR IDEAL



Julia Bandeira de Oliveira

           Ao analisar o professor que aparece em Conto de escola, de Machado de Assis, é perceptível o retrato dos mestres da época do escritor realista. Com intuito de corrigir os alunos, utilizavam palmatórias, humilhavam as crianças e se sentiam orgulhosos desta postura lamentável. Embora essas atitudes eram valorizadas no século XIX, tais costumes prevaleceram durante parte do século XX, como é colocado na música Another Brick In The Wall, composta por Roger Waters.
          No século XXI, a imagem do professor perdeu o aspecto tenebroso dos tempos anteriores para exteriorizar um profissional mais próximo daqueles que estudam. Tal mudança fez com que uma parcela grande da população brasileira parasse de compreender qual é a real função de quem ensina os conteúdos dos Parâmetros Curriculares Nacionais, de forma que possibilitou o advento do outro extremo: a aquisição da falta de respeito para com os docentes, seja por parte dos discentes, ou dos responsáveis por eles.
            Quando se decide pensar em qual modelo de professor é o ideal, é extremamente relevante recordar os fatos citados acima, afim de encontrar um meio termo que torne as más condutas extintas. No entanto, há a ciência de que, por se tratar de costumes praticados durante anos, o processo de aperfeiçoar as maneiras de um mentor atuar torna-se lento e gradual, pois requer uma preparação desses profissionais mais elaborada, que visa capacitar cada um para possíveis situações do cotidiano do ofício de ensinar, conforme Inês Luci Machado Carrijo afirma, o professor

[...] tem que saber, além do que tem que ser ensinado, o como melhor ensinar o que tem que ser ensinado e isto não pode estar de forma alguma descontextualizado do quem vai aprender, do como melhor se aprende, do que quer o aluno e do que tem que ser aprendido. (CARRIJO, 1995, p. 71).

      Além do bom preparo ser contemplado, a ideia de que os professores bem qualificados são essenciais para auxiliar na evolução da educação precisa ser internalizada no intelecto dos brasileiros. Ora, se não fosse por um indivíduo que se dedicasse a ensinar as pessoas de diversas idades, a sociedade não teria a luz que o conhecimento fornece. Mas enquanto a realidade atual quanto a esse assunto não deixar de perdurar, a alienação continuará reinando, o interesse pelas matérias e pelas reflexões causadas pelos docentes pode deixar de existir e entre outras coisas ruins para aqueles que querem ver o Brasil melhorar.
            Este país não pode desperdiçar o potencial que tem para formar bons profissionais na área da educação e estes não devem deixar de se preocupar com os estudantes, pois ela é o motor da evolução brasileira. A sociedade precisa valorizar as distintas faces do conhecimento e quem os transmite, já que sem o meio educacional coerente e coeso não existem melhorias. Todas as áreas curriculares nacionais são bem-vindas para fazer a população pensar e agir de forma a priorizar o bem comum.

Referências bibliográficas
·      ASSIS, Machade de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v. II.
·      CARRIJO, Inês Luci Machado. Do professor “ideal(?)” de ciências ao professor possível. Ensino em Re-vista, 1995.
           
           






