POR UMA TRANSFORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Isabela Carolina Lopes
Evasão escolar, investimentos insuficientes, desvalorização
dos profissionais do ensino básico, envolvimento fraco dos estudantes nas
atividades e ambiente escolares, descompasso entre conteúdos curriculares e
demandas oriundas da vida prática por significado e sentido: estes são alguns
dos atuais problemas que devem ser superados pelo sistema educacional
brasileiro de forma que seus resultados se aproximem daqueles esperados de um
sistema formativo que prepare a juventude para o engajamento social, que a capacite profissionalmente, que cultive
nela a capacidade crítica e artística, que a permita desenvolver e vazar,
enfim, todo seu potencial humano de criação.
O ensino de história pode cumprir um papel determinante na
realização deste modelo educacional que oferece aos indivíduos condições de
construção e afirmação de auto percepções individuais e coletivas que os
permita participarem da vida em sociedade criticamente, atuando em favor da
conquista de direitos e contra injustiças sociais. A interpretação do passado
realizada pelo pensamento histórico é capaz de informar aos sujeitos do
presente o contexto em que se dão suas ações cheias de intenção, isto é,
esclarece as origens do presente de forma que este possa ser transformado por
ações refletidas e planejadas. O ensino de história apto a desmascarar lugares
de poder tradicionalmente fixados é representativo do modelo geral de ensino
crítico e transformador do qual o Brasil carece de modo a curar antigas, mas
persistentes feridas, tais como a miséria, a desigualdade social, a corrupção,
o patrimonialismo, a violência e o racismo.
As feridas mencionadas constituem elas mesmas obstáculos à
estruturação de um modelo de ensino público que prepare os estudantes para o
pleno exercício da cidadania, relevando-se fatores perpetuadores dessa
realidade social cruel e violenta. Será possível educar uma população que sente
fome sem poder saciá-la; que deseja estudar, mas não pode pagar pelo
transporte; que acredita na importância dos estudos, mas que precisa arrumar logo
um trabalho e ajudar a pagar as contas da casa; que paga caro e sustenta uma
estrutura estatal incapaz de garantir médicos nos postos, professores nas
escolas, segurança nas ruas e justiça nos tribunais?
Como foi dito, o ensino de história está habilitado a
cumprir um papel fundamental na reversão
desse contexto pleno de adversidades. A aprovação da lei 10.639, em 2003, que
torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em
todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino
médio, abre caminhos para a reflexão
e reescrita da história do Brasil, colocando novos atores sociais em cena, viabilizando
a aproximação dos problemas da história das contradições sociais cotidianas
enfrentadas pela população principalmente de periferia que atende às escolas
públicas.
O desinteresse dos estudantes é mais resultado que causa do
fracasso da educação brasileira em formar cidadãos aptos a exercerem seus
direitos e seres humanos capazes de apreciar e produzir beleza, arte e cultura.
Mesmo assim, se cada um dos interessados em fazer
a educação brasileira dar certo se doasse ao processo de fazê-la dar
certo, isto é, se os estudantes, os professores, a família, a comunidade de
pessoas que contam com os serviços oferecidos pela escola participasse de sua
gestão e acompanhasse seu calendário de atividades,
por exemplo, a tarefa de reverter a situação atual do ensino pareceria menos árdua. Enquanto a transformação da
sociedade brasileira couber apenas a entidades despersonalizadas tais como o
Estado, o Governo e os Políticos, pouco será modificado. O impulso por
transformações radicais deve vir de nós: trabalhadores, cidadão comuns, primeiros interessados no sucesso
da educação brasileira.
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