A AUTONOMIA DE PAULO FREIRE NA CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO CRÍTICO E A ESCOLA SEM PARTIDO
Maria Cecília Ribeiro
Baseando-se em Paulo Freire (1996), uma pedagogia autônoma diz
respeito à maneira em que se pensa e vivencia a prática e à reciprocidade entre
o aluno e o professor de ensinar e aprender simultaneamente e conjuntamente.
Dessa forma, é importante que o professor seja um desafiador, indagador
e que apresente possibilidades aos seus educandos, que por sua vez necessitam
de envolvimento e pensamento crítico acerca da realidade em que vive. Para
isso, segundo o autor, é necessário que haja curiosidade e inquietação, não se
satisfazendo ao habitual e assim formando o pensamento crítico.
Por outro
lado, pode-se considerar que a educação brasileira que temos encontra diversos
desafios pelo caminho antes de tornar-se de fato autônoma e emancipadora. Conforme
visto em sala de aula, atualmente há um projeto de lei n.867/2015 nomeado
“Programa Escola Sem Partido” que, falando superficialmente, pauta a
responsabilidade da educação moral, religiosa e sexual como ordenação familiar
e decreta a neutralidade do professor em relação a posições políticas e
ideológicas por considerar a “vulnerabilidade do educando como parte mais fraca
na relação de aprendizagem” * e o professor como doutrinador, o que pode vir a
engessar a educação, impossibilitando a autonomia defendida nesse texto.
No livro Pedagogia da Autonomia,
Paulo Freire (1996) defende ser indubitável entender que a educação não é
puramente a transferência de conhecimentos, mas possibilitar que o outro pense
e construa. Em função disso, é importante considerar o impacto do projeto Escola
Sem Partido dentro de sala de aula que, conforme estudado, tem o intuito não de
neutralizar, mas de implementar uma única ideologia, o que é extremamente
perigoso porque para o desenvolvimento do pensamento crítico é importante que o
educador apresente todos os lados e todas as ideologias. Para isso, o autor defende
a autonomia dos docentes, o que consequentemente sobrepõe a ideia de tal
projeto e que fica explicito no trecho “[...] Daí a impossibilidade de vir a
tornar-se um professor crítico se, mecanicamente memorizador, é muito mais um
repetidor de frases e de ideias inertes do que um desafiador [...]” (FREIRE,
1996, p. 14), o que atesta que o professor em condição de crítico transformador
e não unicamente de transmissor de conhecimento, precisa ir além de um discurso
pronto, empoderando-se de argumentos que inquietam os educandos, instigando
suas curiosidades, suas vontades de conhecer e expressar-se, os influenciando a
serem críticos.
Em suma, é almejado que a educação
brasileira seja autônoma e emancipadora, possibilitando que os professores e os
alunos possam levantar questões, debater ideias e que seja respeitada a
diversidade ideológica que existe dentro e fora do ambiente escolar. Dessa
forma, não é limitando conteúdos e posicionamentos que se alcançará o
pensamento crítico, dado que ensinar não é apenas
um roteiro pronto, mas que influi na maneira em que o docente vai abordar e
direcionar o saber, sendo capaz de produzir conhecimentos críticos e apresentar
diferentes ideologias com poder de transformar a realidade, portanto é importante que se
abra espaço para as diferenças e inquietações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n.867/2015. Disponível
em: < http://www.camara.gov.br/sileg/integras/1317168.pdf>
Acesso em: 05 fev. 2019
Escola Sem Partido. Escola
Sem Partido. Disponível em: <http://www.escolasempartido.org/>
Acesso em: 05 fev. 2019
FREIRE, P. Pedagogia
da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 1996.
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