terça-feira, 11 de junho de 2019

O ILEGAL DISFARÇADO 

                                                                                   Lucas Filemon 

Tendo em vista o Art. 205 da Constituição, é pontual que tenhamos como perspectiva inicial, que há algo errado com o andar da carruagem da educação pública. Algo que se estrutura afim de minar a presença das pessoas dentro de um ensino regular e de se qualificarem para caminhar rumo seus objetivos. Como esse movimento se articula dentro de algo que é um direito? Pois sabe-se que a educação fundamental e média é garantida pelo Estado dos 4 aos 17 anos da criança e do adolescente, o pressuposto legal é garantido, o que falta? Falta termos em vista o mecanismo que faz a engrenagem da desigualdade do ensino girar, a educação mercadológica, bancária (“baseado no pressuposto de que a memorização de informações e sua posterior regurgitação representam uma aquisição de conhecimentos que podem ser depositados, guardados e usados numa data futura”¹). Alcançando esses pontos de vista, de que a presença das pessoas é garantida e minada simultaneamente e que a metodologia de ensino é bancária, há necessidade de abrir o leque desses pontos de vista, afim de entender como a educação se move pelo tempo e os desafios possíveis das futuras pessoas que irão ingressar no ofício de ensinar.
Aproximar o olhar para noções estruturais, é com certeza, um exercício político que toda e qualquer pessoa que almeje a carreira dentro do sistema de ensino, deve se propor a fazer, afim de se deparar com a realidade do sistema burocrático e a relação com a sala de aula, de descobrir o que é sentido e retido na experiência de quem se capacitou para ensinar, experiência esta, que se dá entre um maquinário de engrenagens burocráticas e a prática diária de educar para a liberdade, para o conhecimento. Edifica-se uma estrutura vertical entre o Estado, quem dá a aula e quem aprende. E o que teria de prejudicial na estrutura estatal? Basicamente todo seu mecanismo, pois uma educação bancária não nasce do nada, ela é produto de uma forma de pensamento, de como fazer algo corretamente. Entretanto, nosso pensar correto nacional é hegemônico, o que traz à tona algo que se enraíza na cultura, no comportamento e no método de pensar enquanto pessoa e pessoa em sociedade.
Vivemos em um Brasil de muitos ‘brasis’, é um país culturalmente racista, classista, masculino e cristão. Um pensamento colonial que apenas se adaptou, mas a visão de que esses são os quatro pés da mesa que tomamos nosso café todas as manhãs, é fundamental para entendermos nossa posição como futuros educadores. Os alunos já virão de casa com essa carga de experiência, de educação, do “correto”. É dever de uma pessoa que educa para a liberdade do pensamento, saber como educar sob essa base normativa. Mas como se elucida desmanchando o “correto”? Torna-se um incômodo para as pessoas “corretas”, ouvir discursos políticos, revolucionários, que dizem respeito a experiência de todos, não só de quem é “correto”, mas de quem também é marginalizado, pois a presença em ambiente escolar de quem é marginalizado, é uma presença revolucionária, pois aquela criança vai contra todo o projeto Brasil, o projeto de sermos esterilizados de sentimento, de experiência, de pluralidade de verdades, pois não vivemos um imaginário pessoal e social que se abre pra interpretações e progresso. O que faz da presença de alguém que ensina, um caminho para a transgressão, afim de tutelar a passagem do conhecimento com radicalismo (para quebrar os paradigmas reducionistas e limitadores), mas também amorosa, afim de receber a individualidade da criança e do adolescente, saber como este apreende o conhecimento e seu modo de se relacionar enquanto pessoa e enquanto individuo político que se relaciona.
Visando os propósitos da educação como ferramenta libertadora, é pontual alegar que é saudável para todas as partes, que as pessoas que escolherem tal carreira, saibam receber todas as pessoas que estão ali para aprender e se socializar, de uma forma homogênea, mas não hegemônica, acolhendo o que é de cada um e tentar tecer com cada um e com todos, um retalho colaborativo de experiência e desenvolvimento do pensamento e pertencimento que cada um pode ter em seu processo com a educação.
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¹ Hooks, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade/bell hooks; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. – São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013

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