DA DITADURA À REDEMOCRATIZAÇÃO: A CENSURA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA CONTEMPORANEIDADE
Yasmin de Araújo Chagas
Em 1964, o Brasil sofreu um golpe
militar, fomentado em grande parte pela política externa dos Estados Unidos que
visava o “combate à ameaça comunista”, tendo em vista a expansão soviética e a
chegada da revolução socialista em Cuba. O Congresso fora fechado, foi decretado
estado de sítio, e a liberdade de expressão passou a ser controlada por órgãos
criados pelos militares. Nesse contexto de repressão, a educação brasileira foi
brutalmente atacada e o clima nas escolas e universidades era de pura
insegurança.
É de amplo conhecimento que
disciplinas que instigam a reflexão e a criticidade foram retiradas das grades
curriculares, como filosofia e sociologia, sendo substituídas por matérias que
ensinavam moral e patriotismo (educação moral e cívica). Também a história foi
vitimada, haja vistas que muitos conteúdos foram retirados ou modificados para
não fugir à ordem que era pregada pelos militares. Diversas universidades foram
fechadas, a UnB foi uma delas, os movimentos estudantis foram fortemente
reprimidos e muitos militantes em prol de uma educação de qualidade e que
promovesse a libertação das ideias foram torturados e mortos, bem como
docentes, que tinham que conviver, muitas vezes, com agentes das delegacias de
combate às ditas práticas subversivas disfarçados nas salas de aulas e entre o
corpo docente.
1985 foi considerado um marco para a
redemocratização, e em 1988 a nova Constituição deu boas expectativas em
relação a educação, trazendo artigos que garantem a sua gratuidade, qualidade e
o dever do Estado em provê-la. Também garante que todas as ideias podem e devem
ser compartilhadas em sala de aula, e devem ser toleradas as diferentes
posições morais ou ideológicas, sem perseguição ou discriminação.
Mas o que se nota em pleno 2018 é um
clima de insegurança que remete ao período ditatorial. A existência de
movimentos como o Escola sem Partido e a posterior ameaça de projetos de lei
que seguem o mesmo teor taxativo demonstram que o 1964 está para voltar para a
educação. Se naquela época eram colocados agentes disfarçados em sala, no
presente esta polícia não se esconde: ela é representada por alunos com
filmagens de ações “subversivas”, que são apoiados por políticos que se dizem
sem partido, mas que claramente tomam para si os preceitos de uma direita
reacionária e inconformada com a difusão e debate das novas ideias. O 1964 está
mascarado pela neutralidade e abandono de conteúdos que não entrem em
consonância com valores familiares e religiosos, está à espreita a cada
referência que se faz das minorias, de Karl Marx, ou das ideias consideradas
“esquerdistas e doutrinadoras”. Qual o rumo tem tomado a educação brasileira?
O que se espera é uma educação de
qualidade, mas sem restringir a liberdade de expressão e disseminação de
ideias, independentemente de seu lado. Talvez a proposta que deva ser feita não
é a favor de uma neutralidade, já que ela não existe, mas sim de uma igual
apresentação das visões por mais divergentes que sejam, o que já é feito por
grande parte dos professores da rede pública e constatado pelos próprios
alunos. Além de ser um direito do professor, o de expressar o pluralismo de
ideias (e não apresentação de somente uma, a “neutra”), é um direito do aluno
de aprender sobre elas, e seu dever exigir que elas tenham espaço. A ideia de
perseguir massivamente os professores em detrimento de apartidarismo é tão
absurda quanto a ideia de retirar matérias críticas e reflexivas.
A educação brasileira tem suas
fragilidades e defeitos, e muito ainda se deve trabalhar por ela e para ela,
mas quando se pensa na ideia de ser coibido por quem deveria ter sede de
conhecer, ela torna-se nada atrativa. A educação deve libertar a todos, a não
instaurar o medo e a repressão. Não é admissível que essa ferramenta de
transformação social retorne à escuridão que a dominou de 1964 até 1985.
Referências:
https://epoca.globo.com/escolas-universidades-se-tornam-trincheiras-de-polarizacao-vigilancia-23261686
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