A ARTE NA ESCOLA E PARA A ESCOLA




Maria Luísa Torres Rolim

         "O real objetivo desse texto é exprimir os anseios de uma aluna do     terceiro semestre de Licenciatura em Artes Visuais em relação ao futuro dela e de seus futuros alunos – se chegar a tê-los".
        Distância. Hoje sei que a distância pode ser desenhada, pintada, esculpida, dançada, cantada, tocada e encenada. A pergunta que perdura é o porquê só me lembro de ser instruída a lê-la, escrevê-la e, mais tarde, calcula-la na escola. Nos anos 80 as pesquisas em arte-educação avançaram no Brasil e, mesmo que tardiamente, em 1996, oficialmente, a arte entrava para o currículo do ensino fundamental. Um ano depois é contemplada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) sob a abordagem triangular –apreciação,  produção e contextualização – de Ana Mae. Não obstante aos fatos, o que vivi enquanto aluna do ensino básico é inegável. Quando pequena, a arte me era apresentada unicamente no formato procedimental e sua finalidade era sempre a produção de um trabalho modelar para o dia árvore ou para o dia das mães. Ao crescer, aprendi que arte é tudo aquilo que é uno, original, manual, autoral, expositivo e belo.
        Em sua explanação referindo-se ao capital humano, Frigotto (1993) levanta a questão anti-hegeliana que Marx tinha ao apontar que o pensamento seria posterior à realidade. O pensar, portanto, é resultado do contato humano com o real. Os conceitos que nutrimos são frutos de pensamentos que, por sua vez, são significação do mundo. Partindo-se da crença na falácia da neutralidade, abstrai-se que os conceitos ditos universais não o são. Outrossim, as verdades conceituais selecionadas para o ensino na escola não são inocentes, possuem, segundo Frigotto, origem de classe. A conceituação de história da arte, por exemplo, é dissipada através dos manuais e livros didáticos sob o olhar unicamente ocidental e, mais especificamente, europeu.
          Freire (1996)  apresenta como princípio da prática docente o estar livre de prejuízo. Os juízos de classe, religião, gênero e raça só devem ser tratados em sala de aula sob caráter pluralista, tratando tais assuntos de forma vária. Em resumo, como de fato são. O formato incitado por Freire daria espaço para que a consciência geral de substantividade do ser se formasse. Somente pautados nessas circunstâncias, a escola seria espaço de formação do aluno, onde as significações pessoais são válidas. O processo de desenvolvimento da própria substantividade iniciar-se-ia na apresentação do conteúdo pelo docente e seria continuado pela curiosidade do discente. Tal modelo de ensino-aprendizagem se diferencia do modelo comum - no qual os quarenta alunos de uma sala devem apreender o conteúdo de modo que todos sejam capazes de responder uma mesma pergunta da mesma forma-, pois sua finalidade é dar vazão para que os alunos encontrem no conteúdo formas diferentes de aplicabilidade em suas próprias realidades.
         A discussão sobre o rumo utilitarista que a educação brasileira tem tomado é pautada nos vestígios de um gestão que visa resultados comuns aos que se visam em uma empresa. Lenoir (2016) trás a tona essa visão ao destacar desempenho e eficiência como aspectos caracterizadores de um ensino tido como ideal. O fim da educação emancipatória  já dava seus sinais à medida que o ingresso nas faculdades era motivado pela ânsia de um comodismo econômico, de uma certeza de sucesso financeiro (LENOIR, 2016), mas se tornou inquestionável com a emergência do novo modelo de ensino médio. Uma instituição de caráter formador que se molda na medida do mercado, não serve à dimensão cidadã do ser humano, mas à econômica.
           Trago de volta a tona, o elemento focal desse texto. O motivo pelo qual a disciplina das artes é tão mal explorada em sala de aula se deve ao simples fato de que artista não é mão-de-obra. A formação do trabalhador perpassa o ensino das artes unicamente nos sentidos de se adquirir disciplina, atenção, organização, etc. (FERREIRA, S., et al., 2011). A arte, portanto, se mostra como uma subdisciplina, dando subsidio para que a Língua Portuguesa, a Língua Inglesa e a Matemática possam operar da melhor forma possível. O purismo dos saberes selecionados como necessários ao aluno não existe. Como apontado por Frigotto, os conceitos dominantes advém da classe dominante e esses, por sua vez, são propagados. O utilitarismo na educação é configurado, a priori, através das disciplinas selecionadas – aquelas nas quais fomentam a formação da mão-de-obra - e do formato na qual são apresentadas – contrários à emancipação e ao humanismo. A superação do ensino  que adestra só é possível ao passo que, adotando o modelo freireano de ensino-aprendizagem, a finalidade seja o processo.
             Trabalhar as artes na escola é desenvolver habilidades específicas.  Aplicá-las para que se desenvolva olhar crítico é o que miram os estudos em arte-educação, engessá-las para que sejam produzidas quarenta pinturas iguais com a temática do dia do índio, é rumo que se tem tomado. A emancipação se concebe quando os alunos são vistos não como copiadores ou como colaboradores, mas como criadores. O estímulo inicial do docente não deve criar barreiras para que as quarenta significações singulares tomem forma. Portanto, essa é a real finalidade da arte na escola, servir à escola enquanto disciplina que possibilita o desenvolvimento das dimensões cênicas, musicais, visuais e do movimento no ser humano. Isso, com finalidade no mesmo. Arte-educação não talha trabalhador, viabiliza o cidadão.

Bibliografia consultada
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (coleção Leitura)
FERREIRA, Sueli. O Ensino das artes: construindo caminhos. Campinas, SP: Papirus,  2001. (coleção Ágere)
SANTOS, João. No discurso de crises, a busca por uma educação utilitarista e neoliberal. Entrevista especial com Roberto Dias da Silva. Disponível em: www.ihu.unisinos.br/159-notícias/entrevistas/569584-no-discurso-de-crises-a-busca-por-uma-educacao-utilitarista-e-neo-liberal-entrevista-especial-com-roberto-dias-da-silva>. Acesso em: 05 de julho de 2018.
CAMILO, Camila. Arte e a liberdade para criar. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/3447/arte-e-a-liberdade-para-criar>. Acesso em: 05 de julho de 2018.
FRIGOTTO, Galdêncio. Capital Humano.
Lenoir, Y. (2016). O utilitarismo de assalto às ciências da educação. [ebook] Curitiba: Educar em Revista, pp.159-167. Available at: https://revistas.ufpr.br/educar/article/view/47109 [Accessed 5 Jul. 2018].

A EXTENSÃO DENTRO DA UNIVERSIDADE – UMA OPORTUNIDADE DE APROXIMÁ-LA DAS CLASSES POPULARES


      


Ingrid Victoria Xavier Silva Machado

     Muito se fala sobre como as universidades são espaços privilegiados à elite, e que apenas recentemente, graças a política de ações afirmativas, começou a ocorrer uma reparação, ainda longe do ideal, que possibilitou a membros de classes sociais menos favorecidos o acesso a uma educação formal superior.
      Como mencionado anteriormente, a reparação histórica que vem ocorrendo nos últimos anos ainda está longe do ideal, e, infelizmente, muitos trabalhadores que pagam pela educação de pessoas que tem caráter aquisitivo para bancar seus próprios estudos nunca terão a oportunidade de pisar em um campus universitário como membros do seu corpo discente.
      Para aqueles que tiveram o privilégio, as atividades de extensão que ocorrem dentro das universidades, são uma oportunidade de aproximar a universidade dessas pessoas e de devolver a elas, em parte, uma parcela daquilo que elas nos possibilitaram.
     Aliando conceitos inseparáveis como teoria (pesquisa) e prática (ensino), a as atividades de extensão oferecem ao aluno a possibilidade de expandir seu conhecimento da teoria sobre a área em que se debruça enquanto aplica aquele conhecimento na vida real, impactando e transformando a vida daqueles que são alcançados por esse exercício.
       Além disso, é uma maneira de se desvencilhar da repetição exagerada da teoria, que obviamente é importante, mas que se torna vazia sem a prática. É uma experiência enriquecedora para as duas vias que participam do processo e possibilita, ao estudante, uma oportunidade além da sala de aula, onde ele passa de expectador do conhecimento adquirido na mesma e o coloca em aplicação na realidade.

DA UTOPIA À REALIDADE


     
Diego Santos de Sousa

              O presente ensaio, baseado nos textos vinculados à temática de “Discriminação e Preconceito”, tem como objetivo abordar a questão LGBT dentro das unidades escolares, possibilitando iniciar discussão acerca dos desafios enfrentados por esse grupo social e evidenciar as condições que muitas  vezes, impossibilitam a permanência do aluno dentro das instituições de ensino. 
        Dentro dessa perspectiva, será possível evidenciar os aspectos que estão relacionados à educação, no que diz respeito ao ambiente escolar encontrado por estudantes LGBT e os principais desafios para se obter uma equidade no ambiente educacional. Do mesmo modo, será possível iniciar discussão acerca da necessidade de realização de ações afirmativas para combater a discriminação e promover a igualdade de gênero dentro do ambiente escolar.
        Quando abordamos a questão do respaldo legal no que diz respeito ao direito à educação, é possível encontrar uma vasta legislação que assegura tal direito, contudo, ainda há ineficiência em relação à aplicabilidade das respectivas normas jurídicas que impossibilita a sua usufruição plena. Se fizermos uma análise do cenário educacional brasileiro, muito provavelmente será possível evidenciar que há um conjunto de normas respaldando o acesso dos estudantes ao ambiente escolar, entretanto, há uma insuficiência de mecanismos para possibilitar a permanência e para promover o respeito as particularidades do alunado.
        Estudo realizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso-Brasil), Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação a Ciência e a Cultura (OEI), e do Ministério da Educação do Brasil, constatou que “um em cada cinco estudantes do ensino público brasileiro declara abertamente não querer ter um colega homossexual em sua classe”.
             Além disso, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) obteve em 2011, o índice de que apenas 44% das escolas de Ensino Médio possuíam projetos com temática sobre homofobia ou machismo, com isso, podemos evidenciar que há a necessidade de construir um ambiente escolar que contemple políticas afirmativas e que possibilite o debate e a conscientização dos entes envolvidos, colaborando para a diminuição das discriminações no ambiente escolar e para a consolidação de uma estrutura que defenda a construção de um currículo pautado pelo respeito aos direitos humanos e que tenha como ponto central o respeito à diversidade.

            Os desafios para alcançar a consolidação de um espaço escolar onde se respeite o pluralismo social e possibilite ao estudante condições dignas de estudo, com certeza, precisam ser enfrentados e não somente colocados em pauta nas discussões nos planejamentos governamentais, mas também precisam ser requeridos em todos os âmbitos possíveis. As dificuldades em romper com padrões tradicionais, principalmente aos relacionados à identidade de gênero e questões envolvendo sexualidade, ainda é uma constante dentro das escolas e no que diz respeito a políticas afirmativas e na elaboração de ações para combater a homofobia.

            No mesmo sentido, é imprescindível que tenhamos um governo que se comprometa com a elaboração de políticas públicas e ações afirmativas para combater as discriminações dentro do ambiente escolar e que de fato, se preocupe com a implementação e a manutenção de tais medidas, em prol da construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde as identidades sejam respeitadas e que o cotidiano escolar possa ser mais diverso e saudável para todos os agentes envolvidos.  A participação das entidades e movimentos sociais na elaboração e no acompanhamento da implementação institucional de medidas para combater a homofobia, a segregação educacional, e a formulação de estratégias para combater as desigualdades históricas é de grande importância para a mudança do sistema educacional e para a construção de um ambiente escolar onde se respeite a pluralidade e as particularidades do indivíduo.

Referências bibliográficas
VIANNA, Cláudia P. O movimento LGBT e as políticas de educação de gênero e diversidade sexual: perdas, ganhos e desafios, SCIELO.
INSTITUTO UNIBANCO, Silêncio da escola em relação à diversidade sexual prejudica a todos, aprendizagem em foco, Nº 11. Mai. 2016.
RANIERI, Nina. B.S. – ALVES, Angela. L.A. Direito à educação e direitos na educação. 2018.
MEC. Juventudes na Escola, Sentidos e Buscas: Escola, por que enfrentam? 2015.
PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. 2014.





DESIGUALDADES EDUCACIONAIS DOS POVOS INDÍGENAS E QUILOMBOLAS




Thais Jesus da Silva

      O reconhecimento dos povos indígenas e quilombolas no Brasil tem uma grande representatividade histórica na visibilidade étnica e cultural da nossa sociedade, cujas matrizes fazem parte da nossa ancestralidade e identidade.
Sabemos que as desigualdades educacionais constituem graves problemas na sociedade brasileira e estão relacionadas à estrutura socioeconômica, cultural e política do nosso país.  Se fizermos uma análise histórica do processo de colonização do nosso país  encontraremos um Brasil com modelo europeu de escola catequizadora dos povos indígenas  por meio de conhecimentos e valores da sua sociedade, não sendo diferente em relação aos negros, que em decorrência da escravidão  se mantinham submissos à vontade dos seus senhores  sem nenhum acesso a educação.
        A Lei 10.639 de 2003 e suas diretrizes curriculares são voltadas para o ensino da educação afro-brasileira e  africana nas escolas com politicas voltadas para a valorização da identidade, da memória e da cultura negra. Mas, para que essa lei seja aplicada na prática  há ainda um grande desafio, pois nas escolas ainda há a grande problemática do preconceito e discriminação que essas pessoas sofrem no ambiente escolar. Alunos de orientação religiosa africana, como, por exemplo, candomblé e umbanda são alvos de discriminação e perseguição dentro das escolas. Essas agressões são cometidas por alunos e até por professores que fazem parte de outras religiões. Na sociedade que vivemos hoje tudo que vem do negro já é visto de uma forma pejorativa, o racismo ainda é muito frequente nas escolas, a falta de interesse das pessoas em conhecer para aprender a respeitar a diferença do outro é uma realidade.
Quando se fala em cultura negra aplicada nas escolas no plano de ensino, o único tema que se fala é sobre escravidão, desprezando totalmente a diversidade cultural dentro das escolas sem falar dos costumes do povo, de seus valores e cultura. O papel do negro na sociedade, sobretudo na educação infantil, possui conteúdo abordado de  forma folclórica,  onde se fala, por exemplo, de Saci Pererê como representação dos negros. A educação indígena da mesma forma é comemorada apenas o dia do índio onde colocam crianças sentadas em círculos com penas na cabeça e fazendo barulho representando os povos indígenas. 
É preciso mudar essa realidade! A escola deve ser um espaço onde a diversidade cultural deve ser respeitada e demonstrada de maneira profunda, para que possamos conhecer a cultura, aprender com diversidade e respeitá-la.
Assim como aponta o autor Boaventura de Souza Santos (2006): "Temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes sempre que a igualdade nos caracteriza."

segunda-feira, 9 de julho de 2018

A EDUCAÇÃO NÃO PODE SER MAIS UM NEGÓCIO



Pietra Giovanna P. de Souza


       Com o surgimento de programas sociais financiados pelo governo e vinculados à educação como o Fies (2000) e o ProUni (2014), parcelas da população que normalmente não teriam a oportunidade de acesso ao ensino superior em outras situações, começaram a compor e ocupar espaços em faculdades e universidades privadas. Como consequência desses programas, o setor da educação brasileira vem apresentando grandes e rápidos saltos quantitativos nas últimas décadas.
As instituições privadas através dos programas, de fato, possibilitam a oportunidade de acesso e formação de muitos estudantes, sendo que milhares destes contam com empréstimos do fundo de financiamento estudantil do ministério da educação (Fies) para custear sua educação, mas ao mesmo tempo embute uma distorção que corresponde ao subsídio sem risco para grandes conglomerados de ensino que entram em condição de inadimplência, pois se sustentam pelo Estado.
Com o fim das relações empresa e cliente e/ou aluno e instituição, que passam a ocorrer entre governo federal e instituição de ensino, os setores privados de educação encontram a oportunidade de um negócio ideal: sem risco, com clientes cativos e receitas garantidas. Assim, a educação entra em território capitalista onde se iniciam os movimentos dos aglomerados em busca de aquisições de escolas de ensino superior pelo Brasil, que resultam em um grande processo de fusões e, posteriormente, no nascimento de empresas multinacionais de ensino. Os espaços que eram, até então, de liberdade de pensamento passam a se converter em espaços de livre de mercado.
O controle da educação por grupos mais preocupados com as obtenções de lucros do que com a qualidade de ensino propriamente fornecido, contribuem com as disseminações de lógicas meritocráticas, avaliações de desempenho e mecanismos de controle, além das privações da autonomia docente.
  Nesse cenário, as instituições de ensino superior perdem seu real sentido e essência enquanto locais que promovem reflexões, experimentações e incentivos ao pensamento crítico em relação a questões de desenvolvimentos sociais, econômicos e políticos da sociedade, sendo de fato emancipadoras e autônomas, enquanto atendem demandas que elas próprias geram em função das evoluções dos processos de conhecimento, e não das expectativas do mercado.
                            Nas discussões cotidianas, quando pensamos em currículo pensamos apenas em                                                 conhecimento, esquecendo-nos do que o conhecimento que constitui o currículo está                                        inextricavelmente, centralmente, vitalmente, envolvido naquilo que somos,
                              naquilo que nos tornamos: na nossa identidade, na nossa subjetividade. (SILVA, 2015, p.15)

