A ARTE EM TODAS AS INSTÂNCIAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Ana V. Rabelo
É sabido que os processos de desenvolvimento humano além de
serem extremamente arrojados, agregam uma infinidade de complexidades e
realidades pertencentes a cada indivíduo. Os princípios, medos, dogmas,
valores, certezas e incertezas permeiam toda a construção humana, desde seu
princípio até a sua morte. Vale retificar que tais perspectivas nos são
colocadas desde a infância. O processo cultural pelo qual estamos inseridos, o
país, cidade, família, que tipo de escola frequentamos e outras questões dizem
muito a nosso respeito.
Dada essas circunstâncias, cabe neste momento um simples
questionamento no tocante a existência ou não da arte nesse processo. De certo
parece, num primeiro momento, descabido tal pensamento, afinal a arte não se
baseia simplesmente as divisórias de uma faculdade, picadeiro, palco ou
qualquer lugar aonde se “fazer arte” é “politicamente correto”. E ela existe
por si só, desde os primórdios da sociedade e apontar o momento que ela se faz
presente ou não, não é o caso.
Tomando como base o sistema bioecológico de Bronfenbrenner,
que consiste em entender o desenvolvimento humano a partir de quatro pontos:
“PPCT – Processo, pessoa, contexto e tempo” e a interdisciplinaridade artística
defendida por Ana Mae criamos a partir de agora uma linha de pensamento que
consiste em entender o desenvolvimento infantil a partir das referências e
diálogos estabelecidos com as artes, seja ela, nesse primeiro momento, musical,
plástica, cênicas e etc.
A fase do PROCESSO (PPCT), se dá nas interações
recíprocas que acontecem de maneira gradativa, em termos de complexidade, entre
o sujeito e as pessoas, objetos e símbolos presentes no seu ambiente imediato
(Bronfenbrenner y Morris, 2006). Se olharmos
esse parâmetro, podemos ver um momento perfeito para a inserção da arte. Se as
interações devem ser recíprocas e de forma gradativa notasse aqui um terreno
extremamente fértil para o jogo, para a brincadeira. O jogo por si só carrega
uma gama de aprendizados, regras e possibilidades que de forma direta capacitam
o ser humano no processo de desenvolvimento.
Abrindo espaço para a próxima fase, a PESSOA (PPCT),
Bronfenbrenner reconhece a relevância de fatores biológicos mas aponta que as
realidades de cada indivíduo são fatores de extrema relevância. Sob o âmbito da
arte podemos elucidar tal situação da seguinte maneira. Digamos, em uma
situação hipotética, que um determinado grupo de indivíduos possuiu desde a sua
infância acesso a arte musical, plástica, cênica e costumam cotidianamente
fazer diversas brincadeiras, participar de diversas atividades esportivas e
fazer diversos tipos de danças. Entretanto, outro grupo não obteve tamanha
dádiva. Sem sombra de dúvidas, o segundo grupo sairá perdendo, em questões
condizentes a psicomotricidade, pensamento lógico, proatividade, tempo, ritmo,
dentre outros. A arte mais uma vez é fator indispensável para o processo
educativo da criança.
Por último, o CONTEXTO e TEMPO (PPCT) se destacam principalmente
se olharmos a atual conjuntura social em que nos encontramos. O ambiente e
tempo em que nascemos, vivemos e nos desenvolvemos dizem muito a respeito de
quem somos e de que tipo de reverberações artísticas podemos conviver ou não.
Se nascemos durante a ditadura militar ou no ano de 2018, isso diz muito a
respeito de como enxergaremos tudo aquilo que nos cerca. Retifico, mais uma
vez, que o processo de ensino-aprendizagem da arte é de suma para toda uma
construção social.
O diálogo entre diversas áreas artísticas se faz necessário
cada vez mais a partir do momento em que o próprio desenvolvimento humano não
está fracionado. E isso se retifica na própria infância. Uma criança não
pertence a um único modelo de aprendizado, ele não aprende exclusivamente
brincando ou de forma tecnicista, este modelo monocentrico perde cada vez mais
espaço para uma construção baseada na oportunidade de diversos saberes.
Numa perspectiva contemporânea de Educação, torna-se
necessário e urgente o amadurecimento de propostas de ensino de teatro capazes
de desenvolver as habilidades e competências necessárias ao exercício de cada
um dos vários campos de atuação no teatro. (ARAÚJO, José Sávio Oliveira. Para
além dos modelos monocêntricos)
Saliento que os desafios de se manter e/ou somar ainda mais a
arte a todo o contexto social, é extremamente complicado. Mas que nós,
sociedade de um modo geral não só educadores ou futuros educadores, compremos
essa luta e nos coloquemos a frente das reais necessidades que diariamente nos
são mostradas e que facilmente poderiam ser sanadas com muita arte. Seja musical, plástica, cênica ou outra
qualquer que se defina daqui para a frente, que a arte possa construir uma
relação de ensino-aprendizagem com as crianças, futuro daquilo que almejamos
muda.
Bibliografia:
*
BENETTI, I. C. VIEIRA, M. L, CREPALDI, M. A. SCHNEIDER, D. R. Fundamentos da
teoria biológica de Urie Bronfenbrenner. Pensando
Psicologia.
* BARBOSA, Ana Mae – Interterritorialidade na
Arte/Educação e na Arte. In Interterritorialidade – Mídias, contextos e
educação.
*ARAÚJO,
José Sávio Oliveira. Para além dos modelos monocêntricos. In. Revista Moringa –
Teatro Dança.
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