domingo, 8 de julho de 2018

ENTRE O PRAGMATISMO E O UTOPISMO DAS ORGANIZAÇÕES ESTUDANTIS




Khalil Brenno Alves Mota

     Quando pensamos nas formas de organização da vida em sociedade, estruturas dialógicas parecem surgir como norteadores simbólicos. Bom e ruim, verdadeiro e falso, positivo e negativo, esquerda e direita e até mesmo os zeros e uns que compõem o código do programa em que esse texto é redigido. Pensar sobre essas categorias pode nos fornecer uma chave de leitura apropriada para a compreensão de inúmeras formas do pensar e agir humano, bem como do porquê de uma certa organização se estruturar como se estrutura.
     Pelo objeto a ser analisado aqui (formas de organização estudantil no meio universitário) percebemos o caráter local dessa reflexão. Aqui, as perspectivas psicológicas, do comportamento organizacional e das teorias de cooperação aparecem como varáveis mais efetivas do que grandes esquemas teóricos. Todavia o que se pretende no texto é pensar de maneira local, mas com um ferramental teórico global, digamos, e assim tentar descobrir algo novo.
     Em a Ética protestante e o espirito do capitalismo, Max Weber busca encontrar uma tese interpretativa do ethos capitalista. Weber investiga as formas como a economia capitalista, em certo sentido, tem sua fundação em uma determinada estrutura de pensamento coletivo, que é basilar para que as coisas funcionem como tal, bem como específica de determinados ambientes. Se a tese economicista advinda da literatura marxiana parece não ter um poder explicativo grande o suficiente, Weber rastreia as condições de possibilidade para que ações capitalistas encontrem o seu grau de efetividade desejado.
     Fenômenos que eram na tradição marxiana colocados como externalidade derivada da superestrutura, são, agora, elevadas as mesmas condições de análise. Essas externalidades, tais como arranjos institucionais, formas burocráticas específicas, modelos jurídicos ou a sociologia das religiões passam a ter grande importância para Weber. O autor descaracteriza as ideias historicistas de espirito racional para a formação da empresa capitalista, assim como as marxianas de relativização de tais externalidades para uma ênfase na economia política. Em certo sentido, Weber se coloca entre           Marx e Hegel na tradição dialética e econômica, assim como posteriormente na tradição pragmática atribuída aos norte-americanos. Essa posição weberiana é interessante pois o autor consegue relacionar os fatores contingentes do ambiente ao mesmo tempo em que não cai no pueril do empirismo de ocasião.
     Mas o que Weber tem a ver com como estudantes se organizam em universidades? Bom, se usarmos a mesma estratégia weberiana de elevar o que é tido como derivado ao nível do que é tido como basilar, ou seja, se olharmos sobre o como os estudantes universitários se organizam como quem olha as condições específicas para que um certo ethos emerja, podemos, assim como Weber, rastrear as condições de possibilidade desse ethos e entender como ele surge e como maneja-lo.
     Seja em organizações de esquerda ou de direita, de cunho militante ou acadêmico, os estudantes universitários parecem se organizar em cima de um determinado pêndulo: entre o pragmatismo e o utopismo. Por pragmatismo devemos entender uma ênfase as ações objetivas, palpáveis, pouco ambiciosas. Um discurso que se apresenta pelo fim da possibilidade de grandes mudanças do establishment. Por organizações do tipo utopista devemos compreender que se busca análises totalizantes, que têm como características uma grande quantidade de variáveis a serem atacadas. Os utopistas querem a transformação do impossível em possível. Levando em conta as virtudes e defeitos que certamente os dois espectros tem, como podemos perseguir um pensamento coletivo comum às duas noções e qual é o ethos que os une?
     Parece claro que pessoas se juntam em organizações com um determinado objetivo comum. Universitários que entram para a Juventude de um Partido político dentro da universidade, por exemplo, buscam realizar nessa organização determinadas ações que são compreendidas, dentro desse coletivo, como necessárias e seus métodos se apresentam como componente endógeno da necessidade dessas ações serem realizadas. Portanto, podemos atribuir ao pensamento coletivo comum das formas de organização universitária a junção entre necessidades e métodos.
     Se temos na percepção das necessidades de mudança um imperativo: a organização, temos num segundo momento a necessidade de se ter um método para a realização dessas ações necessárias.    Parece que quando se diverge sobre o como agir, tem-se na verdade, e de maneira materialista, uma divergência sobre o que realmente é necessário de se mudar. A ação pragmática parece explicitar, pelo seu método de ação, uma timidez na análise de realidade e do que é realmente necessário mudar. Enquanto a organização utópica parece ser incapaz de levar até as últimas consequências o método indispensável para a mudança necessária que ela prega.
     Se em Weber a ética protestante era a variável que promovia a emergência do espírito capitalista, a relação necessidade/método afigura ser o espirito dialógico que norteia as configurações das organizações estudantis. Analisar esses pontos são cruciais para que se construa organizações que possam ser efetivas do ponto de vista daquilo que elas desejam e entregam.    

Bibliografia:
WEBER, Max. A Ética protestante e o espírito do capitalismo: texto integral Companhia das Letras, São Paulo, 2004.

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