sábado, 1 de junho de 2019

QUAL É MESMO O CONCEITO DELA? 

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                                                                                                                 Sara Gomes Sampaio 

Em um time de futebol havia um atleta chamado Mário. Ele era casado e tinha dois filhos. Possuía um curso técnico em radiologia, nível básico em inglês e trabalhava em lugares aleatórios de vez em quando, já que seu trabalho fixo era ser atleta. Ele não possuía uma rotina e seu sonho de criança já não o movia como antes: ser um jogador de alto valor no mercado. Por vezes, crises emocionais o atingiam, afetando o seu relacionamento conjugal. O problema de Mário era que ele havia perdido o seu foco na vida. Não haviam metas a serem cumpridas.
Assim como a vida de Mário, a educação brasileira perdeu o seu foco nas últimas décadas. Diferente ao que aconteceu na Era Vargas - período em que surgiu o Plano Nacional de Educação (PNE) e foi assinado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova -, a atualidade revela uma anseio de melhora, mas completa confusão para a realização desse objetivo. O problema dos gestores da educação do Brasil é que eles perderam o foco. E mais, qual é mesmo o conceito de escola, diante de todas as mudanças realizadas por eles?
Tendo objetivos camuflados de doutrinação ou não, a falta de consistência nesse trabalho tão difícil e complexo revela uma gestão deficiente. A autoridade que deveriam portar não deve estar vinculada a organizações políticas, mas a uma desenvoltura imparcial e coerente, típica dos dirigentes democráticos e qualificados para tal atividade. O mínimo é saber definir com clareza qual o significado da escola e qual o seu foco. Metas para serem alcançadas devem partir de uma base sólida e da unidade de uma equipe. Diante de um país com proporções continentais, precisa-se ainda mais dessas virtudes para manter uma uniformidade de trabalho em toda a Federação.
 Entra nesse contexto a questão do financiamento, máquina propulsora da organização dessa instituição. A administração do dinheiro está na mão do Governo ou de empresas privadas. Logo, a fiscalização dessa administração é imprescindível. Muito do que deveria estar nas escolas está na bolsa dos governantes, ou infelizmente foi perdido no caminho? Consequentemente, a população mais rica investe na educação privada no qual reflete uma discrepância de qualidade quando comparado com as escolas públicas. No final das contas, quem se prejudica é o pobre, que perderá a vaga do ensino superior para o aluno de classe média que tem o mesmo direito que ele de receber ensino.
O significado da escola é, segundo Douglas Santos, o lugar onde se ensina e aprende a viver, onde se significa a humanidade e supera o status quo. Ambiente de pluralidades, influenciado pela comunidade que a rodeia, pela cultura local e necessidades da região. Objeto de modelagem do cidadão e de desenvolvimento das crianças. A escola é onde se constrói as primeiras relações interpessoais. Toda força tarefa deve ser direcionada para o fortalecimento dessas características, senão ela será deturpada.
É fulcral que nós, sociedade, avaliemos a escola que temos e a que queremos. Se não soubermos exatamente ambos os conceitos, não avançaremos. Assim como Mário, a escola será prejudicada pela falta do foco. A base sólida de uma meta é o entendimento das partes que a compõem. Conceitos básicos como educação, escola, federalismo, financiamento da educação e aprendizagem são essenciais.
As necessidades de cada escola vão variar, a despeito do mesmo escopo da instituição em todo o território nacional. Isso porque as populações variam em número, renda per capita e cultura. Todas, entretanto, devem suprir as necessidades básicas dos alunos, de outra forma não irão aprender ou permanecer durante 15 anos na escola. As prioridades são: socialização entre diferentes realidades, profissionais qualificados para o ensino das matérias básicas e a infraestrutura com os materiais a serem utilizados, estando disponíveis a todos. Esse último inclui alimentação, um campo de futebol, uma sala própria para ensino, banheiros, cadeiras, mesas, luz e água.
As necessidades de cada aluno também diferem dentro de um âmbito menor: a sala de aula. Segundo os estilos de aprendizagem - visual, auditivo e cinestésico -, as alunos devem receber uma aula no qual o aprendizado seja efetivo; para os adultos, as horas aulas e o turno devem ser adequados; os deficientes devem receber a orientação individual que sua dificuldade requer. Enfim, para cada público-alvo há um trabalho especializado.
Levando em consideração as dívidas históricas que o país tem com as suas minorias, a obrigatoriedade de acesso à escola deve ir além das crianças e adolescentes; devem ser resgatados os deficientes, jovens e adultos analfabetos (em todos os seus níveis), negros e indígenas. Então, pode-se afirmar que tal ambiente é de inclusão de todo cidadão, para que no presente momento e no seu futuro ele sempre tenha a justa capacidade de obter e suprir as suas necessidades básicas de sobrevivência: trabalho, ética cidadã, sociabilidade e inteligência emocional. Sim, a exigência do mercado vai variar com o passar do tempo, porém todos saberão daquilo que é indispensável para a vida, independente da sua condição. A dificuldade surge aqui, quando a escola se vê como responsável por suprir todas essas necessidades e de toda a população com pouco dinheiro no caixa e pulso frouxo de gestores desqualificados.
Se ao invés de elaborar um projeto de lei para que fossem estampados cartazes em todas as salas de aula com os deveres do professor, fossem expostos cartazes com o conceito básico da escola e suas metas a serem alcanças a curto, médio e longo prazo, seria mais fácil não perder o foco. A pergunta na qual os alunos e professores, diretores e secretários, coordenadores e todos os outros devem fazer é: o que eu posso fazer para a escola ser escola hoje? Por fim, não se precisaria perguntar qual o conceito da escola, pois isso já seria visto refletido nas decisões.

BIBLIOGRAFIA

Azevedo, Rodrigo. Revista Gazeta do Povo. A história da Educação no Brasil: uma longa jornada rumo à universalização. Disponível em: www.gazetadopovo.com.br/educação. Acessado em 25 de novembro de 2018.

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ. Semana pedagógica (segundo semestre). Estilos de Aprendizagem. Brasil, 2016.

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