quinta-feira, 30 de maio de 2019

SAÚDE MENTAL NA UNIVERSIDADE

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                                                                                                     Letícia Passos de Andrade

Entrar numa universidade não é tarefa fácil, além da dificuldade de escolha do curso e da pressão familiar, muitas vezes a preparação para o vestibular exige muito tempo de estudo e esforço. Mas depois da aprovação a situação não melhora, e geralmente piora. A dificuldade de se adaptar ao novo ambiente e de desenvolver um perfil universitário está presente na vida de muitos estudantes e a exigência demasiada desse novo ciclo pode desgastar o emocional deles, afetando a sua saúde mental.
Nem sempre o que o estudante espera do ensino superior condiz com a realidade acadêmica, por isso a criação de expectativas antes de entrar na universidade pode gerar uma grande decepção. Muitas vezes é preciso abrir mão da vida social e do lazer para se dedicar aos estudos, que exigem uma grande produtividade. Diante disso, alguns alunos sacrificam o descanso e dormem menos, fazendo uso de energéticos e ritalina para se manterem acordados e atentos. Ademais, o estudante se vê na necessidade de se tornar competente na sua área de formação, pensando no mercado de trabalho e tentando realizar o seu objetivo de vida, ou até mesmo tentando descobrir qual o seu objetivo de vida, o que pode levar a profundas crises existenciais seguidas de angústia e ansiedade.
Segundo um artigo publicado pela Unifia, uma pesquisa realizada em 2015 com pela NUS (National Union of Students) indicou que 78% dos respondentes universitários enfrentaram problemas de saúde mental (CASTRO,2017). No Brasil esse quadro não é diferente, tendo em vista o crescente número de suicídios cometidos por estudantes universitários. Depressão, ansiedade, desânimo, exaustão, estresse, entre outros, são causados por diversos fatores encontrados dentro da universidade, bem como pressão familiar,  problemas em  se relacionar, problemas em desenvolver a própria identidade, competitividade entre os estudantes, além de abuso de poder por parte de alguns professores, que muitas vezes fazem exigências além do possível, fazendo com que o aluno não tenha tempo para pensar em nada além da faculdade.
Muitos alunos costumam fazer uma avaliação negativa de si mesmo quando não conseguem atingir uma nota esperada, ou uma nota equivalente ao seu esforço. Um estudo realizado por Oliveira (OLIVEIRA,1994) mostra que uma autoavaliação negativa do aluno pode interferir significamente em seu desempenho. Fracassos do aluno podem abalar a sua auto-estima, o que, provavelmente, o levará ao fracasso novamente. Sendo assim, a assistência voltada para o psicológico do estudante  se torna essencial na universidade, já que bons profissionais precisam estar saudáveis mentalmente.
Muitas universidades oferecem atendimentos psicológicos gratuitos, mas infelizmente nem sempre essas assistências funcionam, pois  muitas vezes não é possível atender a todos que precisam. A falta de divulgação também é um problema, já que muitos alunos não sabem da existência dessa assistência na instituição, enquanto outros mesmo estando cientes têm medo ou receio em procurar ajuda. Portanto, é necessário um diálogo mais aberto entre a instituição e os estudantes, para compreender o que causa o problema e buscar meios para combatê-lo. Falar sobre isso é importante e necessário.
Porém, o dever de ajudar não é só da instituição, os próprios alunos também têm um papel importante. Um ouvido amigo sem julgamentos pode fazer uma grande diferença para as pessoas, que muitas vezes precisam de alguém para desabafar e conversar. Além disso, muitos projetos podem surgir por partes dos alunos. Em 2017 alunos da Universidade Federal de Viçosa desenvolveram um projeto nas redes sociais para chamar a atenção para a saúde mental e denunciar a falta de diálogo com a instituição sobre o assunto. A campanha #NãoÉNormalUFV vem conscientizando alunos de outras instituições que também se engajaram no projeto, com o objetivo de mostrar que não é normal ter a saúde mental afetada pela universidade, compartilhando diversos relatos de experiências universitárias.
E você? Vai fazer o que?


Referências:

CASTRO, Vinicius. Reflexões sobre a saúde mental do estudante universitário: Estudo empírico com estudantes de uma instituição pública de ensino superior. Disponível em: <http://unifia.edu.br/revista_eletronica/revistas/gestao_foco/artigos/ano2017/043_saude_mental.pdf> Acesso em: 06 de julho de 2017

OLIVEIRA, Ivone Martins de. Preconceito e autoconceito: identidade e interação na sala de aula. Papirus Editora, 1994

ALBERTO, Fellype. Estudantes se organizam e cobram mais atenção à saúde mental na UFV. Disponível em: <https://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/estudantes-se-organizam-e-cobram-mais-atencao-a-saude-mental-na-ufv.ghtml> Acesso em: 06 de julho de 2017


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