Dmitry Galvão
Wasserman
Em uma conjuntura de grave crise e dos mais
diversos retrocessos, a reflexão acerca do tipo de Universidade que queremos
pode parecer um pouco distante, mas refletir acerca da importância da extensão
popular parece uma tarefa cada vez mais urgente.
Em primeiro lugar, faz-se necessário compreender do
que trata esse novo modelo de universidade e qual a sua relação com a extensão
popular.
Na atualidade
predomina no ensino superior brasileiro uma lógica extremamente produtivista e
na maioria dos casos, essa produção encontra-se deslocada das realidades
vividas tanto localmente como regional e nacionalmente. O tripé sobre o qual se
assenta a universidade brasileira: ensino, pesquisa e extensão sempre
privilegiou a pesquisa em detrimento da extensão e essa última, que tem por
missão levar o conhecimento produzido nas universidades para além de seus muros
acaba ficando secundarizada ou até mesmo misturada com os interesses da
iniciativa privada, quando por exemplo as Empresas Juniores se apresentam como
extensão.
Não se trata
de extensão pois apesar de o estudante receber qualificação e experiência
profissional, o principal elemento da extensão, que é o retorno de estudantes e
professores à sociedade, não ocorre. Infraestrutura, laboratórios, tempo de
pesquisa e de trabalho de estudantes de universidades públicas ficam
comprometidos em trabalhos que trazem benefício apenas para empresas que, por
sua vez, escolhem essa modalidade de serviço por ser muito mais barato utilizar
a força de trabalho de estudantes em período de graduação do que a de
engenheiros formados, por exemplo, além das universidades brasileiras, no
geral, disporem de boa infraestrutura. É mais um caso do que é público
servir ao lucro privado.
A alternativa a essa modalidade é sem dúvida a
extensão popular. Atividades e projetos dos mais variados que levem retorno à
sociedade que financia a universidade e que em grande parte não se servem do que
nela se produz. Estudantes de licenciatura que organizam um cursinho popular,
estudantes de direito prestando assessoria jurídica popular, estudantes de
engenharia que se mobilizam para colocar wifi a baixo custo e com componentes
reciclados em periferias, estudantes da área da saúde fazendo campanhas de
conscientização sobre saúde pública e prevenção. Tudo isso é extensão popular e
tem impacto direto sobre a realidade social, fazendo a ponte entre o estudante
universitário, o conhecimento produzido e a realidade social. De outro lado, o estudante adquire a necessária experiencia
e qualificação profissional, porém fora de uma relação de trabalho de
superexploração, afinal parece não haver outro nome para estudantes receberem
R$ 400,00 por trabalhos pelos quais técnicos formados e qualificados recebem
pelo menos R$ 2.000,00.
A Universidade Popular é aquela que é constituída e
ocupada pela classe trabalhadora e que produz conhecimento em seu benefício. A Universidade Pública é uma enorme conquista da sociedade brasileira, mas como a
educação, não está separada de outras esferas da sociedade, ainda está
fortemente associada à lógica do lucro, da competitividade e do individualismo.
Em um contexto em que o governo neoliberal declara guerra aberta à educação pública
de qualidade, é essencial que toda a sociedade se posicione de forma
intransigente na defesa desta, porém, é preciso ter como horizonte e na
construção cotidiana a possibilidade e necessidade desse projeto que coloque em
definitivo a universidade brasileira em sincronia com as necessidades e
reflexões da sociedade. A extensão popular pode ser justamente esse vínculo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário