sábado, 1 de junho de 2019


GÊNERO E SEXUALIDADE NAS ESCOLAS 

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                                                                                      Henrique Paz Guedes 

A educação nunca foi e nunca será neutra e imparcial. Educar é um ato político. O professor transmite suas ideias, seus conceitos, suas opiniões ao ministrar uma aula. É natural do ser humano, por mais que se tente esconder e manter uma postura neutra. Hoje existe uma perseguição à professores que não buscam essa neutralidade em suas aulas, que falam de suas opiniões abertamente aos estudantes. O projeto Escola sem partido quer acabar com a liberdade dos professores e tenta força-los a agirem como robôs.
Uma das principais motivações desse projeto é combater o que os conservadores chamam de “ideologia de gênero”. A ideia é que se mantenha um discurso heteronormativo dentro das escolas, e que assuntos como sexualidade e gênero sejam tratados somente com a família. Mas a educação não deve servir à família dos alunos, como muitos pensam. Ela deve servir a sociedade, deve formar indivíduos que respeitem e aceitem a existência das diferenças. Tratar de temas como sexualidade exclusivamente dentro do âmbito familiar é extremamente preocupante e não protege as crianças. Pelo contrário, é dentro de casa que os abusos acontecem com mais frequência. Se a criança aprende (ou não aprende) sobre sexualidade dentro da família, e sofre abusos de um familiar, ela vai acreditar que esses abusos são normais. “A hipocrisia contrasta com os dados do Disque Denúncia e divulgados pela Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, vinculada ao Ministério da Justiça e Cidadania, que no ano 2016 revela que a casa da vítima é o local onde concentra maior porcentagem de violações. O que corrobora com estudos que demonstram que os crimes sexuais contra crianças acontecem dentro da família” (Freire, Priscila).
Os temas gênero e sexualidade não devem ser tratados somente nas aulas de biologia. Devem ser tratados como um assunto cultural e de maneira transdisciplinar. Abordar gênero e sexualidade como estritamente biológicos é reforçar o discurso de que sexo tem propósito apenas reprodutivo, ou seja, define a heterossexualidade como padrão e única alternativa. É necessário que os alunos conheçam o próprio corpo e aprendam sobre o sistema reprodutor, até pelas questões de prevenção de doenças e gravidez na adolescência. Mas eles devem aprender que não existe um padrão, cada um tem sua própria sexualidade.
Não cabe ao professor ser sexólogo, mas cabe a ele ensinar o respeito e aceitação das diferenças. Cabe ao professor identificar os preconceitos dentro da escola, que muitas vezes passam despercebidos. Brincadeiras homofóbicas ou machistas muitas vezes são vistas como comuns ou inofensivas, mas que na verdade são violências contra os alunos que não se encaixam no padrão heteronormativo.
A liberdade dos professores para tratarem de assuntos como homossexualidade e transexualidade é essencial para quebrar preconceitos e formar alunos compreensivos. Isso não significa uma influência na sexualidade dos alunos, afinal ninguém escolhe ser gay ou hétero. E se existe alguma influência, por parte das escolas e da sociedade, é a de que os alunos sejam heterossexuais ou pelo menos se comportem como tais. Silenciar esses assuntos é negar e não aceitar a existência dessas pessoas.
A escola deve ser um ambiente de debates. Sempre existirá divergência entres as opiniões dos professores. Se o aluno escuta ideias conservadoras e liberais, de direita e de esquerda, ele desenvolve um pensamento crítico e a capacidade de formar sua própria opinião. Uma escola sem partido é uma distopia, a escola deve ter “todos os partidos”, deve estar aberta ao debate e ao diálogo. Deve promover liberdade e igualdade entre os alunos e prepará-los para viver em sociedade.
           
Referências:
FREIRE, Priscila. ‘Ideologia de gênero' e a política de educação no Brasil: exclusão e manipulação de um discurso heteronormativo. Ex aequo, Lisboa, n. 37, p. 33-46, jun. 2018. Disponível em http://www.scielo.mec.pt/pdf/aeq/n37/n37a04.pdf.
BRANDAO, Elaine Reis; LOPES, Rebecca Faray Ferreira. “Não é competência do professor ser sexólogo” O debate público sobre gênero e sexualidade no Plano Nacional de Educação. Civitas, Rev. Ciênc. Soc., Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 100-123, Apr.  2018. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/civitas/v18n1/1519-6089-civitas-18-01-0100.pdf.

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