POR UMA EDUCAÇÃO ANTIFASCISTA E PELO OUTRO
Bárbara T. Andrade Soares
A educação é impossível sem o Outro. A educação e impossível sem
a escuta real e abertura ao Outro, um caminho de desencontro com as lógicas que
orbitam o poder.
Diante dos
dados e cenários que observamos durante o semestre, dos números e parâmetros,
dos modelos de avaliação, dos modos de acesso e das discrepâncias sociais, dos
silenciamentos e das atitudes que se deslocam ao enclausuramento e à privação
de ideias livres, uma imagem é capaz de ressoar como um possível que pode
desencadear transformações: uma educação que se firme na abertura ao Outro, a
todo e qualquer Outro. Uma abertura que só se assume possível ao nos afastarmos
do que tanto se falou na última corrida política presidencial, que é um dos
inimigos expostos pelo argumento de Foucault em “Anti- Édipo: Por uma vida não
fascista”, prefácio da edição americana da obra de Deleuze e Guatarri, “O Anti-Édipo: Capitalismo e esquizofrenia
“, o fascismo.
Se desde muito
nos apegamos aos ideais de Freire em seus trabalhos por uma educação que
liberte os trabalhadores de um projeto de eterna subalternização de si e da
perda de suas subjetividades, ou mesmo, que desperte no indivíduo o impulso da
construção autônoma do pensamento, não devemos nos esquecer, também, que a
educação deve caminhar em direção ao pensamento do que ao adestramento moral
e cognitivo, e que portanto, deve se propor a contestar toda e qualquer forma
de extermínio das diferenças radicais que existem em todo Outro se dedicando,
assim, a um exercício de austeridade infindável de não se deixar assombrar pelas
figuras que ameaçam as estruturas de poder, de não deixar que elas existam
enquanto assombro. E para tanto, a educação deve buscar se contrapor ao poder,
inclusive, ao poder que nos ronda enquanto uma paixão nossa e nos aproximar do
desejo enquanto um fluxo de transformação, entendê-lo enquanto um fluxo, que
inclusive, conduz o movimento de fazer com que existir enquanto diferença não
seja sinônimo da necessidade do apagamento, onde a padronização para o controle
não se coloque como objetivo que cerceia de maneira simbólica a educação.
Foucault, a
partir de sua análise da obra de D & G, nos afirma que o fascismo que
buscamos enfrentar não se trata apenas dos eventos históricos com Hitler e
Mussolini, mas a ação de dominação e de expropriação que existe em cada um de
nós, lutar contra os agenciamentos do fascismo significa, então, lutar para que
as nossas condutas não sejam orientadas para o desejo de cerceamento e
dominação, mas para a construção de devires que se oposicionam às estruturas de
hierarquização e modelos estabelecidos para se representar.
Toda a ação da
educação deve, portanto, se inclinar à busca incessante de que as diferenças
coexistam a fim de criar arranjos que se construam mobilizando espaços possíveis
de sobrevivência e dignidade para os recalcitrantes, para que as formas que se
encontram como contra a ordem de normalidade não sejam resignadas ao
silenciamento, à higienização de suas estéticas, ou à existência enclausurada,
buscando assim, “o banimento de todas as formas de
fascismo, desde aquelas, colossais, que nos envolvem e nos esmagam, até as
formas miúdas que fazem a amarga tirania de nossas vidas cotidianas”1,
inclusive os fascismos mais residuais que nos impedem de diferir e massacram os
devires Outro.
Referências:
1. FOUCAULT, Michel. “Anti- Édipo: Por uma vida não fascista”.
Disponível em:
http://clinicand.com/2018/03/29/anti-edipo-uma-introducao-a-vida-nao-fascista-foucault/.
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. “O anti-Édipo: Capitalismo
e esquizofrenia 1”. São Paulo: Editora 34. 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário