quarta-feira, 29 de maio de 2019



EVASÃO ESCOLAR: A MUDANÇA JÁ PODE   COMEÇAR DENTRO DOS MUROS 


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                                                                                      Guilherme Siqueira Cordeiro 

De acordo com o censo escolar de 2017, o número de matrículas na educação básica brasileira atingiu a marca de 46,6 milhões de novos estudantes na rede pública, ainda que apresente uma pequena queda em relação a anos anteriores – segundo o MEC, esse declínio é justificado pelo perfil demográfico da atual população. Os números impressionam e dão a entender que, ao menos em teoria, a educação brasileira vem apresentando uma considerável melhora. Entretanto, o reconhecimento dessas estatísticas acaba por camuflar um grave e histórico problema do nosso sistema educacional: a evasão escolar.
No Brasil, muitos jovens e adultos acabam por abandonar a escola por dois motivos principais: necessidade ou desmotivação. No primeiro caso, os estudantes se veem obrigados a contribuir com o sustento de suas famílias e, por conta disso, não conseguem conciliar uma jornada dupla. Nessa situação, ainda há o agravante sócio espacial, uma vez que essas situações são mais frequentes em regiões carentes onde a educação não tem seu valor reconhecido. Vale ressaltar ainda que, nesses casos, o papel da família seria crucial ao incentivar a educação das crianças, contudo, muitas vezes, os próprios pais e familiares tem pouco ou nenhum grau de escolaridade, não dando a devida importância para o ensino. Trata-se, portanto, de um problema que afeta gerações.
A decisão tomada por esses jovens acaba por gerar um ciclo vicioso, uma vez que, sem educação, eles não conseguem uma boa posição no mercado de trabalho, e, portanto, não tem perspectivas junto a uma melhor qualidade de vida e sofrem com a marginalização. Em muitos dos casos, a falta de um ensino básico também afeta a autoestima do jovem adulto, que é visto – pelos outros e por si mesmo – com inferioridade.
O segundo caso diz respeito a uma situação diferente, na qual o aluno frequenta a escola até certo ponto, mas não possui motivação suficiente para concluir sua graduação. Daí entende-se uma falha no sistema educacional, que não consegue dialogar com os alunos ou despertar seu interesse. Os estudantes se tornam mais propensos à evasão quando não tem prazer pelo aprendizado e, consequentemente, não veem vantagens em frequentar a sala de aula.
Há, ainda, problemas mais recentes que tem parte na evasão escolar e que merecem igual atenção. Os estudantes de hoje – agora, percebe-se um caráter mais universal, que afeta a todas as classes sociais – têm de conviver com a crescente ameaça das drogas e do bullying, para citar alguns exemplos. São muitas as dificuldades, mas a solução pode ser encontrada em uma reformulação do próprio sistema.
Sendo mais comum no ensino médio, a evasão pode e deve ser combatida com práticas educacionais. Os professores devem, juntamente com a família do aluno, ser capazes de identificar aqueles mais propensos ao abandono e deve ser adotada uma abordagem própria, buscando entender os motivos de cada jovem. É necessário que um diálogo seja estabelecido.
A escola deve, de fato, conversar com toda uma nova geração de adolescentes, entender sua realidade e buscar métodos que ensinem e cativem os alunos de hoje. A mudança deve começar por um currículo moderno, que dê atenção às disciplinas tradicionais, mas que invista, igualmente, em uma educação prática, voltada, por exemplo, para atividades físicas e criativas. É importante para o aluno enxergar sentido naquilo que estuda e, com isso, perceber um leque maior de possibilidades reais para si, identificando-se com aquilo que lhe desperta real interesse.
Outra possível solução se encontra na expansão do turno integral. Entende-se que um aluno envolvido com a escola é um aluno mais interessado no ambiente e mais disposto a aprender. Aqui é importante ressaltar que o ensino integral já vem sendo proposto pelo governo em sua recente “reforma educacional”, na qual propõe, a médio prazo, prolongar a carga horária das escolas públicas para sete horas diárias.
Uma reforma no sistema educacional é, sim, necessária, mas em um Brasil tão desigual é difícil encarar qualquer proposta com seriedade. Em uma rede pública na qual falta estrutura básica em muitas escolas – merenda, material escolar, professores, funcionários, saneamento, segurança, energia e muito mais – é imprescindível que o básico, já previsto em incontáveis e intermináveis leis, seja realizado. O pessimismo é, infelizmente, uma realidade em um país que recentemente teve gastos públicos – sobretudo na saúde e educação – congelados por até vinte anos.

REFERÊNCIAS

BLUME, Bruno André. “Como funciona o teto de gastos públicos? ”. Politize!. Publicado em 08/06/2016. Disponível
em: http://www.politize.com.br/teto-de-gastos-publicos-infografico/. Acessado em 05/07/2018.
BRANDALISE, Camila. “Uma nova e preocupante evasão escolar “. Revista ISTOÉ. Edição 2522.
20/04/2018.Disponível em: https://istoe.com.br/uma-nova-e-preocupante-evasao-escolar/. Acessado em 04/07/2018.
FERREIRA, Paula. “ Censo escolar 2017: cai o número de matrículas na educação básica”. Jornal O Globo.
31/01/2018. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/censo-escolar-2017-cai-numero-dematriculas-
na-educacao-basica-22347576. Acessado em 04/07/2018
GOMES, Ângela de Castro. “A escola republicana: entre luzes e sombras”. A República do Brasil. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira – FGV, 2002. Pp.385-437.
MURAUSKAS, Luiz Carlos. “Caminhos para combater a evasão escolar”. Instituto Unibanco. Aprendizagem em foco.
Nº 28, junho de 2017. Disponível em: http://www.institutounibanco.org.br/aprendizagem-em-foco/28/. Acessado em:
04/07/2018.

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