Khalil
Brenno Alves Mota
Quando pensamos nas formas de organização da vida em
sociedade, estruturas dialógicas parecem surgir como norteadores simbólicos. Bom
e ruim, verdadeiro e falso, positivo e negativo, esquerda e direita e até mesmo
os zeros e uns que compõem o código do programa em que esse texto é redigido.
Pensar sobre essas categorias pode nos fornecer uma chave de leitura apropriada
para a compreensão de inúmeras formas do pensar e agir humano, bem como do porquê
de uma certa organização se estruturar como se estrutura.
Pelo objeto a ser analisado aqui (formas de
organização estudantil no meio universitário) percebemos o caráter local dessa reflexão. Aqui, as
perspectivas psicológicas, do comportamento organizacional e das teorias de
cooperação aparecem como varáveis mais efetivas do que grandes esquemas
teóricos. Todavia o que se pretende no texto é pensar de maneira local, mas com
um ferramental teórico global, digamos, e assim tentar descobrir algo novo.
Em a Ética
protestante e o espirito do capitalismo, Max Weber busca encontrar uma tese
interpretativa do ethos capitalista.
Weber investiga as formas como a economia capitalista, em certo sentido, tem
sua fundação em uma determinada estrutura de pensamento coletivo, que é basilar
para que as coisas funcionem como tal, bem como específica de determinados
ambientes. Se a tese economicista advinda da literatura marxiana parece não ter
um poder explicativo grande o suficiente, Weber rastreia as condições de possibilidade
para que ações capitalistas encontrem o seu grau de efetividade desejado.
Fenômenos que eram na tradição marxiana colocados
como externalidade derivada da
superestrutura, são, agora, elevadas as mesmas condições de análise. Essas
externalidades, tais como arranjos institucionais, formas burocráticas
específicas, modelos jurídicos ou a sociologia das religiões passam a ter
grande importância para Weber. O autor descaracteriza as ideias historicistas
de espirito racional para a formação da empresa capitalista, assim como as
marxianas de relativização de tais externalidades para uma ênfase na economia
política. Em certo sentido, Weber se coloca entre Marx e Hegel na tradição
dialética e econômica, assim como posteriormente na tradição pragmática atribuída
aos norte-americanos. Essa posição weberiana é interessante pois o autor
consegue relacionar os fatores contingentes do ambiente ao mesmo tempo em que
não cai no pueril do empirismo de ocasião.
Mas o que Weber tem a ver com como estudantes se
organizam em universidades? Bom, se usarmos a mesma estratégia weberiana de
elevar o que é tido como derivado ao nível do que é tido como basilar, ou seja,
se olharmos sobre o como os estudantes universitários se organizam como quem
olha as condições específicas para que um certo ethos emerja, podemos, assim como Weber, rastrear as condições de
possibilidade desse ethos e entender
como ele surge e como maneja-lo.
Seja em organizações de esquerda ou de direita, de
cunho militante ou acadêmico, os estudantes universitários parecem se organizar
em cima de um determinado pêndulo: entre o pragmatismo e o utopismo. Por
pragmatismo devemos entender uma ênfase as ações objetivas, palpáveis, pouco
ambiciosas. Um discurso que se apresenta pelo fim da possibilidade de grandes
mudanças do establishment. Por
organizações do tipo utopista devemos compreender que se busca análises
totalizantes, que têm como características uma grande quantidade de variáveis a
serem atacadas. Os utopistas querem a transformação do impossível em possível.
Levando em conta as virtudes e defeitos que certamente os dois espectros tem,
como podemos perseguir um pensamento coletivo comum às duas noções e qual é o ethos que os une?
Parece
claro que pessoas se juntam em organizações com um determinado objetivo comum.
Universitários que entram para a Juventude
de um Partido político dentro da universidade, por exemplo, buscam realizar
nessa organização determinadas ações que são compreendidas, dentro desse
coletivo, como necessárias e seus métodos se apresentam como componente
endógeno da necessidade dessas ações serem realizadas. Portanto, podemos
atribuir ao pensamento coletivo comum das formas de organização universitária a
junção entre necessidades e métodos.
Se temos na percepção das necessidades de mudança um
imperativo: a organização, temos num segundo momento a necessidade de se ter um
método para a realização dessas ações necessárias. Parece que quando se diverge
sobre o como agir, tem-se na verdade, e de maneira materialista, uma
divergência sobre o que realmente é necessário de se mudar. A ação pragmática
parece explicitar, pelo seu método de ação, uma timidez na análise de realidade
e do que é realmente necessário mudar. Enquanto a organização utópica parece
ser incapaz de levar até as últimas consequências o método indispensável para a
mudança necessária que ela prega.
Se em Weber a ética
protestante era a variável que promovia a emergência do espírito
capitalista, a relação necessidade/método afigura ser o espirito dialógico que norteia as configurações das organizações
estudantis. Analisar esses pontos são cruciais para que se construa
organizações que possam ser efetivas do ponto de vista daquilo que elas desejam
e entregam.
Bibliografia:
WEBER, Max. A
Ética protestante e o espírito do capitalismo: texto integral Companhia das
Letras, São Paulo, 2004.
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