sábado, 1 de junho de 2019

POR UMA EDUCAÇÃO ANTIFASCISTA E PELO OUTRO 

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Bárbara T. Andrade Soares 
A educação é impossível sem o Outro. A educação e impossível sem a escuta real e abertura ao Outro, um caminho de desencontro com as lógicas que orbitam o poder.
            Diante dos dados e cenários que observamos durante o semestre, dos números e parâmetros, dos modelos de avaliação, dos modos de acesso e das discrepâncias sociais, dos silenciamentos e das atitudes que se deslocam ao enclausuramento e à privação de ideias livres, uma imagem é capaz de ressoar como um possível que pode desencadear transformações: uma educação que se firme na abertura ao Outro, a todo e qualquer Outro. Uma abertura que só se assume possível ao nos afastarmos do que tanto se falou na última corrida política presidencial, que é um dos inimigos expostos pelo argumento de Foucault em “Anti- Édipo: Por uma vida não fascista”, prefácio da edição americana da obra de Deleuze e Guatarri, O Anti-Édipo: Capitalismo e esquizofrenia “, o fascismo.
            Se desde muito nos apegamos aos ideais de Freire em seus trabalhos por uma educação que liberte os trabalhadores de um projeto de eterna subalternização de si e da perda de suas subjetividades, ou mesmo, que desperte no indivíduo o impulso da construção autônoma do pensamento, não devemos nos esquecer, também, que a educação deve caminhar em direção ao pensamento do que ao adestramento moral e cognitivo, e que portanto, deve se propor a contestar toda e qualquer forma de extermínio das diferenças radicais que existem em todo Outro se dedicando, assim, a um exercício de austeridade infindável de não se deixar assombrar pelas figuras que ameaçam as estruturas de poder, de não deixar que elas existam enquanto assombro. E para tanto, a educação deve buscar se contrapor ao poder, inclusive, ao poder que nos ronda enquanto uma paixão nossa e nos aproximar do desejo enquanto um fluxo de transformação, entendê-lo enquanto um fluxo, que inclusive, conduz o movimento de fazer com que existir enquanto diferença não seja sinônimo da necessidade do apagamento, onde a padronização para o controle não se coloque como objetivo que cerceia de maneira simbólica a educação.
            Foucault, a partir de sua análise da obra de D & G, nos afirma que o fascismo que buscamos enfrentar não se trata apenas dos eventos históricos com Hitler e Mussolini, mas a ação de dominação e de expropriação que existe em cada um de nós, lutar contra os agenciamentos do fascismo significa, então, lutar para que as nossas condutas não sejam orientadas para o desejo de cerceamento e dominação, mas para a construção de devires que se oposicionam às estruturas de hierarquização e modelos estabelecidos para se representar.
            Toda a ação da educação deve, portanto, se inclinar à busca incessante de que as diferenças coexistam a fim de criar arranjos que se construam mobilizando espaços possíveis de sobrevivência e dignidade para os recalcitrantes, para que as formas que se encontram como contra a ordem de normalidade não sejam resignadas ao silenciamento, à higienização de suas estéticas, ou à existência enclausurada, buscando assim, “o banimento de todas as formas de fascismo, desde aquelas, colossais, que nos envolvem e nos esmagam, até as formas miúdas que fazem a amarga tirania de nossas vidas cotidianas”1, inclusive os fascismos mais residuais que nos impedem de diferir e massacram os devires Outro.
           
Referências:
1. FOUCAULT, Michel. “Anti- Édipo: Por uma vida não fascista”. Disponível em: http://clinicand.com/2018/03/29/anti-edipo-uma-introducao-a-vida-nao-fascista-foucault/.
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. “O anti-Édipo: Capitalismo e esquizofrenia 1”. São Paulo: Editora 34. 2011.


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