VALORIZAÇÃO
E CAPACITAÇÃO DO PROFESSOR
Larissa
Arcanjo de F. Vieira
Esse artigo aborda sobre
o que é ser docente, a razão da licenciatura ser desvalorizada pelos jovens, o
motivo da redução do interesse pelo curso de licenciatura, e também trata do
porque há a presença da mulher de forma tão significativa nessa profissão, de acordo
com o contexto histórico e sobre o Plano nacional de Educação com sua meta para
2020.
A profissão docente sofre
por conta da sua desvalorização, um dos fatores é a falta de identidade
profissional. Por isso há diminuição de jovens que optam pela licenciatura como
profissão. Isto ocorre, por influência da mídia, que expõe as partes negativas
da profissão.
A valorização dos
docentes, seria uma forma de tornar a docência mais atrativa, não só em relação
ao salário, mas as condições do ambiente de trabalho, apoio da coordenação,
orientadores, psicólogos, a presença da própria comunidade.
Infelizmente, a
sobrecarga do trabalho promove a desvalorização do professor, além disso a
baixa remuneração, o desinteresse e o desrespeito dos alunos, as péssimas
condições de trabalho, a desvalorização social da profissão e a falta de
identificação. Quando há identificação com a profissão docente poucos escolhem
ela, porque existe um índice alto de desistência e baixo índice de atratividade
na carreira.
Pretendo explicitar o
porquê da diminuição do número de matrículas em cursos de licenciatura. A visão
dos jovens sobre docência e o que é ser professor na concepção deles.
Docente
A docência é uma das
profissões mais antigas do mundo. Segundo o dicionário Aurélio, ser docente é
relativo a professor; aquele que ensina. De acordo com o dicionário Soares
(2000, p. 578), professor é "aquele que ensina uma ciência ou arte,
mestre, individuo perito ou adestrado".
Para Veiga (2009, p.58)
"o professor ajuda a aprender, a sistematizar os processos de produção e
assimilação de conhecimentos para garantir a aprendizagem efetiva, também
orienta e direciona o processo de ensinar". A docência é uma das profissões mais complexas
que existe, a ele são atribuídas diversas ações como preparar a aula, fazer um
plano de aula, mediar aula, corrigir atividade, etc.
Por meio do professor que
os conhecimentos são mediados, com o propósito de gerar a aprendizagem para os
alunos, pois o mesmo possui grande influência sobre o aluno. Através de CAMPOS
(2007), podemos compreender melhor, a função do professor na vida do aluno, ele
diz que:
O professor, no curso da sua ação
profissional, produz sentidos no contexto cultural em que se encontram
inseridos os sujeitos da ação educativa: professores e alunos. Assim a produção
e significados é fruto da subjetividade do professor que atua na sua ação como
docente. Os saberes do professor são definidos pelo campo cultural, próprio da
educação escolar em permanente construção CAMPOS (2007, p. 22).
Desvalorização
da profissão
A desvalorização presente
na atualidade consequência dos processos históricos da área educacional no
Brasil. O acesso à escola aos diferentes níveis, vem sendo incorporado como uma
demanda social e assim sua oferta vem sendo expandida, diferentes exigências
são feitas para a formação do docente e diferentes perfis profissionais vão
sendo estabelecidos. No princípio do século 19, após a independência o país
começa as primeiras escolas de primeiras letras para formar professores para os
anos iniciais. Dando origem as escolas ditas como normais, que surgem com o
surgimento da república.
As chamadas escolas
modelo e foram responsáveis pelo surgimento, ampliação e pelo desenvolvimento
do magistério primário no país. Dessa forma, Saviani destaca:
Visando à preparação de professores
para as escolas primárias, as Escolas Normais preconizavam uma formação específica.
Logo, deveriam guiar-se pelas coordenadas pedagógico-didáticas. No entanto,
contrariamente a essa expectativa, predominou nelas a preocupação com o domínio
dos conhecimentos a serem transmitidos nas escolas de primeiras letras. O
currículo dessas escolas era constituído pelas mesmas matérias ensinadas nas
escolas de primeiras letras. Portanto, o que se pressupunha era que os
professores deveriam ter o domínio daqueles conteúdos que lhes caberia
transmitir às crianças, desconsiderando-se o preparo didático-pedagógico.
(SAVIANI, 2009, p.2).
