quinta-feira, 30 de maio de 2019


SAÚDE MENTAL DO ALUNATO DAS UNIVERSIDADES
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                                                                          Telma Maria Andrade Gomes

Em um país como o Brasil, em que apenas uma pequena parcela da população pode frequentar e concluir um curso superior, passar no vestibular ou outras modalidades de seleção para o início da vida acadêmica, gera uma grande euforia no jovem aspirante e em toda a sua família. No entanto, essa exaltação, em alguns casos logo se transmuta para patologias e transtornos de saúde mental. Não são poucos os registros e levantamentos realizados em várias universidades brasileiras que procuram mapear as causas que levam o estudante a apresentar comportamentos que denotam desequilíbrio emocional. Esse tema tem causado grande preocupação entre os profissionais de saúde, especialmente porque os problemas emocionais gerados pelas pressões da vida acadêmica tendem a se potencializar e extravasar para a vida social e familiar do indivíduo, e aquilo que poderia ser apenas uma patologia de ocasião, evolui para situações de maior gravidade.
Há que se registrar que em uma grande maioria dos casos, os calouros são estudantes que acabaram de concluir o ensino de nível médio, numa faixa etária que já traz em si mesma os problemas de transição da adolescência para a vida adulta. Nessa etapa da vida, ainda com uma certa imaturidade emocional, deparam-se com situações de grande tensão em que se sentem pressionados para atender as expectativas da família, da sociedade e especialmente a cobranças que fazem a si mesmos, já que estamos numa sociedade que cobra resultados imediatos.
Na outra ponta, temos aqueles estudantes que ingressam na vida acadêmica em uma etapa da vida, em que, já adultos, precisam trabalhar e desempenhar papéis de chefes de família, aumentando ainda mais as pressões a que estão sujeitos. Importante destacar ainda o estudante que se vê frente à necessidade de voltar a frequentar os ambientes acadêmicos premido pelas exigências do mercado de trabalho que requer cada vez mais melhores qualificações e alto desempenho, gerando uma concorrência acirrada entre os profissionais, aumentando a carga de tensões mesmo entre aqueles que já se graduaram e que se veem compelidos a cursar as pós-graduações.
Diante desse quadro preocupante, e da constatação de que o ambiente acadêmico responde pelo aparecimento de quadros psicopatológicos, as instituições de ensino superior não podem se furtar ao papel social que lhes cabe, no sentido de não só produzir conhecimentos para a formação intelectual e profissional, mas também de atuar na constituição integral do indivíduo nos campos social, afetivo e pessoal, que, se deficitárias, podem também, comprometer sua atuação profissional.
Vários são os fatores elencados como causadores de stress nos estudantes do Ensino Superior: “Deixar a casa dos pais e viver num ambiente novo, partilhar casa com novas pessoas, dar respostas às expectativas próprias e às dos pais, manter relacionamentos à distância com pessoas significativas, problemas financeiros, competição entre pares, problemas relacionais e necessidade de integração no grupo de pares, dificuldades em organizar o tempo, preconceito étnico ou sub-cultural, maior conscientização da própria identidade e orientação sexual, privação de sono, gerir trabalho/estudo/responsabilidades domésticas e familiares, preocupação em terminar o curso e arranjar emprego” (Celeste SILVEIRA et al.,2011, p.248).
Muitas universidades públicas brasileiras já se conscientizaram da gravidade do problema e desenvolvem ações de cunho preventivo para minimizar o stress acadêmico e suas consequências nefastas. Entretanto não podemos deixar de considerar que a própria conjuntura em que vivemos, com as cobranças e pressões que emergem de todos os segmentos sociais, favorecem o aparecimento cada vez mais precoce de quadros de transtornos psíquicos. Um deles é a batalha para ingressar e permanecer nos mercados de trabalho e as universidades, por serem uma das portas desse ingresso, acabam por absorver, numa espécie de simbiose, toda essa problemática.
Dessa forma, urge a implantação de programas que visem detectar, acolher e encaminhar cada caso em particular, pois se desejamos um mundo melhor, esse passa obrigatoriamente pela formação de indivíduos mais plenos de suas capacidades e as instituições de ensino superior precisam assumir sua cota de participação nesse compromisso com a transformação da sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSIS, Aisllan Diego, Vida Universitária e Saúde Mental: Atendimento às Demandas de Saúde e Saúde Mental de Estudantes de Uma Universidade Brasileira – Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, INSS 1984-2147, Florianópolis, V. 2, p. 159-177
CASTRO, Vinícius Rennó, Reflexões Sobre a Saúde Mental do Estudante Universitário; Estudo Empírico com estudantes de uma Instituição Pública de Ensino Superior – Revista Gestão em Foco, Edição nº 09, 2017
SILVEIRA Celeste et al., Saúde Mental em estudantes do Ensino Superior – Experiência da Consulta de Psiquiatria do Centro Hospitalar São João – Acta Med Port. 2011 24(S2):247-256

















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