sábado, 1 de junho de 2019



A IMPORTÂNCIA DA IMPLEMENTAÇÃO DO ENSINO DE LIBRAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA 

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                                                                                                                         Camila Oliveira 

Em 2002, a Língua de Sinais Brasileira foi considerada como a segunda língua oficial do Brasil (AFFONSO, 2017), mas, ironicamente, a maior parte dos brasileiros não é capaz de se comunicar usando LIBRAS. No censo do IBGE de 2010, aproximadamente 9,7 milhões de pessoas declararam ter algum tipo de deficiência auditiva (GOV Brasil, 2017), o que equivale a quase 5% da população total. Entretanto, o número de falantes de LIBRAS é ainda menor, visto que o ensino desta não é obrigatório na educação básica. Recentemente, a disciplina de LIBRAS tornou-se obrigatória nos cursos de licenciatura, com o objetivo de preparar professores para se comunicar com alunos Surdos1. Entretanto, isso não resolve o problema de socialização generalizado do Surdo, uma vez que estes ainda encontram grandes desafios com acessibilidade, como assistir a palestras e TV, comunicar-se em hospitais e até mesmo interagir fora de casa (GOV Brasil, 2017). Portanto, apesar de haver alguma resistência, principalmente por parte do governo, a implementação do ensino de LIBRAS na educação básica se faz urgente, visto que quebra o atual cenário de falsa inclusão do aluno Surdo, e traz benefícios gerais para a sociedade como um todo, a qual será capaz de melhor integrar e interagir com estas pessoas.
No contexto escolar, o aluno Surdo normalmente interage apenas com os intérpretes e com algumas pessoas que sabem pelo menos um pouco de libras, o que consequentemente o exclui de situações de interação com os colegas de turma, pois estes, em sua maioria, não sabem a língua. De acordo com Vygotsky (1984, apud KOLL, 2010), o desenvolvimento físico, afetivo e social se dá por meio da interação. Desse modo, o aluno Surdo não tem a oportunidade de participar de atividades grupais em sala de aula, o que evidentemente acarreta em um déficit no seu desenvolvimento e aprendizagem. Em um artigo que visou realizar entrevistas com intérpretes para esclarecer a importância da comunicação surdo/ouvinte, foi observado que a convivência entre eles é essencial para a quebra de preconceitos e para uma maior socialização do aluno surdo. Assim, o papel da escola é atuar como mediadora para proporcionar a sensibilização dos alunos ouvintes para o aprendizado da língua (da SILVA e GOMES, 2018 p. 78).
Os benefícios da implementação do ensino de libras na educação básica não se dariam apenas no âmbito escolar, mas também no âmbito sociocultural como um todo. Com ela, haveria uma integração completa do surdo na sociedade, onde seria possível evitar situações como a da professora de libras Renata Rezende, que relata a dificuldade de se comunicar até mesmo em uma consulta médica:

“Às vezes, as palavras do médico são muito técnicas, e isso fica muito confuso. Tenho de explicar para o médico que eu consigo ler, ele tem de escrever para mim. Ele pode passar um remédio que eu tenha algum tipo de alergia, eu tenho de ter bastante atenção. Uma atenção sempre redobrada quando eu vou ao hospital e principalmente nesse âmbito da saúde. ” (Governo do Brasil, 2017)

Além disso, seria possível observar mais cenas como a que Júlio Mafra, aluno de Geografia da UnB, presenciou, durante uma partida de futebol, na qual o time adversário era inteiramente composto por falantes de libras. Durante uma conversa informal de WhatsApp, Júlio relatou:

“Foi algo novo, nunca tive um contato tao próximo com um grupo de pessoas deficientes auditivas que se comunicavam por meio de libras. Mesmo jogando um esporte como o futebol, eles tinham sua forma de comunicar rápida e sucinta. Fiquei muito interessado nos sinais de libras, e me senti meio mal por não conseguir me comunicar direito. Isso foi em 2014 por aí, ja faz tempo, e até hoje não tive um contato mais aprofundado com esse tipo linguagem. ”

Portanto, o contato com a língua proporciona não somente a integração, mas também o interesse pelo aprendizado da mesma (da SILVA e GOMES, 2018 p. 78), o que resulta numa maior probabilidade de haverem mais intérpretes no futuro, resolvendo o problema latente da falta desses profissionais.
Em resumo, o ensino de libras na educação básica é um tema que deve ser debatido urgentemente, visto que afeta imensamente a qualidade de vida desse grupo social, que muitas vezes é negligenciado pelo Estado.  Apesar de haverem dificuldades para a implementação, como por exemplo a falta de profissionais qualificados, há alguns casos que mostram que com certo esforço, torna-se é possível. É o caso de algumas escolas municipais de Rio Branco, que já começaram a ofertar a disciplina de libras em 2013, através do projeto Escola Acessível, estabelecido através de uma parceria entre o Ministério Público e a Secretaria Municipal de Educação. Portanto, tomando os passos certos, é possível proporcionar uma melhor qualidade de vida e aprendizagem para muitos alunos e seguir o que a constituição prega: 

“que o ensino será ministrado com base em princípios da igualdade, o que significa incluir todos cidadãos e oferecer atendimento diferenciado aos que tem necessidades educativas especiais” (SABERES e PRÁTICAS, 2006 apud TONDINELLI, 2016).

Referências:
https://institutoitard.com.br/o-tradutor-interprete-de-libras-e-suas-dificuldades-no-ambito-da-sala-de-aula-inclusiva/ Acesso em 30/11/18
http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2016/09/apesar-de-avancos-surdos-ainda-enfrentam-barreiras-de-acessibilidade. Acesso em 30/11/18
KOLL, Marta de Oliveira. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: um processo
sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 2010.
Da SILVA, Claudio Nei Nascimento e GOMES, Karla Viviane. A relação Surdo-ouvinte e seu impacto na inclusão de estudantes surdos: Um estudo a partir da percepção de intérpretes de libras. Brasília: Educação, Artes e Inclusão, 2018.
TONDINELLI, Maria Ozana and BLANCO, Marília Bazan. Noções básicas de LIBRAS para alunos ouvintes. Paraná: Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE. Vol. 1, 2016.

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