O ILEGAL DISFARÇADO
Lucas Filemon
Tendo
em vista o Art. 205 da Constituição, é pontual que tenhamos como perspectiva
inicial, que há algo errado com o andar da carruagem da educação pública. Algo
que se estrutura afim de minar a presença das pessoas dentro de um ensino
regular e de se qualificarem para caminhar rumo seus objetivos. Como esse
movimento se articula dentro de algo que é um direito? Pois sabe-se que a
educação fundamental e média é garantida pelo Estado dos 4 aos 17 anos da
criança e do adolescente, o pressuposto legal é garantido, o que falta? Falta termos
em vista o mecanismo que faz a engrenagem da desigualdade do ensino girar, a
educação mercadológica, bancária (“baseado no pressuposto de que a memorização
de informações e sua posterior regurgitação representam uma aquisição de
conhecimentos que podem ser depositados, guardados e usados numa data futura”¹).
Alcançando esses pontos de vista, de que a presença das pessoas é garantida e
minada simultaneamente e que a metodologia de ensino é bancária, há necessidade
de abrir o leque desses pontos de vista, afim de entender como a educação se
move pelo tempo e os desafios possíveis das futuras pessoas que irão ingressar
no ofício de ensinar.
Aproximar
o olhar para noções estruturais, é com certeza, um exercício político que toda
e qualquer pessoa que almeje a carreira dentro do sistema de ensino, deve se
propor a fazer, afim de se deparar com a realidade do sistema burocrático e a
relação com a sala de aula, de descobrir o que é sentido e retido na
experiência de quem se capacitou para ensinar, experiência esta, que se dá
entre um maquinário de engrenagens burocráticas e a prática diária de educar
para a liberdade, para o conhecimento. Edifica-se uma estrutura vertical entre
o Estado, quem dá a aula e quem aprende. E o que teria de prejudicial na
estrutura estatal? Basicamente todo seu mecanismo, pois uma educação bancária
não nasce do nada, ela é produto de uma forma de pensamento, de como fazer algo
corretamente. Entretanto, nosso pensar correto nacional é hegemônico, o que
traz à tona algo que se enraíza na cultura, no comportamento e no método de
pensar enquanto pessoa e pessoa em sociedade.
Vivemos
em um Brasil de muitos ‘brasis’, é um país culturalmente racista, classista,
masculino e cristão. Um pensamento colonial que apenas se adaptou, mas a visão
de que esses são os quatro pés da mesa que tomamos nosso café todas as manhãs, é
fundamental para entendermos nossa posição como futuros educadores. Os alunos
já virão de casa com essa carga de experiência, de educação, do “correto”. É
dever de uma pessoa que educa para a liberdade do pensamento, saber como educar
sob essa base normativa. Mas como se elucida desmanchando o “correto”? Torna-se
um incômodo para as pessoas “corretas”, ouvir discursos políticos,
revolucionários, que dizem respeito a experiência de todos, não só de quem é “correto”,
mas de quem também é marginalizado, pois a presença em ambiente escolar de quem
é marginalizado, é uma presença revolucionária, pois aquela criança vai contra
todo o projeto Brasil, o projeto de sermos esterilizados de sentimento, de
experiência, de pluralidade de verdades, pois não vivemos um imaginário pessoal
e social que se abre pra interpretações e progresso. O que faz da presença de
alguém que ensina, um caminho para a transgressão, afim de tutelar a passagem
do conhecimento com radicalismo (para quebrar os paradigmas reducionistas e
limitadores), mas também amorosa, afim de receber a individualidade da criança
e do adolescente, saber como este apreende o conhecimento e seu modo de se
relacionar enquanto pessoa e enquanto individuo político que se relaciona.
Visando
os propósitos da educação como ferramenta libertadora, é pontual alegar que é
saudável para todas as partes, que as pessoas que escolherem tal carreira,
saibam receber todas as pessoas que estão ali para aprender e se socializar, de
uma forma homogênea, mas não hegemônica, acolhendo o que é de cada um e tentar
tecer com cada um e com todos, um retalho colaborativo de experiência e
desenvolvimento do pensamento e pertencimento que cada um pode ter em seu
processo com a educação.
___________________________________
¹
Hooks, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade/bell
hooks; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. – São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário