SAÚDE MENTAL DO ALUNATO DAS
UNIVERSIDADES
Telma Maria Andrade Gomes
Telma Maria Andrade Gomes
Em
um país como o Brasil, em que apenas uma pequena parcela da população pode frequentar
e concluir um curso superior, passar no vestibular ou outras modalidades de
seleção para o início da vida acadêmica, gera uma grande euforia no jovem
aspirante e em toda a sua família. No entanto, essa exaltação, em alguns casos
logo se transmuta para patologias e transtornos de saúde mental. Não são poucos
os registros e levantamentos realizados em várias universidades brasileiras que
procuram mapear as causas que levam o estudante a apresentar comportamentos que
denotam desequilíbrio emocional. Esse tema tem causado grande preocupação entre
os profissionais de saúde, especialmente porque os problemas emocionais gerados
pelas pressões da vida acadêmica tendem a se potencializar e extravasar para a
vida social e familiar do indivíduo, e aquilo que poderia ser apenas uma
patologia de ocasião, evolui para situações de maior gravidade.
Há
que se registrar que em uma grande maioria dos casos, os calouros são
estudantes que acabaram de concluir o ensino de nível médio, numa faixa etária
que já traz em si mesma os problemas de transição da adolescência para a vida
adulta. Nessa etapa da vida, ainda com uma certa imaturidade emocional,
deparam-se com situações de grande tensão em que se sentem pressionados para atender
as expectativas da família, da sociedade e especialmente a cobranças que fazem
a si mesmos, já que estamos numa sociedade que cobra resultados imediatos.
Na
outra ponta, temos aqueles estudantes que ingressam na vida acadêmica em uma
etapa da vida, em que, já adultos, precisam trabalhar e desempenhar papéis de
chefes de família, aumentando ainda mais as pressões a que estão sujeitos.
Importante destacar ainda o estudante que se vê frente à necessidade de voltar
a frequentar os ambientes acadêmicos premido pelas
exigências do mercado de trabalho que requer cada vez mais melhores qualificações
e alto desempenho, gerando uma concorrência acirrada entre os profissionais,
aumentando a carga de tensões mesmo entre aqueles que já se graduaram e que se
veem compelidos a cursar as pós-graduações.
Diante
desse quadro preocupante, e da constatação de que o ambiente acadêmico responde
pelo aparecimento de quadros psicopatológicos, as instituições de ensino
superior não podem se furtar ao papel social que lhes cabe, no sentido de não
só produzir conhecimentos para a formação intelectual e profissional, mas também
de atuar na constituição integral do indivíduo nos campos social, afetivo e
pessoal, que, se deficitárias, podem também, comprometer sua atuação
profissional.
Vários
são os fatores elencados como causadores de stress
nos estudantes do Ensino Superior: “Deixar a casa dos pais e viver num ambiente
novo, partilhar casa com novas pessoas, dar respostas às expectativas próprias
e às dos pais, manter relacionamentos à distância com pessoas significativas,
problemas financeiros, competição entre pares, problemas relacionais e
necessidade de integração no grupo de pares, dificuldades em organizar o tempo,
preconceito étnico ou sub-cultural, maior conscientização da própria identidade
e orientação sexual, privação de sono, gerir trabalho/estudo/responsabilidades
domésticas e familiares, preocupação em terminar o curso e arranjar emprego”
(Celeste SILVEIRA et al.,2011, p.248).
Muitas
universidades públicas brasileiras já se conscientizaram da gravidade do
problema e desenvolvem ações de cunho preventivo para minimizar o stress acadêmico e suas consequências
nefastas. Entretanto não podemos deixar de considerar que a própria conjuntura
em que vivemos, com as cobranças e pressões que emergem de todos os segmentos
sociais, favorecem o aparecimento cada vez mais precoce de quadros de
transtornos psíquicos. Um deles é a batalha para ingressar e permanecer nos
mercados de trabalho e as universidades, por serem uma das portas desse
ingresso, acabam por absorver, numa espécie de simbiose, toda essa problemática.
Dessa
forma, urge a implantação de programas que visem detectar, acolher e encaminhar
cada caso em particular, pois se desejamos um mundo melhor, esse passa
obrigatoriamente pela formação de indivíduos mais plenos de suas capacidades e
as instituições de ensino superior precisam assumir sua cota de participação
nesse compromisso com a transformação da sociedade.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ASSIS, Aisllan Diego, Vida Universitária e
Saúde Mental: Atendimento às Demandas de Saúde e Saúde Mental de Estudantes de
Uma Universidade Brasileira – Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, INSS
1984-2147, Florianópolis, V. 2, p. 159-177
CASTRO, Vinícius Rennó, Reflexões Sobre a
Saúde Mental do Estudante Universitário; Estudo Empírico com estudantes de uma
Instituição Pública de Ensino Superior – Revista Gestão em Foco, Edição nº 09,
2017
SILVEIRA Celeste et al., Saúde Mental em estudantes do Ensino Superior – Experiência
da Consulta de Psiquiatria do Centro Hospitalar São João – Acta Med Port. 2011
24(S2):247-256
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