No século XX, ocorreu a
concretização em todo o território nacional, dessas instituições destinadas a
formar professores para o ensino primário. De acordo com Nóvoa, a criação das
escolas normais constitui o processo da institucionalização da formação
docente, proporcionando o desenvolvimento da profissão e a melhoria da posição
social dos docentes, além de estabelecer um controle do Estado sobre os
professores.
Criadas pelo Estado para
controlar um corpo profissional, que conquista uma importância acrescida no
quadro dos projetos de escolarização de massas; mas são também um espaço de
afirmação profissional, onde emerge um espírito de corpo solidário. As escolas
normais legitimam um saber produzido no exterior da profissão docente, que
veicula uma concepção dos professores centrada na difusão e na transmissão de
conhecimentos; mas são também um lugar de reflexão sobre as práticas, o que
permite vislumbrar uma perspectiva dos professores como profissionais produtores
de saber e de saber-fazer (NÓVOA, 1997, p. 16).
Em 1930, surge o ensino
secundário, que atualmente equivale ao segundo ciclo do ensino fundamental.
Daí, inicia-se a sua expansão, surgem os primeiros cursos superiores de
educação. As diferentes disciplinas eram oferecidas a pessoas que demonstrassem
algum conhecimento na área, por testes de conhecimento. Ao decorrer das
décadas, vão sendo estabelecidos cursos de pedagogia e licenciaturas em geral.
A partir de 1960, com o
estabelecimento do sistema de pós-graduação, passam a ser feitas exigências
especificas. Assim, dá a existência do professor como pesquisador, ultra
especializado, tornando-o mais valorizado. Entre os problemas que se tem
enfrentado desde 1970 estão a falta de estrutura física como salas pequenas e
superlotadas e a contratação de professores com titulação adequada. Para suprir
a demanda nas escolas foi necessário contratar professores sem formação e este
fator favoreceu a perda do valor do trabalho docente (CANDAU, 1987; GADOTTI,
1987; OLIVEIRA, 2007).
O ano de 1970 foi um
marco na história, pois ocorreram fortes mudanças no setor educacional
brasileiro, decorrentes dos processos tecnológicos e da necessidade de mão de
obra qualificada, precisava-se estar ligadas a educação, porque priorizavam o
desenvolvimento da economia. A fim de qualificar os trabalhadores, houve nesse
contexto uma expansão da escola pública, o que possibilitou que um número maior
de pessoas tivesse acesso à escola.
Após esse momento
histórico, a imagem do professor ficou desvalorizada, como se qualquer um
soubesse fazer, a ideia de que se nada desse certo era só virar professor.
Esses são os pensamentos que uma parte da sociedade ainda acredita pertencer à
profissão docente. Logo, a valorização passa ser um ideal e não uma realidade.
(DINIZ-PEREIRA, 2006).
A mídia tem grande poder
de influenciar a sociedade, por meio de reportagens, documentários e notícias,
onde expõe de forma desvalorizada o papel do professor. Para (BASTOS, 2012), a
imagem deteriorada do professor, cumpre seu papel como um técnico que apenas
sabe dar aulas, como alguém que escolheu se sacrificar por ter o dom, a vocação
de ensinar e não como um profissional que está envolvido em todo o processo
educacional.
Através da profissão
docente, dificultam o reconhecimento da sua identidade docente e todo o
processo educacional brasileiro, porque a escola é lugar de aprendizado, ou
seja, desqualificar a imagem professor é promover a desvalorização. É de
extrema importância para o avanço da profissão que os jovens que estão em sua
fase de decisão na carreira profissional, façam a escolha pela docência por se
identificarem com a mesma e não por ser sua última opção.
Falta
de interesse pela profissão
De certa forma não há
como avançar profissionalmente na carreira docente vivendo nesse contexto de
pessimista e de descaso, Libâneo contribui para melhor entendimento nos mostrando
que:
A desprofissionalização afeta
diretamente o status social da profissão em decorrência dos baixos salários,
precária formação teórico-prática, falta de carreira, deficientes condições de
trabalho. Com o descrédito da profissão, as consequências são inevitáveis:
abandono de sala de aula em busca de outro trabalho, redução da procura dos
cursos de licenciatura, escolha de cursos de licenciatura ou pedagogia como última
opção (em muitos casos, são alunos que obtiveram classificação mais baixa no
vestibular), falta de motivação dos alunos matriculados para continuar o curso
(LIBÂNEO, 2000, p. 43).
Apenas em 1996, com o
direcionamento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB é
exigida como formação mínima o curso no nível superior, Pedagogia. Em seu
artigo 62, dispõe que:
A formação de docentes para atuar
na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de
graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação,
admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação
infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível
médio na modalidade normal.
A necessidade de uma
formação mais abrangente, que aprendesse a áreas específicas de atuação da
profissão docente, porquê a concepção de que qualquer um poderia assumir uma
sala de aula, fica para trás, na medida em que se exige agora uma formação de
nível superior. Fazendo assim, com que haja uma valorização maior pela
profissão.
Formar
professores implica compreender a importância do papel da docência, propiciando
uma profundidade científico- pedagógica que os capacite a enfrentar as questões
fundamentais da escola como instituição 7 social, uma pratica social que
pressupõe as ideias de formação, reflexão e critica (VEIGA, 2009, p. 25).
Se tratando do
profissional docente, este deve estar consciente de que sua formação é
permanente, continuada, fazendo parte de uma incansável busca por conhecimentos
e novos saberes. Nesse sentido, (FREIRE, 1996) esclarece:
Mas, histórico
como nós, o nosso conhecimento do mundo tem historicidade. Ao ser produzido, o
conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se “dispõe”
a ser ultrapassado por outro amanhã. Daí que seja tão fundamental conhecer o
conhecimento existente quanto saber que estamos abertos e aptos à produção do
conhecimento não existente. Ensinar, aprender e pesquisar lidam com esses dois
momentos do ciclo gnosiológico: o em que se ensina e se aprende o conhecimento
já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não
existente. A “docência” docência discência e a pesquisa, indicotomizáveis, são
assim práticas requeridas por estes momentos do ciclo gnosiológico (FREIRE,
1996, p.28)
Compreendendo a formação
como estopim da profissão, essa ainda que seja continuada não garante uma
valorização social do profissional docente, apesar da formação continuada
oferecida nas últimas décadas ter a finalidade de aprofundar os conhecimentos
adquiridos no curso:
Com problemas crescentes nos cursos
de formação inicial de professores a ideia de formação continuada como
aprimoramento profissional foi se deslocando também para uma concepção de
formação compensatória destinada a preencher lacunas da formação inicial
(GATTI; BARRETO, 2009, p. 200).
A formação continuada, tem a
finalidade de permitir que o professor esteja se atualizando para atender as
mudanças contemporâneas, informações disponibilizadas diariamente, etc. Deve
estar avançando para aprimorar seus saberes, tendo em vista que fica mais difícil
mudar o seu modo de pensar, vivenciar novas experiências, ou mesmo novas pesquisas.
Dessa forma, o profissional deve estar sempre atualizado, a tudo que se
encontra ao seu redor.
São diversos fatores que
contribuem para a falta de interesse desse profissional, formação, condições de
trabalho e remuneração. O tempo de curso, para um trabalho desgastante com
baixa remuneração. Assim, Gatti e Barretto (2009, p. 247) corroboram com essa
afirmação, ao explicitar que "os salários recebidos pelos professores não
são tão compensadores, especialmente em relação as tarefas que lhe são
atribuídas".
Não há apenas um motivo que explique
a desvalorização da profissão docente, há evidências de que ela está associada
a uma soma de variáveis intervenientes que resultam na atual situação do
desprestígio dessa profissão. Apesar de existirem leis que visem à melhoria do
magistério, a maioria não há punição, deixando brecha para não efetivação dos
benefícios para o professor. Enquanto as políticas não efetivarem as leis, e
enquanto a sociedade continuar mostrando descaso a esses profissionais, eles não
serão valorizados.
Mulheres
e a desvalorização
Uma questão de alta
relevância no contexto histórico relacionado a esta profissão, é a presença
massiva de mulheres. Desde o princípio do sistema escolar previa a separação de
gêneros, nas escolas masculinas, onde eram ministradas aulas de conhecimentos
mais amplos, e eram professores homens; nas escolas femininas, eram professoras
mulheres. A reconfiguração das escolas mistas só ocorre no Brasil na virada do
século 20, e mesmo assim, por muitos anos ainda persiste a repartição das
escolas secundárias e internatos em masculinos e femininos.
Ensinar passa a ser associado a uma tarefa semelhante a
realizar cuidados maternos, ou seja, um trabalho tipicamente para mulheres. “O
trabalho feminino entra, justamente, nos estratos menos valorizados da
profissão como um trabalho associado à maternagem, ao cuidado e que exige menos
formação e mais uma vocação”, resume o professor GONDRA (2014) da UERJ.
