sábado, 1 de junho de 2019

EDUCAÇÃO QUE TEMOS, A QUE ALMEJAMOS E A QUE PROVAVELMENTE TEREMOS 

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                                                                                                      Renata Carvalhaes Meliga 

A sociedade contemporânea, alinhada com uma estrutura extremamente capitalista, sobrevive atualmente em uma dinâmica de trabalho para consumo. Consumo de absolutamente tudo, e a educação, pensada nessa e para essa estrutura, é a chave que abre a porta para a perpetuação dessa dinâmica desleal.
Um produto de qualidade custa caro. O que é “de graça”, geralmente não presta, dura pouco, tem pouco tempo de vida útil. O estranho é conseguirmos encaixar na premissa acima um produto, como um celular, ou a Educação brasileira.
O portal do Ministério da Educação informa que “zela pela educação infantil, pelo ensino fundamental e pelo ensino médio”. Além disso, ressalta que a ‘educação básica é o caminho para assegurar a todos os brasileiros a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes os meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”.
Difícil, entretanto, é observar esse “zelo” com a educação que, para muitos brasileiros, tem valido bem menos do que um celular de baixa qualidade. O acesso à educação básica é garantido constitucionalmente e, só isso! A garantia de continuidade, políticas públicas de inclusão, investimento, participação social, avaliação interna e externa, democratização do ensino em todas as esferas. Tudo. Isso. Não. Funciona?
Um país desigual como o Brasil, onde a população carente, a que mais precisa do Estado, é incentivada a acreditar que não há desigualdade no país. Quando alguém quer, chega lá. Dizem. A tal da meritocracia.
Um país em que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), metade dos trabalhadores brasileiros tem, em média, renda mensal 19,5% abaixo do salário mínimo.
Não há interesse da classe dominante, embora minoria, possibilitar educação de qualidade para população. Não há interesse porque só com educação é possível balançar estruturas. Confrontar, cobrar direitos, exercer a democracia e, como o próprio MEC diz “assegurar a todos os brasileiros a formação comum indispensável para o exercício da cidadania”.
A cidadania que a maior parte da população vive hoje é a cidadania de quem sempre será subjugado. Enquanto subjugado, cidadão. Não ouse estudar, não ouse se destacar. Não ouse passar para medicina no lugar da minha filha que teve coleção de lápis de cor da Faber Castell, um uniforme completo para cada dia da semana, transporte escolar, alimentação impecável, professor de reforço, cursinho pré-vestibular. Pare de roubar as nossas vagas. NAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS. Elas nunca foram para vocês.
O outro lado, talvez ainda mais perverso, é o discurso da meritocracia. Ele conseguiu. Tá vendo? Acordava 3h da manhã, andava 30 quilômetros, descalço, escrevia na parede da escola a tabuada. Comia farinha com água quando chegava em casa. Hoje é juiz. Quando você quer, chega lá!
Apesar do cenário desigual, o futuro pode ser ainda pior. Sai de cena a ideia de uma educação “minimamente” baseada em Paulo Freire, mesmo que apenas no mundo “ideal”. Para um ideal de Educação baseado em Escola Sem Partido e com pitadas de Olavo de Carvalho. 
O futuro ministro da Educação, o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, afirmou recentemente que “o segundo grau teria como finalidade mostrar ao aluno que ele pode colocar em pratica os conhecimentos e ganhar dinheiro com isso. Como os youtubers, ganham dinheiro sem enfrentar uma universidade”.
Para resumir: não pensem. Trabalhem. Não nasceram para pensar.
A Educação que queremos? Qualquer coisa diferente de tudo que tá aí, tá ok?

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