Ao tratar a educação, primeiramente, como um produto rentável se reduz o indivíduo a condição de um objeto maleável de acordo com a vontade daqueles que detém o poder ou que pagam mais. Entra em xeque, não apenas o conhecimento e integridade humana, mas também todo o futuro e projeto de País.
Não se pode considerar a educação um negócio, pois ela está ligada a uma série de processos essenciais ao desenvolvimento do ser enquanto cidadão, enquanto humano. Se desprender dessa lógica perversa de mercado representa mais do que a urgência ao conhecimento e a integridade, significa pensar e dar valor a vida.
A educação que queremos não é nada além do que a educação que precisamos,  aquela que não nos ponha à venda, aquela que não subestime nossa capacidade e valor, aquela que priorize qualidade acima de quantidade, aquela que faça as perguntas certas, aquela que possibilite espaços ativos de diálogo, aquela que zele pelos nossos direitos, aquela que realmente se torne a nossa voz.

REFERÊNCIAS
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias de currículo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015
FEPESP. O negócio da educação: A aventura das universidades privadas na terra do capitalismo sem risco. São Paulo: Olho d’água, 2017.

ESTRESSE ESTUDANTIL NO ENSINO MÉDIO


          

Willian J. S. Mello

                A adolescência tem início, com base em exames teóricos, na puberdade. Este é de fato um período de fortes mudanças no que tange o caráter físico e psicológico do individuo. Nesta fase, o jovem se depara com novas responsabilidades no âmbito familiar e escolar, das quais podem leva-lo a um processo desgastante no que condiz a sua rotina escolar tendo em vista o momento que, por muitas vezes, é a chegada a nova fase do ensino médio, aliado ao processo biológico que se desloca temporalmente em seu corpo. A junção desses fatores pode sobrecarregar psicologicamente o indivíduo e leva-lo ao quadro de estresse.
          Ao tratar-se do âmbito escolar, temos nesse momento da vida uma grande preocupação com o futuro e as cobranças entorno do ingresso no ensino superior, que acabam por se tornar algo prioritário para muitos dos jovens que permeiam essa fase. Esse processo de entrada na adolescência acarreta mudanças nas atitudes em relação a interação coletiva com os demais, atividades infantis são deixadas e ocorre então processo de transição para o mundo adulto. As expectativas referentes ao amadurecimento, independência e autonomia do indivíduo em transição são exigidas pela sociedade. Dessa forma, os familiares e pessoas mais próximas ao jovem exercem influência sobre o futuro do mesmo, visto que é no ambiente familiar e íntimo que o adolescente cria e vivencia sonhos e expectativas (SANTOS, 2005, p.58).
          Nesse processo de amadurecimento da fase adolescente, os mais diversos métodos de entrada no curso superior se tornam cada vez mais presentes na vida do estudante. Em várias escolas os alunos começam a se preparar antes mesmo de entrarem no ensino médio, como já vem ocorrendo há alguns anos nas escolas de Brasília, sobretudo nas escolas particulares, em relação ao Processo de Avaliação Seriada (PAS). Nesse contexto, os estudantes são colocados para fazer provas anuais com matérias de cada ano respectivo. A pressão sobre os estudantes é intensa, tendo em vista a dificuldade do exame e tudo aquilo que o ingresso numa instituição de ensino pública representa para a vida de muitos e muitas.
          Com isso, pode-se afirmar que o processo de seleção para as universidades é um fenômeno causador de grande estresse na vida desses jovens que procuram a entrada no ensino superior. É recomendado que haja uma espécie de orientação com os jovens a níveis de saúde – física e emocional. O estresse tende a se expressar por conta da tensão exacerbada e influi na diminuição da memória, muita sonolência, diminuição do apetite, irritabilidade, perda da concentração, etc.
          Segundo a OMS, o ser humano é um todo integrado, composto de diversas partes que interagem entre si e com o mundo. O que se percebe como alternativa válida é tratar as dificuldades através de uma visão interdisciplinar. O papel dos profissionais da área da saúde (psicólogos/psicopedagogos) é fundamental no sentido de esclarecer e alertar o indivíduo quanto aos possíveis males que um sintoma psicológico pode causar. O sintoma é uma manifestação de sofrimento ou até uma forma de pedir ajuda. Assim, considera-se importante que este receba acompanhamento e dedicação.

