sexta-feira, 31 de maio de 2019



A ARTE EM TODAS AS INSTÂNCIAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

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Ana V. Rabelo 

É sabido que os processos de desenvolvimento humano além de serem extremamente arrojados, agregam uma infinidade de complexidades e realidades pertencentes a cada indivíduo. Os princípios, medos, dogmas, valores, certezas e incertezas permeiam toda a construção humana, desde seu princípio até a sua morte. Vale retificar que tais perspectivas nos são colocadas desde a infância. O processo cultural pelo qual estamos inseridos, o país, cidade, família, que tipo de escola frequentamos e outras questões dizem muito a nosso respeito.
Dada essas circunstâncias, cabe neste momento um simples questionamento no tocante a existência ou não da arte nesse processo. De certo parece, num primeiro momento, descabido tal pensamento, afinal a arte não se baseia simplesmente as divisórias de uma faculdade, picadeiro, palco ou qualquer lugar aonde se “fazer arte” é “politicamente correto”. E ela existe por si só, desde os primórdios da sociedade e apontar o momento que ela se faz presente ou não, não é o caso.
Tomando como base o sistema bioecológico de Bronfenbrenner, que consiste em entender o desenvolvimento humano a partir de quatro pontos: “PPCT – Processo, pessoa, contexto e tempo” e a interdisciplinaridade artística defendida por Ana Mae criamos a partir de agora uma linha de pensamento que consiste em entender o desenvolvimento infantil a partir das referências e diálogos estabelecidos com as artes, seja ela, nesse primeiro momento, musical, plástica, cênicas e etc.
A fase do PROCESSO (PPCT), se dá nas interações recíprocas que acontecem de maneira gradativa, em termos de complexidade, entre o sujeito e as pessoas, objetos e símbolos presentes no seu ambiente imediato (Bronfenbrenner y Morris, 2006). Se olharmos esse parâmetro, podemos ver um momento perfeito para a inserção da arte. Se as interações devem ser recíprocas e de forma gradativa notasse aqui um terreno extremamente fértil para o jogo, para a brincadeira. O jogo por si só carrega uma gama de aprendizados, regras e possibilidades que de forma direta capacitam o ser humano no processo de desenvolvimento.
Abrindo espaço para a próxima fase, a PESSOA (PPCT), Bronfenbrenner reconhece a relevância de fatores biológicos mas aponta que as realidades de cada indivíduo são fatores de extrema relevância. Sob o âmbito da arte podemos elucidar tal situação da seguinte maneira. Digamos, em uma situação hipotética, que um determinado grupo de indivíduos possuiu desde a sua infância acesso a arte musical, plástica, cênica e costumam cotidianamente fazer diversas brincadeiras, participar de diversas atividades esportivas e fazer diversos tipos de danças. Entretanto, outro grupo não obteve tamanha dádiva. Sem sombra de dúvidas, o segundo grupo sairá perdendo, em questões condizentes a psicomotricidade, pensamento lógico, proatividade, tempo, ritmo, dentre outros. A arte mais uma vez é fator indispensável para o processo educativo da criança.
Por último, o CONTEXTO e TEMPO (PPCT) se destacam principalmente se olharmos a atual conjuntura social em que nos encontramos. O ambiente e tempo em que nascemos, vivemos e nos desenvolvemos dizem muito a respeito de quem somos e de que tipo de reverberações artísticas podemos conviver ou não. Se nascemos durante a ditadura militar ou no ano de 2018, isso diz muito a respeito de como enxergaremos tudo aquilo que nos cerca. Retifico, mais uma vez, que o processo de ensino-aprendizagem da arte é de suma para toda uma construção social.
O diálogo entre diversas áreas artísticas se faz necessário cada vez mais a partir do momento em que o próprio desenvolvimento humano não está fracionado. E isso se retifica na própria infância. Uma criança não pertence a um único modelo de aprendizado, ele não aprende exclusivamente brincando ou de forma tecnicista, este modelo monocentrico perde cada vez mais espaço para uma construção baseada na oportunidade de diversos saberes.

Numa perspectiva contemporânea de Educação, torna-se necessário e urgente o amadurecimento de propostas de ensino de teatro capazes de desenvolver as habilidades e competências necessárias ao exercício de cada um dos vários campos de atuação no teatro. (ARAÚJO, José Sávio Oliveira. Para além dos modelos monocêntricos)

Saliento que os desafios de se manter e/ou somar ainda mais a arte a todo o contexto social, é extremamente complicado. Mas que nós, sociedade de um modo geral não só educadores ou futuros educadores, compremos essa luta e nos coloquemos a frente das reais necessidades que diariamente nos são mostradas e que facilmente poderiam ser sanadas com muita arte.  Seja musical, plástica, cênica ou outra qualquer que se defina daqui para a frente, que a arte possa construir uma relação de ensino-aprendizagem com as crianças, futuro daquilo que almejamos muda.

Bibliografia:
* BENETTI, I. C. VIEIRA, M. L, CREPALDI, M. A. SCHNEIDER, D. R. Fundamentos da teoria biológica de Urie Bronfenbrenner. Pensando Psicologia.
* BARBOSA, Ana Mae – Interterritorialidade na Arte/Educação e na Arte. In Interterritorialidade – Mídias, contextos e educação.
*ARAÚJO, José Sávio Oliveira. Para além dos modelos monocêntricos. In. Revista Moringa – Teatro Dança.


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