A IMPORTÂNCIA DA IMPLEMENTAÇÃO DO ENSINO DE LIBRAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Camila Oliveira
Em
2002, a Língua de Sinais Brasileira foi considerada como a segunda língua
oficial do Brasil (AFFONSO, 2017), mas, ironicamente, a maior parte dos
brasileiros não é capaz de se comunicar usando LIBRAS. No censo do IBGE de
2010, aproximadamente 9,7 milhões de pessoas declararam ter algum tipo de
deficiência auditiva (GOV Brasil, 2017), o que equivale a quase 5% da população
total. Entretanto, o número de falantes de LIBRAS é ainda menor, visto que o
ensino desta não é obrigatório na educação básica. Recentemente, a disciplina
de LIBRAS tornou-se obrigatória nos cursos de licenciatura, com o objetivo de preparar
professores para se comunicar com alunos Surdos1. Entretanto, isso
não resolve o problema de socialização generalizado do Surdo, uma vez que estes
ainda encontram grandes desafios com acessibilidade, como assistir a palestras
e TV, comunicar-se em hospitais e até mesmo interagir fora de casa (GOV Brasil,
2017). Portanto, apesar de haver alguma resistência, principalmente por parte
do governo, a implementação do ensino de LIBRAS na educação básica se faz
urgente, visto que quebra o atual cenário de falsa inclusão do aluno Surdo, e
traz benefícios gerais para a sociedade como um todo, a qual será capaz de
melhor integrar e interagir com estas pessoas.
No
contexto escolar, o aluno Surdo normalmente interage apenas com os intérpretes
e com algumas pessoas que sabem pelo menos um pouco de libras, o que consequentemente
o exclui de situações de interação com os colegas de turma, pois estes, em sua
maioria, não sabem a língua. De acordo com Vygotsky (1984, apud KOLL, 2010), o desenvolvimento físico, afetivo e social se dá
por meio da interação. Desse modo, o aluno Surdo não tem a oportunidade de
participar de atividades grupais em sala de aula, o que evidentemente acarreta
em um déficit no seu desenvolvimento e aprendizagem. Em um artigo que visou realizar
entrevistas com intérpretes para esclarecer a importância da comunicação
surdo/ouvinte, foi observado que a convivência entre eles é essencial para a
quebra de preconceitos e para uma maior socialização do aluno surdo. Assim, o
papel da escola é atuar como mediadora para proporcionar a sensibilização dos
alunos ouvintes para o aprendizado da língua (da SILVA e GOMES, 2018 p. 78).
Os
benefícios da implementação do ensino de libras na educação básica não se
dariam apenas no âmbito escolar, mas também no âmbito sociocultural como um
todo. Com ela, haveria uma integração completa do surdo na sociedade, onde
seria possível evitar situações como a da professora de libras Renata Rezende,
que relata a dificuldade de se comunicar até mesmo em uma consulta médica:
“Às vezes, as palavras do
médico são muito técnicas, e isso fica muito confuso. Tenho de explicar para o
médico que eu consigo ler, ele tem de escrever para mim. Ele pode passar um
remédio que eu tenha algum tipo de alergia, eu tenho de ter bastante atenção.
Uma atenção sempre redobrada quando eu vou ao hospital e principalmente nesse
âmbito da saúde. ” (Governo do Brasil, 2017)
Além disso, seria
possível observar mais cenas como a que Júlio Mafra, aluno de Geografia da UnB,
presenciou, durante uma partida de futebol, na qual o time adversário era
inteiramente composto por falantes de libras. Durante uma conversa informal de
WhatsApp, Júlio relatou:
“Foi algo novo, nunca tive um
contato tao próximo com um grupo de pessoas deficientes auditivas que se
comunicavam por meio de libras. Mesmo jogando um esporte como o futebol, eles
tinham sua forma de comunicar rápida e sucinta. Fiquei muito interessado nos
sinais de libras, e me senti meio mal por não conseguir me comunicar direito.
Isso foi em 2014 por aí, ja faz tempo, e até hoje não tive um contato mais
aprofundado com esse tipo linguagem. ”
Portanto, o
contato com a língua proporciona não somente a integração, mas também o
interesse pelo aprendizado da mesma (da SILVA e GOMES, 2018 p. 78), o que
resulta numa maior probabilidade de haverem mais intérpretes no futuro,
resolvendo o problema latente da falta desses profissionais.
Em
resumo, o ensino de libras na educação básica é um tema que deve ser debatido
urgentemente, visto que afeta imensamente a qualidade de vida desse grupo
social, que muitas vezes é negligenciado pelo Estado. Apesar de haverem dificuldades para a
implementação, como por exemplo a falta de profissionais qualificados, há
alguns casos que mostram que com certo esforço, torna-se é possível. É o caso
de algumas escolas municipais de Rio Branco, que já começaram a ofertar a
disciplina de libras em 2013, através do projeto Escola Acessível, estabelecido
através de uma parceria entre o Ministério Público e a Secretaria Municipal de
Educação. Portanto, tomando os passos certos, é possível proporcionar uma
melhor qualidade de vida e aprendizagem para muitos alunos e seguir o que a
constituição prega:
“que o ensino será ministrado com base em princípios
da igualdade, o que significa incluir todos cidadãos e oferecer atendimento
diferenciado aos que tem necessidades educativas especiais” (SABERES e
PRÁTICAS, 2006 apud TONDINELLI, 2016).
Referências:
https://institutoitard.com.br/o-tradutor-interprete-de-libras-e-suas-dificuldades-no-ambito-da-sala-de-aula-inclusiva/
Acesso em 30/11/18
http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2016/09/apesar-de-avancos-surdos-ainda-enfrentam-barreiras-de-acessibilidade.
Acesso em 30/11/18
KOLL, Marta de
Oliveira. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: um processo
sócio-histórico.
São Paulo: Scipione, 2010.
Da SILVA, Claudio
Nei Nascimento e GOMES, Karla Viviane. A relação Surdo-ouvinte e seu impacto na
inclusão de estudantes surdos: Um estudo a partir da percepção de intérpretes
de libras. Brasília: Educação, Artes e Inclusão, 2018.
TONDINELLI, Maria
Ozana and BLANCO, Marília Bazan. Noções básicas de LIBRAS para alunos ouvintes.
Paraná: Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor
PDE. Vol. 1, 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário