EDUCAÇÃO QUE TEMOS, A QUE ALMEJAMOS E A QUE PROVAVELMENTE TEREMOS
A sociedade
contemporânea, alinhada com uma estrutura extremamente capitalista, sobrevive
atualmente em uma dinâmica de trabalho para consumo. Consumo de absolutamente
tudo, e a educação, pensada nessa e para essa estrutura, é a chave que abre a
porta para a perpetuação dessa dinâmica desleal.
Um produto de
qualidade custa caro. O que é “de graça”, geralmente não presta, dura pouco,
tem pouco tempo de vida útil. O estranho é conseguirmos encaixar na premissa
acima um produto, como um celular, ou a Educação brasileira.
O portal do
Ministério da Educação informa que “zela pela educação infantil, pelo ensino
fundamental e pelo ensino médio”. Além disso, ressalta que a ‘educação básica é
o caminho para assegurar a todos os brasileiros a formação comum indispensável
para o exercício da cidadania e fornecer-lhes os meios para progredir no
trabalho e em estudos posteriores”.
Difícil,
entretanto, é observar esse “zelo” com a educação que, para muitos brasileiros,
tem valido bem menos do que um celular de baixa qualidade. O acesso à educação
básica é garantido constitucionalmente e, só isso! A garantia de continuidade,
políticas públicas de inclusão, investimento, participação social, avaliação
interna e externa, democratização do ensino em todas as esferas. Tudo. Isso.
Não. Funciona?
Um país
desigual como o Brasil, onde a população carente, a que mais precisa do Estado,
é incentivada a acreditar que não há desigualdade no país. Quando alguém quer,
chega lá. Dizem. A tal da meritocracia.
Um país em
que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), metade
dos trabalhadores brasileiros tem, em média, renda mensal 19,5% abaixo do
salário mínimo.
Não há
interesse da classe dominante, embora minoria, possibilitar educação de
qualidade para população. Não há interesse porque só com educação é possível
balançar estruturas. Confrontar, cobrar direitos, exercer a democracia e, como
o próprio MEC diz “assegurar a todos os brasileiros a formação comum
indispensável para o exercício da cidadania”.
A cidadania
que a maior parte da população vive hoje é a cidadania de quem sempre será
subjugado. Enquanto subjugado, cidadão. Não ouse estudar, não ouse se destacar.
Não ouse passar para medicina no lugar da minha filha que teve coleção de lápis
de cor da Faber Castell, um uniforme completo para cada dia da semana,
transporte escolar, alimentação impecável, professor de reforço, cursinho
pré-vestibular. Pare de roubar as nossas vagas. NAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS. Elas
nunca foram para vocês.
O outro lado,
talvez ainda mais perverso, é o discurso da meritocracia. Ele conseguiu. Tá
vendo? Acordava 3h da manhã, andava 30 quilômetros, descalço, escrevia na
parede da escola a tabuada. Comia farinha com água quando chegava em casa. Hoje
é juiz. Quando você quer, chega lá!
Apesar do
cenário desigual, o futuro pode ser ainda pior. Sai de cena a ideia de uma
educação “minimamente” baseada em Paulo Freire, mesmo que apenas no mundo
“ideal”. Para um ideal de Educação baseado em Escola Sem Partido e com pitadas
de Olavo de Carvalho.
O futuro
ministro da Educação, o colombiano Ricardo Vélez
Rodríguez, afirmou recentemente que “o
segundo grau teria como finalidade mostrar ao aluno que ele pode colocar em
pratica os conhecimentos e ganhar dinheiro com isso. Como os youtubers, ganham
dinheiro sem enfrentar uma universidade”.
Para
resumir: não
pensem. Trabalhem. Não nasceram para pensar.
A Educação que
queremos? Qualquer coisa diferente de tudo que tá aí, tá ok?
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