DIREITO A TRANSPORTE PARA TER DIREITO À EDUCAÇÃO: A SEGREGAÇÃO GEOGRÁFICA E A INEFICIÊNCIA DO TRANSPORTE URBANO DE BRASÍLIA
Victoria Italiano
Pra se falar de direito à educação é necessário passar
por outras prerrogativas que possibilitam o acesso a tal educação, uma dessas
prerrogativas é justamente o direito ao transporte, afinal, para ser educado, o
estudante tem que ser capaz de chegar a instituição de ensino. Para entender a
questão do direito à educação aliado ao direito de locomoção, faz-se necessário
um breve panorama da capital do país no que diz respeito à ocupação do espaço
geográfico e ao transporte urbano.
Brasília foi construída sob o signo do planejamento,
seus idealizadores objetivavam uma utopia, mas como a vida não se deixa regular
por planejamentos estanques, a cidade cresceu e cresceu em periferias, tracejada
pelas desigualdades sociais que se refletem na estrutura geográfica, fortemente
marcada pelo afastamento dos mais pobres, nas palavras do doutor em geografia,
Igor Catalão:
Para tentar manter o Plano Piloto
modernista [...] em que todos os segmentos sociais conviveriam harmonicamente,
o poder público tomou decisões e realizou ações que afastaram as classes baixas
para as periferias distantes, reproduzindo espacialmente a segregação social
[...] p. 45
Além da segregação geográfica, o direto ao acesso à
educação é fortemente prejudicado em Brasília pela ineficiência e má qualidade
do transporte público. Segundo o portal de notícias G1, um levantamento feito pelo instituto de
pesquisa americano Expert Market
apontou Brasília entre os 10 piores
sistemas de transporte público do mundo,
com uma média de 28 minutos de espera apenas para o embarque, considerando-se
também o tempo de viagem, por exemplo, de Ceilândia ao Plano piloto, em
horários não movimentados, o percurso dura cerca de 40 minutos, temos então uma
média de 1 hora e 10 minutos,
aproximadamente, das periferias ao centro.
Lavando em consideração a segregação geográfica, é
óbvio que, no planejamento urbano de Brasília, a universidade, uma instituição
de enorme relevância, seria posta no centro. A marginalização dos grupos menos
favorecidos passa também pela dificuldade de acesso aos níveis mais elevados do
ensino, pois, embora existam tentativas de descentralização da UnB, através da
construção de campi universitários em
cidades periféricas, a maior parte dos cursos ofertados ainda encontra-se
exclusivamente no Campus Darcy
Ribeiro, localizado no centro de Brasília.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em
seu artigo 5º, define o acesso à educação básica obrigatória como um direito
público subjetivo, devendo ser efetivado pelo Estado e podendo ser exigido
pelos cidadãos, umas das estratégias para a efetuação desse direito é
justamente a garantia de transporte para as crianças das redes públicas
estadual e municipal. O transporte dos alunos é uma obrigação legal, um direito
que subsidia a educação. A educação superior, por outro lado, não é um direito
público subjetivo, ou seja, o ensino superior é um direito adquirido por
meritocracia, mas uma vez adquirido, não deixa de ser um direito. Fazendo uso
da hermenêutica jurídica, poderíamos concluir, portanto, que a Universidade e a
esfera do poder público que a sustenta (seja o poder federal, estadual ou
municipal), tem um dever a cumprir para com o transporte dos alunos. Em
Brasília, esse dever tem sido efetivado por meio do passe livre estudantil e ,
na UnB, dos ônibus Intercampi, que
são meios falhos e cheios de problemas, mas que têm se mostrado como uma
alternativa viável à segregação sócio-geográfica que marca as relações sociais
da Capital do país. A educação que temos não entende que sem locomoção não há
educação, mas a educação que queremos será pautada na consciência de que para
sermos um sociedade minimamente evoluída, temos que compreender, entre outras
coisas, que qualidade de transporte é um direito exigido pela dignidade da
pessoa humana e educação é um dever, não apenas social, mas de caráter
transformador.
Bibilografia:
CATALÃO,
I. Brasília, metropolização e espaço
vivido: práticas especiais e vida quotidiana na periferia goiana da metrópole
[online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 156
p. ISBN 978-85-7983-105-8. Disponível em: <http://books.scielo.org>. Acesso
em: 27 de novembro de 2018
G1
Distrito Federal: notícias e vídeos da Globo. Brasília está entre os 10 piores sistemas de transporte público do
mundo. Disponível em:
<https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/brasilia-esta-entre-os-10-piores-sistemas-de-transporte-publico-do-mundo-diz-estudo.ghtml>
Acesso em: 27 de novembro de 2018
Planalto
— Governo do Brasil - Governo Federal. Lei
de Diretrizes e Bases da educação Nacional. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm> Acesso em: 27 de
novembro de 2018
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