O RESPEITO AO TEMPO DA CRIANÇA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM


           

Sabrina Araujo de Santana

             O processo de aprendizagem acontece desde quando nascemos e com o passar do tempo esse processo vai se modificando e se adequando a realidade que nos cerca. A aprendizagem se dá de forma natural e ao longo de nossas vidas estamos sempre aprendendo por inúmeras formas, fórmulas, jeitos e acumulando conhecimento. A temporalidade de cada processo precisa ser respeitada, para que o desenvolvimento da inteligência e a construção do conhecimento façam parte de um movimento da vida harmonioso.
            Para entendermos esses processos dos quais passamos, volto-me ao biólogo e psicólogo suíço Jean Piaget que procurou entender como os homens constroem o pensamento e para responder a esse questionamento epistemológico ele utilizou as crianças e aos seus processos para analisar como essa construção de fato acontece.
            Piaget compreende que o crescimento da inteligência se dá pela capacidade de organização dela própria. Ele também afirma que a organização da aprendizagem passa por processos, e esses processos são definidos por estágios, que representa uma lógica de “saltos” a serem superados, ou seja, não se trata de um processo linear, mas sim, de rupturas que vai atender a complexidade de que se quer dar ao conhecimento.
          Política Pública Educacional é também entender sobre como as crianças formam seus pensamentos nos diferentes percursos de desenvolvimento da inteligência, uma vez que  permite que possamos respeitar e agir de forma que as auxiliem no processo de aprendizagem. Entender que é necessário respeitar seu tempo é ser antes de tudo cauteloso com o futuro que existe dentro dessas mentes que estão a brilhar. Acelerar esses processos pode causar danos futuros perversos em curto prazo, como “dificuldades de aprendizagem, cansaço escolar, deficiência de atenção ou perda de motivação”, mas se pensarmos em questões futuras, realmente, levará a uma expressiva deficiência no desenvolvimento desses jovens e adultos.
            Por isso, se faz necessária, uma educação que atenda as especificidades de cada região, de idade, de realidade, enfim, para que possamos de fato concretizar os conhecimentos e as virtudes que uma boa educação pode nos agregar. Acelerar os processos de aprendizagem, quando se devia apenas respeitar a naturalidade dessa construção, diz respeito a uma lógica mercantil e capitalista de produção que não se preocupa com qualidade, mas sim, com quantidade o que nos torna cada vez mais descolados de nossa humanidade e promove uma tentativa de nos tornar potencias engrenagens de uma grande máquina desse enorme sistema que rege e pede pressa, sendo que a vida é só uma, e o dinheiro não deveria ser o que comanda a lógica da existência, mas sim, a construção de seres e mentes brilhantes que somos capazes de ser, pela educação, pelo respeito, pelo amor, pela caridade e só respeitando cada processo, desde a infância, a adolescência, a juventude, a vida adulta e a vida madura conseguiremos passar mais ilesos dessa máquina que vem destruindo toda a nossa historicidade enquanto seres, nos transformando em máquinas.


Referências Bibliográficas

A CULTURA NA EDUCAÇÃO: CONSTRUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE                                                                    ...