Falta de interesses de jovens pela
carreira de professor
Informações levantadas pelo movimento Todos pela
Educação, com base nos dados do Instituto Nacional de Estudos Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Diz que a cada 100 jovens que ingressam no
curso de pedagogia e licenciatura do país, somente 51 permanecem e concluem o
curso, apenas 27 tem interesse de seguir carreira no magistério.
Segundo a presidente do Todos pela Educação, Priscila
Cruz, “Temos um apagão de professores, primeiramente pela desvalorização. A
gente já atrai pouco e, dos que vão para a formação inicial, poucos permanecem
na carreira. E não se consegue ter uma área de atuação que consiga atrair os
melhores alunos do ensino médio”.
De acordo com Priscila Cruz, entre as políticas de
atratividade necessárias para aumentar o interesse na profissão seria a
melhoria do salário. Hoje em dia, o professor ganha metade do que os
profissionais de outras áreas com ensino superior completo. Ela acrescenta que
fica difícil atrair os melhores alunos do ensino médio para a carreira se não
conseguir fazer com que o salário melhore.
Priscila Cruz destaca que é necessário melhorar as
condições de trabalho para que haja a aproximação de jovens com a profissão
para fazer com que eles presencie de perto a realidade dos professores. “O fato
de o jovem verificar no seu dia a dia que professores não são valorizados, e
muitas vezes são atacados pelos próprios jovens, familiares, pela sociedade,
pelo governo, isso faz com que o jovem desista da profissão”. Lamenta Priscila
Cruz.
Segundo com a Conferência Nacional dos Trabalhadores em
Educação, em 2004 o salário dos professores no país representava cerca de 60%
da média salarial de outras profissões, atualmente é 52% da média. “Este é o
movimento inverso do Plano Nacional de Educação que diz que em 2020, o salário
médio dos professores deve ser equiparado ao salário da demais profissões”.
Plano Nacional
O Ministério de Educação (MEC) tem uma política de
formação de professores, já articulada na Base Nacional Comum Curricular, que
vai visar principalmente na valorização dos profissionais. De acordo com o MEC,
está em estudo a ampliação das oportunidades das licenciaturas para a nova
geração de docentes da educação básica e também para os que já lecionam em sala
de aula.
O MEC considera de extrema importância a valorização do
professor e diz que é fundamental para a educação. “Existe a clareza de que o
professor tem um papel central no desenvolvimento educacional de nossos
estudantes e de que, para exercer essa profissão, ele precisa ser valorizado em
todas dimensões” diz o ministério, em nota.
Considerações
finais:
Mediante ao que foi
abordado nesse artigo, espero ter explicitado a realidade dos professores, o
motivo central da desmotivação para buscar a área e o que falta para que
aconteça realmente a valorização dos profissionais docentes. A influência da
mídia e da realidade mesmo em si, de forma pessimista, causando assim, menos
procura pelos cursos de licenciatura.
Cabe destacar a atenção,
ao salário dos docentes, independente se formarão outros docentes ou não, os
docentes que norteiam os discentes, que dão destino e ajuda os discentes a
decidir o seu futuro.
Por fim, ressalto a
importância do investimento na área de educação, tanto com os profissionais,
como no ambiente de trabalho, quanto na qualidade do ensino, através da educação
formaremos profissionais de excelência para um futuro breve.
Referências:
https://dicionariodoaurelio.com/docente.
FREIRE, Paulo. Pedagogia
da Autonomia. Saberes necessários a prática educativa, São Paulo: Paz, 1996.
GATTI, Bernardete
Angelina. BARRETO, Elba Siqueira de Sá. Professores do Brasil: impasses e
desafios. Brasília: UNESCO, 2009.
SAVIANI, Dermerval.
Formação professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto
brasileiro. Revista Brasileira de Educação v.14 n. 40 jan./abr. 2009.
VEIGA. Ilma Passos
Alencastro. A aventura de formar professores. Campinas, SP: Papirius, 2009.
LIBÂNEO, José Carlos.
Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão
docente. 4.ed. Cortez, 2000.
CANDAU, V. M. F. Novos
rumos da licenciatura. Brasília: INEP (coord.), p.93, 1987.
CANDAU, V. M. F.; et al.
Didática, currículo e saberes escolares – Rio de Janeiro: DP&A, 2002. 2ª
edição.
DINIZ-PEREIRA, J. E.
Formação de Professores - pesquisas, representações e poder – 2 ed. – Belo
Horizonte: Autêntica, 2006.
http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2017-10/carreira-de-professor-desperta-cada-vez-menos-o-interesse-de-jovens
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