A EDUCAÇÃO SUBMISSA AOS INTERESSES DO MERCADO
Renata do Nascimento Silva
O breve presente ensaio visa trazer
uma das inúmeras questões que poderiam ser abordadas dentro da vasta
problemática Educação que temos x Educação que queremos. O foco escolhido a ser abordado foi a predileção
de nosso modelo educacional pela formação profissional de indivíduos ao invés de
se estabelecer como um processo transformador, “criando novas possibilidades e
estimulando o desenvolvimento integral do ser humano”. (LISNIOWSKI, 2016)
O formato da educação pública que
possuímos (quando há professor e certa estrutura escolar mínima) se mostra influenciado
pela pedagogia tradicional, voltado para a exposição unidirecional de conteúdos,
exercícios de fixação, autoridade do professor em relação aos alunos – ainda
assim havendo cerceamento da liberdade de cátedra do mesmo –, priorizando
técnicas e, portanto, a formação de indivíduos obedientes preparados para o
mercado de trabalho. Muito semelhante com o modelo tecnicista que ganhou força nas
décadas de 60 e 70 no Brasil.
Por outro lado, o modelo educacional
desejado visa assim como expresso no art. 205 da Constituição Federal, mais do
que a preparação para o mercado de trabalho: a garantia do pleno
desenvolvimento enquanto cidadão e enquanto indivíduo. Mais do que isso, uma
educação de qualidade deve ter como objetivo a liberdade do indivíduo de todas
as amarras que o prendem ao sistema explorador do qual faz parte.
Nesta perspectiva, o pensamento de Louis Althusser (1970) nos proporciona a visão de
que a escola enquanto aparelho ideológico do Estado contribui para a produção
de mão de obra, perpetuando o status quo
da classe dominante em detrimento dos desfavorecidos, mantendo estes mais
fragilizados em sua posição de submissão. Por esta razão é que luta-se por uma
educação libertadora (FREIRE, 1967) que possibilite a construção de um
indivíduo consciente, reflexivo, autônomo e capaz de atuar na transformação de
sua realidade.
Tendo ambas
visões sido apresentadas, nota-se que o atual modelo educacional que possuímos junto
com suas reformas que vêm sendo propostas demonstram o interesse em
domestificar o oprimido (FREIRE, 1967) unicamente para que este atenda às
demandas capitalistas do mercado, reforçando assim as desigualdades existentes.
Mas ao mesmo tempo revela a tarefa diária
dos professores para tornar os educandos críticos e engajados na transformação
social, revelando a luta “por uma sociedade emancipadora e pela
transformação nas relações sociais e de trabalho, por uma cultura democrática e
voltada para os direitos humanos”. (LISNIOWSKI,
2016)
ALTHUSSER,
Louis. Ideologia e Aparelhos
ideológicos de estado. Lisboa: Presença 1970.
FREIRE, P. Educação como prática da
liberdade. 1ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
LISNIOWSKI, Simone Aparecida Legitimidade jurídico-democrática do
direito à educação. In: ROCHA, Maria Zélia Borba, PIMENTEL, Nara Pimentel
(Orgs). Organização da educação
brasileira: marcos contemporâneos. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 2016. P. 59 a 98.
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